Coração de mãe só sossega quando vê os rebentos bem, vencendo na vida. Por isso, quando eram crianças, elas se preocupavam com a saúde, a vaga na creche, as tarefas da escola. Mais tarde, as atenções se voltavam para a segurança, as boas amizades, a escolha da profissão. Tem também a correria do vestibular e a conquista da graduação. Hoje a angústia é com a falta de emprego dos filhos, realidade que atinge 13,4 milhões de brasileiros, sendo 246 mil em Santa Catarina.
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– Não é fácil para ninguém, mas no coração de mãe cabem todos. Precisamos apoiar nossos filhos, pois desemprego não é algo para se envergonhar – diz Maria de Fátima Nogueira da Silva, 64 anos, que há dois anos acompanha a batalha do filho.
O rapaz de 28 anos trabalhava como técnico em comunicação. Como ficou sem condições de manter o aluguel que dividia com um amigo, em São José, voltou para a casa dos pais, em Canasvieiras, norte da Ilha.
– Faço artesanato e o quarto estava cheio de caixas. Mas organizei tudo, compramos um sofá-cama e hoje ele voltou a morar com a gente. Não rua não ia deixar, não é mesmo? – explica.
Maria de Fátima e o marido, Ricardo, são aposentados por invalidez. O outro filho do casal é casado e mora no Paraná. A mãe conta que o filho escolheu um curso técnico por achar que teria mais chances no mercado.
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O salário era bom, suficiente para ele se bancar e planejar a compra de um carro. A demissão inesperada alterou as rotinas. Para não ficar parado, na temporada de verão o filho trabalhou no setor de compras de um hotel. Mas só entre dezembro e março.
– Tem vezes que ele desanima e se tranca no quarto, pois já se inscreveu em várias empresas do ramo e não teve resposta. Eu sempre digo: comida e um lugar para dormir não vão faltar, mas é claro que a gente quer ver ele se virando – observa a mãe.
Maria de Fátima conta que mantém a esperança. Todas as quintas-feiras ela tem um compromisso inadiável, a novena em louvor a Nossa Senhora Desatadora de Nós, na igreja Santo Antônio, em Campinas, São José. Já fez duas.
– Nem precisa perguntar qual presente eu gostaria de ganhar neste Dia das Mães, não é?
Mãe dos filhos e dos netos
Moradora no alto do Monte Serrat, Maciço do Morro da Cruz, em Florianópolis, a aposentada Sueli Amaro Francisco, de 63 anos, resume esta realidade. Para ela, o desemprego afeta a toda família.
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– Mãe de desempregado tem sempre uma dor de cabeça. A gente deita e acorda pensando: meu Deus, será que vai conseguir, será que hoje vai dar certo?
A situação nada fácil se agrava quando existem netos, principalmente crianças, e quando os pais estão separados. No caso de Sueli são três, com dois, 10 e 12 anos. Para facilitar as coisas para o filho, os meninos tomam café, almoçam e lancham à tarde antes de irem para a casa onde praticamente só dormem.
– A gente nunca vai negar um prato de comida. Aperta daqui e dali e vai dando um jeito. Como mãe eu acolho, mas também preciso estimular para que não se acomode e desista de continuar na luta – diz a técnica de enfermagem que começou a trabalhar com 17 anos.
Sueli mantém a esperança de dias melhores para o filho de 47 anos. Parte desta fé, explica, obtém no grupo de orações na igreja da comunidade. É ali que diz recarregar as energias.
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– Eu gostaria muito de vê-lo tocando a vida. É assim que uma mãe pensa – suspira.

Não importa a idade, a preocupação é eterna
O coração da mãe Shirlei Azevedo bate por três vagas de emprego. Duas para os gêmeos de 29 anos e outra para o caçula de 22. Um dos gêmeos formou-se em direito com a ajuda do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). O outro faz faculdade de ciências da computação, mas não conseguiu trabalho. O caçula também foi para o campo da informática, porém não teve dinheiro para pagar as mensalidades e interrompeu o curso. Pretende uma vaga na universidade pública.
– Não é fácil a vida de quem não consegue emprego, de quem não gera renda, dos que não têm como se sustentar – observa Shirlei, que vê os filhos buscando alternativas temporárias em aplicativos de transporte, vendas e comércio de shopping.
Shirlei, que é divorciada, trabalha em Florianópolis e mora em Palhoça, considera que dificuldades como a falta de emprego podem unir as famílias.
– Mensagem para o Dia das Mães? Se a gente tiver um pão, a gente divide. Se alguém tiver que passar fome, a gente passa. Mas nunca os filhos da gente.
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Dia a dia ela acompanha a realidade desgastante dos filhos. A situação piora quando as empresas pedem experiência. Além disso, anos atrás a pessoa podia escolher levando em conta melhores salários e benefícios. Atualmente, diz, é necessário se submeter ao que o mercado oferece.
A questão é o futuro, observa, especialmente com relação à aposentadoria. Aos 51 anos, ela que é formadora em atividades do movimento popular e social, também se recente de um emprego fixo. Ainda assim tem planos para este domingo:
– O Dia das Mães será celebrado com almoço lá em casa. Hora de agradecer por estar com os filhos cheios de saúde, pois tem gente em situação bem pior – avalia.
Crise do país complica a situação
Com dois jovens desempregados em casa, a aposentada Lia Rosa Cardoso, também moradora do Maciço do Morro da Cruz sabe o quanto é importante apoiar os filhos que se encontram nesta incerteza do dia a dia. Não só do ponto de vista financeiro, mas também o lado emocional e até espiritual.
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– Tenho um casal de 20 e 23 anos e sei o quanto eles precisam se manter. Moramos todos na mesma casa, que por sinal nunca consegui finalizar, mas estamos próximos e nos ajudando do jeito que dá – conta.
Mesmo com muitas dificuldades, explica, os jovens conseguiram concluir o ensino médio e chegaram a trabalhar através do Programa Antonieta de Barros, na Alesc, voltado à inserção no mercado de jovens negros em situação de vulnerabilidade. Porém, o estágio remunerado terminou e não encontraram emprego.
O jeito foi segurar o que apareceu, como trabalho em lanchonetes. Mas como as pessoas estão economizando, o movimento cai e as empresas dispensam. Lia conta que perdeu as contas das vezes que viu os filhos descendo o morro para entregar currículos.
– É muito difícil a gente ver um filho desempregado, pois desde criança se ensina que tem que estudar para ser alguém na vida – observa.
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Apesar de não estar muito otimista com o futuro da economia do país, Lia fala com o sentimento de mãe:
– Se dependesse do meu coração, todos estavam empregados, não apenas os meus filhos. Qual mãe não quer ver os filhos felizes? – reflete.