Atenção para tendências e olhar curioso para novos produtos são características comuns aos empreendedores. No Brasil, acompanhar o que há de novidade em outros mercados, como Estados Unidos e Europa, também pode ser um primeiro passo para descobrir uma oportunidade de negócio. Para o economista Rafael Strapazzon foi assim.

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Os planos iniciais dele não previam empreender sozinho. Antes, Strapazzon pensava em abrir uma cervejaria em sociedade com alguns amigos. Há seis anos, o catarinense natural de Videira já tinha uma carreira consolidada como economista. Aos poucos, porém, começava a se aventurar como mestre cervejeiro e juiz internacional na área. Uma viagem aos Estados Unidos fez com que ele percebesse uma nova oportunidade de negócio. Lá, o empreendedor provou uma bebida diferente cujo mercado global deverá atingir um faturamento de US$ 4,46 bilhões até 2024, de acordo com um novo relatório da Grand View Research de 2016: o kombucha.

De volta ao Brasil, Strapazzon procurou a bebida à base de chá preto ou verde adoçado, fermentado por uma combinação de bactérias e leveduras, mas não encontrou. Tinha descoberto, então, um nicho que poderia ser explorado no mercado nacional. A intenção do economista, inicialmente, nem era abrir um negócio, apenas fabricar o kombucha para consumo próprio.

A bebida caseira acabou fazendo sucesso entre familiares e amigos, que encorajavam o catarinense a se arriscar na onda do mercado de alimentação saudável, em efervescência no país. A nutricionista Débora Bottega confirma a fama do chá, sucesso no mundo fitness por conta dos benefícios.

– É uma bebida levemente ácida, rica em vitaminas do complexo B, polifenóis, bactérias láticas e com possível potencial antibacteriano e anticarcinogênico. Além disso, desempenha um importante papel na desintoxicação do organismo e no funcionamento intestinal – esclarece Débora, especialista em nutrição clínica funcional formada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

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Planejamento é fundamental para o sucesso do negócio

O fato de o mercado já estar consolidado no exterior, no entanto, não garante o sucesso do negócio no Brasil. A avaliação é do professor Reinaldo Coelho, do curso de Administração da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).

– No mundo dos negócios não existe previsão, bola de cristal, mas existe probabilidade. Conhecer o mercado aumenta a chance de um negócio funcionar em qualquer nível de inovação. As possibilidade de dar certo também são maiores quando o empreendedor é bem preparado e sabe planejar – alerta o professor.

O crescimento da demanda por bebidas saudáveis é um fator positivo. De acordo com o levantamento da Euromonitor, divulgado em fevereiro, a venda de produtos como água e sucos naturais registraram alta em 2016, com crescimento de 2,51% e 5,1%, respectivamente, enquanto a categoria de refrigerantes segue em queda nos últimos anos, com retração de -5,3%.

De olho nessa tendência, Strapazzon resolveu seguir o conselho dos amigos. Depois de meses de testes no ano passado, o economista começou a levar os diversos sabores de Strappa Live Kombucha em forma de barril, como chope, ou em garrafinhas para degustação em empórios, bares e restaurantes de Florianópolis.

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Deu certo. A aceitação foi rápida e o aumento nos pedidos também. Hoje, o empreendedor está fazendo os últimos ajustes na construção da fábrica, onde foram investidos cerca de R$ 150 mil e que tem capacidade para produzir até cinco mil litros de kombucha por mês.

A lista de espera pela venda da bebida já chega a 40 clientes do Rio Grande do Sul a Minas Gerais, mas o empreendedor quer ir com calma e dar um passo de cada vez.

– Não vou dizer que eu não tenho receio. A logística é o meu risco principal porque o produto precisa de refrigeração para ser transportado e isso faz aumentar o custo do frete. Então, eu não tenho como chegar até a Bahia, por exemplo, sem que o produto fique muito caro. O meu foco, neste momento, são as regiões Sul e Sudeste.

Outro desafio que preocupa o empresário é a ampliação do mercado, uma vez que o kombucha é novidade para grande parte do público. Nesse sentido, contratar um serviço de marketing e continuar com as ações de degustação no comércio estão entre as principais estratégias.

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Na opinião do coordenador de apoio a empreendedores da Endeavor Brasil, Igor Piquet, investir em marketing é fundamental não só para negócios que precisam se consolidar no mercado.

– A estratégia precisa ser bem pensada. Marketing não é propaganda apenas, é posicionamento de mercado. O empreendedor não pode fazer uma propaganda de TV nacional, por exemplo, se não está preparado para receber essa demanda, ressalta o coordenador.

Outra recomendação de Igor Piquet é a opção pelo marketing de conteúdo, chamado de inbound marketing, tendo em vista que a propaganda tradicional acaba deixando o consumidor perdido entre tantas marcas.