A empreendedora de primeira viagem Paola Martins da Costa, 27 anos, criou há um ano a Integra Estágios motivada pela dificuldade de voltar ao mercado de trabalho e por notar a demanda crescente de empresas buscando estagiários. Como o negócio é recente, ela ainda trabalha sozinha e prefere não falar em faturamento, mas garante que ele está crescendo. Com três anos a mais, Fernando Ligório é um dos sócios da Voe Ideias, agência de criatividade de Florianópolis com 45 funcionários que fecha R$ 30 milhões em contratos anualmente. Embora tenham idades parecidas, há uma década ou mais era difícil encontrar no mesmo ambiente empresários em cenários tão diferentes, realidade que vem mudando com o aumento de projetos de mentoria em Santa Catarina.
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A ideia é que empreendedores experientes ajudem os mais jovens na tomada de decisões importantes, principalmente no início do negócio. A relação é feita através de encontros presenciais.
A principal dificuldade da Integra Estágios era entender a rotina e a necessidade de cada cliente. Para superar os obstáculos, Paola recebeu a consultoria de Fernando na edição do ano passado do Projeto Mentoria, da Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (Acif).
— O ponto mais interessante é que entendi que é preciso criar um relacionamento. As empresas buscam isso, e não só produto. Não pode ser uma coisa fria — diz a empresária, que até hoje mantém contato com seu mentor.
Neste ano, 27 empresas foram selecionadas para participar da terceira edição do programa da entidade empresarial. Eles terão encontros de julho a novembro. Segundo Célio Bernardi, coordenador da Acif Jovem, o mentor é escolhido de acordo com o problema de cada participante e vai ajudar nos primeiros passos do negócio.
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— Em um momento (de crise) como o que a gente vive, isso contribui para o crescimento dessas empresas. Os mentores já passaram por problemas jovens estão passando e podem ajudá-los a superar _ acrescenta.
Segundo Bernardi, o mentor atua como um psicólogo. Ele conversa, entende o problema e depois passa a experiência que tem. Para ele, esse ecossistema é uma forma de tornar a região um polo forte de empreendedorismo.
— Já passei por essa experiência (dificuldade no início do negócio). Há 10 anos não havia acesso a tanto conteúdo como hoje. Atualmente temos mais cases de sucesso, o que facilita muito. É um ambiente que eu gostaria de ter tido — afirma Diogo Kleinubung, CEO da Blueticket, empresa que faz a gestão de R$ 100 milhões em venda de ingressos anualmente.
Para o empresário, que é um dos consultores do projeto da Acif neste ano, a mentoria gera um impacto e cria um ambiente econômico favorável para os novos negócios. Hoje, a média de idade quem procura o programa é de 24 anos.
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Diferença de consultoria
A máster coach de carreiras da faculdade Estácio, Mônica Bonhôte, destaca que o papel do mentor é diferente do coach, algo que as pessoas confundem muito. Enquanto o primeiro tem o conhecimento na prática e no mercado, o segundo é um profissional com conhecimento e técnicas que proporcionam ao cliente a conquista de suas metas, mas nem sempre tem conhecimento da área específica.
— O mentor é uma pessoa que precisa ter conhecimento da prática, do mercado tanto de forma histórica como uma visão nova — acrescenta.
Segundo a especialista, nos espaços de empreendedorismo é mais fácil ver um mentor sendo solicitado. E, dependendo da relação estabelecida, ele determina e não só aconselha.
Empoderamento de startups
Apesar de ser muito difundida a ideia de que basta ter um bom produto para se ter sucesso, não é bem assim que acontece na realidade. Há uma série de processos que terão que sair do papel para o negócio deslanchar. Basta olhar os dados. Segundo a Pesquisa Demográfica de Empresas 2014, última realizada pelo IBGE, de cada 10 empresas, seis não sobrevivem após cinco anos de atividade. Para se consolidar e ultrapassar todos os obstáculos de uma startup recém-criada, o médico psiquiatra José Hamilton optou por incubar a Youper no Midi Tecnológico, incubadora fundada e mantida pela Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate) e pelo Sebrae/SC há 18 anos.
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Dentro da incubadora, os empreendedores recebem consultarias em todas as áreas, da gestão financeira à finalização do desenvolvimento do produto. Um desses processos é a mentoria.
Apesar de ter só três anos, a empresa de Hamilton tem o seu carro-chefe, aplicativo que funciona como uma terapia online, em 130 países e com mais de 130 mil usuários. A empresa deixa a incubação no próximo mês com a missão de continuar crescendo.
— Sempre gosto de pensar no Midi como um farol de boas ideias onde startups e pessoas boas se reúnem. A incubação foi muito importante para ajudar a Youper a cristalizar o negócio e fazer parte de um ecossistema, ter mais ideias e aprender — diz Hamilton.
Quem ajudou o médico foi o empresário Iomani Engelmann, sócio-fundador e diretor de novos negócios da Pixeon, empresa que tem como carro-chefe softwares de gestão hospitalar e imagens médicas que estima faturar neste ano R$ 100 milhões. Segundo ele, há uma metodologia completa em uma incubação que trabalha com todas as partes de uma empresa, da área de marketing e comercial ao suporte jurídico.
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— Fui incubado, eu tenho um sentimento de tradição com o projeto. No meu caso, eu tento fazer um trabalho (de mentoria) de tirar o empreendedor da inquietude e colocar perguntas na cabeça dele. Desde o custo de aquisição de clientes, qual vai ser a precificação, há um plano de custo? Questionar a própria equipe se há estrutura — explica.
Segundo Engelmann, principalmente na área de tecnologia, muitas empresas têm o produto, mas não têm visão de mercado. Outras não têm um produto inacabado e outras têm os dois, mas falta financeiro. Por isso, aponta, é preciso um mentor.
Hoje, o Midi abriga 23 empresas. Em 2016, os novos negócios faturaram cerca de R$ 7,7 milhões, 60% a mais do que no ano anterior. Em 2017, 11 empresas incubadas terão a oportunidade de participar de um programa de aceleração comercial.
Da teoria para a prática
Antes mesmo de sair da faculdade, é importante provar um pouco da prática. Essa é a ideia do programa da faculdade Estácio que coloca alunos do curso de gastronomia frente a frente com os clientes. Todas as terças-feiras um grupo pequeno de estudantes enfrenta o desafio de montar o cardápio e preparar pratos no Emporium Bocaiúva, no Centro da Capital. A ideia é que eles saiam da teoria direto para a prática. Segundo o proprietário do restaurante, Sérgio Arruda, o principal ganho é a experiência profissional:
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— Eles acabam sendo muito teóricos. Aqui eles têm que propor custos e criar cardápios diferenciados, observar o tempo de preparo, a quantidade. Eles vivem o mundo real, onde os clientes vão fazer críticas positivas ou negativas. Depois passamos um feedback.
Para o restaurante, aponta o empresário, esse intercâmbio traz novos clientes, que buscam o local nesses dias em busca de pratos diferenciados e por menores preços — como é um projeto com parceiros, os valores são diferenciados.
O aluno do último ano de gastronomia da Estácio, Alessandro Fontoura Medeiros, 42 anos, aprova. Ele já participou várias vezes do projeto.
— É espetacular, principalmente para quem está começando agora a faculdade, pois faz com que o aluno que nunca teve contato com a profissão encare esse desafio. A teoria não é suficiente.
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