Nas duas últimas semanas, as prisões por corrupção em Palhoça colocaram em xeque a relação da Águas de Palhoça, a autarquia municipal, e a empresa privada prestadora do serviço, a Raiz Soluções.
Continua depois da publicidade
Documentos obtidos com exclusividade pelo DC mostram que as negociatas de agora, em que o Ministério Público flagrou propinas que alcançariam R$ 280 mil para renovação do contrato sem licitação, são antecedidas por série de irregularidades na contratação.
Os negócios entre a Raiz e a Águas de Palhoça são alvo de suspeitas desde 2007, ano que a gestão do então prefeito Ronério Heiderscheidt (PMDB) rompeu com a Casan e municipalizou o serviço. Os contratos são milionários: desde 2007 as cifras pagas podem ultrapassar R$ 70 milhões.
Hoje, a Raiz recebe R$ 900 mil mensais. Esse dinheiro sai do bolso do consumidor – a cidade tem 137.334 habitantes – e vai primeiro para a conta da Águas de Palhoça, que tem faturamento mensal de R$ 2,5 milhões mensais. Depois, é repassado para a Raiz.
Continua depois da publicidade
O valor restante do faturamento do sistema fica com a Águas, que tem em caixa R$ 18 milhões, cujos recursos só podem ser aplicados em melhorias próprias.
Relatório técnico dos auditores do Tribunal de Contas do Estado (TCE) encontrou indícios de emergência fabricada para a contratação da Raiz sem licitação desde 2007, falta de justificativas para a escolha e superfaturamento dos preços dos serviços.
A apuração também observou falta de qualificação técnica pela Raiz. Constatou ainda que serviços previstos no objeto da concorrência são distintos para serem agrupados em uma mesma licitação.
Continua depois da publicidade
A auditoria analisou licitações e contratos da administração municipal entre 2010 e 2011, mas até agora não entrou na pauta do pleno do TCE. O tribunal explica que no último ano 12 pessoas foram ouvidas e vários dos envolvidos pediram um pouco mais de prazo para se manifestar.
Os técnicos estão reanalisando o material para elaborar a versão final do relatório e encaminhá-lo ao Ministério Público de Contas. Então, o caso irá para o relator, o auditor Gerson dos Santos Sicca.
Em Palhoça, a Raiz oferece desde controle de potabilidade da água, cálculo e entrega da fatura, a gerenciamento de software e reparo de vazamentos na rede.
Continua depois da publicidade
A empresa tem 24 contratos em 26 cidades catarinenses e o tribunal investiga o caso em Joinville (veja o quadro). Na auditoria realizada em Palhoça, o TCE observa que esses serviços deveriam ser prestados por várias empresas, como prevê a lei das licitações (8.666) para melhor aproveitamento dos recursos no mercado e competitividade.
São irregularidades e denúncias como essas que o Ministério Público de Santa Catarina busca comprovar. Pelo menos desde 30 de novembro do ano passado há investigação em andamento. As mais graves são tratadas como negociatas e pagamentos de propinas.
O que disse a empresa Raiz:
A sede da Raiz fica em São José, na Rua Koesa, no Kobrasol, endereço que foi alvo de buscas pelo Ministério Público. O DC não conseguiu contatos com os representantes da empresa nem com o advogado de defesa, na sexta-feira.
Continua depois da publicidade
O que disse o ex-prefeito Ronério Heiderscheidt:
“Quando municipalizamos, o objetivo sempre foi imprimir um choque de gestão no serviço de água e esgoto para acompanhar o crescimento de Palhoça. Afinal, o municipio de 2005 a 2012 saiu de um orçamento de R$ 40 milhões para R$ 400 milhões, atraindo mais de 7 mil novos empreendimentos nesse período. Quanto aos apontamentos do TCE, quando existentes, sempre determinei que a nossa equipe técnica e juridica buscasse discutir e solucionar, pessoalmente, junto aos técnicos do TCE as eventuais restrições para sua devida regularização, visando a transparência e a legalidade em todo processo”.