A Polícia Federal e Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) realizaram operação Dédalo, na manhã desta quarta-feira (10), em Joinville, para investigar um suposto esquema de fraude na manutenção de aeronaves. A companhia tem sede na cidade e presta serviços para aeronaves em todo o país. A apuração também demonstrou que a companhia comprava equipamentos sinistrados e realizava reparos além dos limites permitidos pelo fabricante.
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A empresa estava com as atividades de manutenção e de táxi aéreo suspensa desde 2017. Entretanto, durante a operação, as equipes da PF e da Anac verificaram que a Horus continuou prestando a manutenção neste período.
— Existem indícios claros de que eles continuam trabalhando. Nesta manhã haviam materiais usados nas manutenções no local, demonstrando utilização recente — explica Marcelo Lima, gerente de fiscalizações da Anac.
Também há indícios de que a organização possa ter ramificações nos Estados Unidos, de acordo com o órgão, por causa da importação irregular de peças e aeronaves. A equipe de reportagem da NSC Comunicação tentou ouvir a empresa sobre a operação da PF. Em um dos contatos telefônicos, às 10 horas da manhã desta quarta-feira, um funcionário atendeu e informou que não iria se pronunciar sobre o caso neste momento. Já pessoalmente ninguém atendeu a reportagem.
As investigações iniciaram em 2016 depois de uma denúncia. Na ocasião, junto ao documento, o denunciante anexou diversas reportagens, fazendo uma espécie de dossiê e relatando acidentes aéreos ocorridos no país. A investigação da PF iniciou para apurar se a empresa Horus Aero Peças, de Joinville, comprava algumas destas aeronaves acidentadas para utilizar as peças em manutenções irregulares ou ainda remontar ilicitamente os equipamentos.
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— Estas peças acidentadas não tem rastreabilidade e não são autorizadas pelos fabricantes. O escopo desta investigação é averiguar a informação de manutenção irregular, o reaproveitamento de peças e a remontagem das aeronaves – explica o delegado Oscar Biffi, responsável pelo inquérito policial.
Helicóptero destruído foi remontado
Um dos casos investigados pela polícia é de que a empresa teria adquirido um helicóptero completamente destruído depois de um acidente em Campo de Marte, em São Paulo. Durante o cumprimento dos mandados nesta manhã, a equipe de investigação encontrou a aeronave recuperada e remontada no pátio da empresa joinvilense. O “novo” helicóptero foi reconstruído em desacordo à regulamentação da Anac e estava operando normalmente.
A suspeita é que a empresa utiliza peças de origem desconhecida e sem rastreabilidade nestas remontagens. De acordo com Lima, os componentes das aeronaves tem um prazo de utilização, como, por exemplo, em horas de voo, também necessitam de manutenção em período pré-estabelecido e registro para comprovar a aeronevagabilidade. A investigação demonstrou que a empresa não estaria respeitando essas regulamentações.
Conforme Lima, as peças aeronáuticas possuem rastreabilidade que funciona como uma caderneta – uma espécie de diário – mostrando quem a produziu, a quantidade de manutenções que já passou, em qual aeronave estavam instaladas. Este acompanhamento é fundamental para a segurança da tripulação porque se não funcionarem corretamente gera o risco de acidentes.
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— Com a remontagem, você coloca em risco toda a segurança da aeronave. A harmonia dos componentes é garante a segurança. Um parafuso colocado de uma forma errada ou um componente que você não sabe a rastreabilidade dele coloca em risco a vida das pessoas – explica Lima.

Além desta irregularidade, a PF ainda apurou casos em que as aeronaves restauradas usavam prefixos de outra, trocas de plaquetas de identificação nas peças, clonagem de avião, falta de acompanhamento de um mecânico autorizado pela agencia durante as manutenções e ainda a importação ilegal de alguns dos itens. No Brasil existem 600 empresas autorizadas pela Anac para realizar a manutenção das aeronaves.
Conforme o delegado Alexandre de Andrade Silva, chefe da PF em Joinville, a empresa investigadas é uma das grandes fornecedoras de peças aeronáuticas em todo o país.
– A prática deste sujeito aqui de Joinville representa um risco para um número indeterminado de pessoas, já que o cidadão pode estar andando na rua e cair uma aeronave no local – ressalta o delegado Alexandre de Andrade Silva.
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Equipe encontrou oficina clandestina
Foram apreendidas 12 aeronaves nesta quarta – seis em Joinville, cinco em uma oficina clandestina em Sorocaba, em São Paulo, e mais uma em Curitiba, no Paraná. Além de documentos que devem corroborar com as investigações. Conforme Lima, quando acontece um acidente aéreo e a empresa tem a intenção de recuperar o equipamento, é necessário encaminhar para a Anac o laudo de avarias.
A partir deste documento é que o órgão vai decidir se a aeronave pode ou não ser reparada. Em caso do reparo, ainda é preciso informar à agência o tipo de restauro a ser realizado. Lima explica que a empresa apresentava estes laudos adulterados, além de assinaturas de manutenções para pessoas que estão fora do país.
Na oficina irregular paulista funcionava de forma totalmente irregular e, além das aeronaves, também foram encontradas diversas peças. Conforme a PF, há indícios de que exista ligação entre a oficina e a empresa de Joinville, formando uma rede para fraudar o processo de manutenções e das peças. O esquema, utilizado pela empresa para gerar lucro a partir de redução de custos, reflete na segurança das aeronaves podem causar acidentes aéreos graves.
— Na primeira fase da investigação, em 2016, encontramos indícios que a empresa investigada que teria remetido algum material para a oficina de Sorocaba. Mas isto ainda será comprovado no decorrer do inquérito policial — esclarece
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Os itens apreendidos pela PF e Anac irão passar por perícia. As investigações continuam para apurar as pessoas que possam estar utilizando peças ou tenham recebido a manutenção irregular prestada pela empresa de Joinville.