31 de dezembro, 23h55min, Beira-Mar Norte de Florianópolis. Enquanto uma multidão ansiosa procura no meio da rua um espaço para não perder o show de fogos da virada, o principal responsável pela complexa operação assiste a tudo tranquilamente. Marcelo Kokote Andrade, 39 anos, é um dos proprietários da Vision Show Group, empresa sediada em Paulo Lopes e incumbida da missão de colorir o Réveillon da Capital nos últimos sete anos.
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Os momentos de tranquilidade do blaster, o responsável pela preparação e ativação correta dos explosivos, são resultado de um trabalho iniciado meses antes, quando quase mais ninguém está pensando nas festas de fim de ano.
Na véspera do Ano-Novo, os fogos estão todos preparados para serem detonados e o trabalho que ainda resta é mínimo: fazer os últimos testes da parte eletrônica, botar as balsas de metal na água, carregá- las com os explosivos e levar tudo até o local onde as bombas serão explodidas, a cerca de 400 metros da orla.
– Toda a ativação dos fogos é pré-programada. No dia 31 de dezembro não resta muita coisa para fazer. Trabalhamos pelo show durante meses, tem que estar tudo pronto dias antes para passar nas vistorias dos bombeiros e da Capitania dos Portos – explica Andrade.
Embora sua presença não seja exatamente indispensável durante a virada, o pirotécnico faz questão de observar de perto tudo o que consegue. Na última quarta-feira, Andrade foi para o Rio de Janeiro acompanhar os preparos finais e as vistorias do show de inauguração de uma das maiores árvores de Natal flutuante do mundo, neste sábado. Outros blasters poderiam cuidar do serviço, mas a presença do dono costuma dar mais confiança aos bombeiros e aos patrocinadores do espetáculo.
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– A pirotecnia virou uma engenharia, hoje tudo é feito por computadores e acaba sobrando mais espaço para a parte artística. Como não é possível testar os fogos na hora do show, um programador faz as simulações antes mesmo de começarmos a montar a estrutura, e por isso podemos montar o show que quisermos.
Empresa atua em Santa Catarina desde 2008
Quando o curitibano Marcelo Andrade começou a trabalhar com fogos de artifício, em 1994, apenas acompanhava um amigo cujo pai era pirotécnico na capital paranaense. Em 2001, ele abriu o próprio negócio com um colega em Porto Alegre, e a empresa se expandiu para SC em 2008. Como o espaço necessário para se armazenar e montar explosivos é grande demais, optou-se pela área industrial de Paulo Lopes, a cerca de 100 metros da BR-101.
A mudança funcionou bem, e hoje a sede da Vision Show se mudou para a Grande Florianópolis: os fogos ficam em Paulo Lopes e o escritório onde recebem clientes e fazem as programações fica no Estreito, na região continental da Capital.

Quando as datas dos shows se aproximam, boa parte do trabalho já está feita. Marcelo Andrade, na foto, supervisiona a preparação e coordena os shows.
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Foto: Daniel Conzi/Agência RBS
No terreno onde a Vision Show guarda os explosivos e prepara os shows pirotécnicos, alguns trabalhadores serram tubos de fibra para deixá-los do tamanho certo. Outras centenas de tubos já estão montados na posição de disparo, vazios, esperando apenas para serem preenchidos com os fogos. Quando a data dos shows se aproximam, boa parte do trabalho já está feita, restando apenas botar as bombas de diversos calibres e cores nos recipientes.
– Os fogos são enrolados com um plástico e estão preparados para aguentar a chuva forte, eles precisam suportar o pior tempo possível. Se fizer um dia bonito, estamos no lucro – brinca Andrade.
Fogos vêm dos EUA, Espanha e China
No ano passado, os sócios da Vision e uma equipe de pirotécnicos estiveram no Canadá para participar do festival Celebration of Light, realizado anualmente em Vancouver. Foram feitas duas apresentações, uma na própria cidade e outra em Calgary, onde os brasileiros receberam o troféu de escolha do público.
Embora os maiores shows pirotécnicos do país sejam feitos, na maioria das vezes, por empresas brasileiras, os explosivos geralmente são trazidos de fora. Segundo Marcelo Andrade, a Vision compra os fogos principalmente dos EUA, da Espanha e da China. Para ver o material de perto, ele e o sócio viajam todos os anos para os três países, onde pesquisam as tendências do mercado, conhecem as novidades e apresentam as suas ideias para os fabricantes.
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– Tenho percebido uma mudança no perfil dos espectadores; hoje se espera uma apresentação muito mais artística e com fogos sincronizados com a música, por exemplo. A nossa ideia é buscar o que tem de melhor do mundo, e o Brasil não tem tradição nesse tipo de explosivos. Por aqui, se concentra mais nos fogos para venda a varejo – explica Andrade.

Pirotécnicos usam simulações no computador para apresentar show aos clientes
Foto: Daniel Conzi/Agência RBS
:: Réveillon 2013 da Beira Mar Norte, em Florianópolis
? 7 balsas
? 18 minutos de show
? 14 toneladas de explosivos
:: Shows importantes
? Réveillons de Balneário Camboriú 2010-2013 e sete edições em Florianópolis
? Festival Honda Celebration of Light, no Canadá em 2012
? Show de 50 anos de carreira de Roberto Carlos
? Inauguração do estádio do Grêmio, em dezembro de 2012
? Natal Luz em Gramado, desde 2001
? Árvore de Natal flutuante do Bradesco, na Lagoa Rodrigo de Freitas, de 2009 a 2013
? Rock in Rio 2013 e 2011
:: Como é preparado o show
? Tubos de fibra plástica recebem as bombas que serão jogadas a 200 metros de altura, funcionando como o cano de revólver.
? As centenas de tubos, encaixados lado a lado, ficam montados na posição de disparo. Eles são armazenados vazios.
? Quando a data da apresentação se aproxima, boa parte do trabalho já está feita, restando apenas botar as bombas de diversos calibres e cores nos recipientes.
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? Como o trabalho pode ser feito semanas antes da apresentação, é impossível prever o clima que elas terão que enfrentar. Por isso, as bombas são envolvidas em um plástico e ficam preparadas para aguentar o pior tempo possível.