Executivos da empresa holandesa SBM Offshore tiveram acesso a informações sigilosas sobre negócios da Petrobrás, segundo informa o jornal O Estado de S. Paulo. Acusado de pagar propina a empregados da estatal, o ex-representante da empresa no Brasil, Julio Faerman, repassou a altos funcionários na Europa o conteúdo de documentos internos sobre questões estratégicas da companhia petrolífera.

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Conforme o relatório de investigação da Petrobrás, sobre o caso, obtido pelo Estadão em junho de 2009, Faerman enviou para o diretor da SBM, Michael Wyllie, um e-mail com o conteúdo de documento interno. Entre as informações, solicitava à Diretoria Executiva da Petrobrás autorização para contratar serviços na unidade de liquefação de gás natural embarcada (GNLE), em dois blocos do pré-sal, na Bacia de Santos.

Em outro e-mail, intitulado “Confidencial”, de outubro de 2010, Faerman informou à Francis Blanchelande, chefe da área operacional da SBM, a decisão da diretoria de contratar uma embarcação da empresa McDermott. Na mensagem, anexou um documento interno da área de Exploração e Produção de Petróleo da Petrobrás, responsável pelos contratos de afretamento.

Em abril de 2011, o executivo Jean-Phillipe Laures enviou ao CEO da SBM, Tony Mace, e outros dois altos funcionários da empresa, o Plano Diretor do Pré-Sal, aprovado pela Diretoria Executiva da empresa havia um mês.

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As trocas de mensagens foram selecionadas pela SBM e apresentadas à comissão destacada pela Petrobrás para investigar as denúncias de suborno. No relatório final dos trabalhos, a estatal registra a existência de “informações confidenciais” entre documentos internos da SBM.

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– Ainda que não hajam evidências de que tenham sido obtidas por meio de pagamentos a empregados da Petrobrás (…). Não foi possível identificar o responsável por fornecer informações nos documentos internos – concluiu a equipe.

Mesmo sendo um dos autores dos e-mails, Faerman, disse não saber como os documentos poderiam estar na SBM e negou que passava informações privilegiadas à empresa.

Funcionários da SBM, que também abriram investigações sobre a denúncia, descreveram Faerman como um representante que tinha contatos “high level” (de alto nível) à equipe de investigação da Petrobrás. Entre os diretores mais procurados estão José Antônio de Figueiredo, da Engenharia, Tecnologia e Materiais; e Rento de Souza Duque, que chefiou a área de Serviços até abril de 2012.

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Renato foi visitado ao menos 30 vezes por representantes de SBM entre 2005 e 2011, embora tenha relatado, em entrevista, a “baixa frequência de contatos”.

– Duque informou que recebia muitas visitas de empresas, mas que da SBM foram poucas – diz o relatório da estatal.

Procurada, a SBM não se pronunciou sobre o vazamento de informações. À equipe da estatal, relatou ter detectado “red flags” (bandeiras vermelhas” nos negócios de Faerman, a exemplo dos valores altos pagos, a título de “comissões” pela obtenção de contratos às empresas dele, no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas. Contudo, informou não ter prova de suborno na companhia petrolífera brasileira. A reportagem não localizou Faerman e seus representantes.