De acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares divulgada nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os empregados domésticos comprometem 23,3% de seu orçamento com alimentação – mais do que o dobro do percentual do orçamento gasto pelos empresários com comida (11,5%).

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O mesmo movimento ocorre em relação aos gastos com saúde e aluguel: os empregados domésticos têm aproximadamente 18% de seu salário comprometidos com aluguel e 4% com assistência à saúde. Já os empresários e empregados públicos gastam 9,8% de suas rendas com aluguel e 5,4% com saúde. Os trabalhadores privados 12,1% e 4,6%, respectivamente.

Para reverter esse quadro de desigualdade na distribuição de renda, a economista da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Maria Beatriz de Albuquerque David argumenta que é fundamental mudar a estrutura tributária do país que hoje, segundo ela, impacta os desiguais de forma igual.

– O Brasil não tem nenhuma política de taxação de ganhos excepcionais em distribuição de riqueza, apenas de distribuição de renda entre assalariados. A política tributária brasileira é muito regressiva, os tributos são praticamente indiretos, ou seja, independem do nível de renda, com exceção do Imposto de Renda, que taxa pouco o lucro de capital, porque você pode jogar muito de suas despesas nas empresas e ter seu patrimônio em nome na empresa.

Os dados sobre o espaço para aumentar o patrimônio também revelam as desigualdades sociais no país. Enquanto trabalhadores domésticos têm 2,2% do orçamento com o aumento de patrimônio essa proporção para empresários é quase cinco vezes maior (9,9%). O percentual dos trabalhadores públicos e privados são 5,7% e 5,1%, respectivamente.

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– Quanto menor o seu salário, mas comprometido ele está com as necessidades básicas: alimentação, moradia, saúde e educação. A última possibilidade é o patrimônio. Além disso, o acesso ao crédito é diretamente proporcional às garantias que você pode proporcionar – explicou a professora.

De acordo com o economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) Fernando Holanda Barbosa Filho, o aumento do nível de escolaridade média do país e a diminuição da pobreza devem contribuir para reduzir o número de empregados que trabalham em residências.

– Nos países desenvolvidos só quem tem empregada doméstica é rico. As pessoas estão frequentando escolas e isso dá a elas melhores possibilidades de trabalho. Esse processo já vem ocorrendo, o salário do empregado doméstico está aumentando e acredito que a tendência seja que, aos poucos, o Brasil tenha cada vez menos empregados domésticos – comentou.