Empoderamento e liberdade para assumir quem é são palavras-chave para as cabeleireiras especialistas em cachos de Joinville Mayara Gorges e Alice Pagno. Ambas têm seus salões na cidade e priorizam o atendimento personalizado para cada tipo de cabelo, que se adequa à necessidade e gosto do cliente. 

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Mayara conta que tudo começou pela necessidade de cuidar do próprio cabelo e da dificuldade em encontrar profissionais com conhecimento técnico em cachos. Quando ainda estava na faculdade, até fez o trabalho de conclusão de curso idealizando um salão especializado e, em 2014, teve a oportunidade de trabalhar por poucos meses no Vaidosinhas, o primeiro espaço do Sul do país voltado para cacheados.

Ela comenta que, desde então, com o passar dos anos, sente que cada vez mais cacheados, principalmente mulheres, têm adotado a transição capilar. Para ela, isso é resultado de uma maior representatividade e valorização “do natural”. 

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— Nem sempre cabelo cacheado foi sinônimo de beleza, limpeza, de juventude… Cabelo cacheado, muitas vezes, era remetido como algo ruim, não valorizado. Hoje, com salões e lojas especializadas, com estímulo de desenvolvimento de produtos especializados, de todas as curvaturas, a gente percebe que as pessoas se identificam e só estão esperando a oportunidade de se conectar com o seu próprio cabelo. 

A profissional ainda complementa que o conhecimento transforma e isso reflete diretamente na aceitação de si mesmo. 

— Quando você tem o conhecimento sobre como cuidar do seu cabelo, dificilmente vai querer adotar uma transformação física para um alisamento ou ficar refém de escova, chapinha ou babyliss para se sentir bem — pontua. 

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Mais volume, menos preconceito 

Alice Pagno acredita que vários são os motivos para os cacheados estarem assumindo seus cabelos naturais, desde a liberdade para ser quem é até a aceitação da individualidade de cada tipo de cacho. 

Para além de um novo corte e um cronograma capilar especializado, oferecer um espaço voltado para este público é, segundo Alice, ressignificar o relacionamento das cacheadas com o próprio cabelo, com suas raízes e ancestralidade. 

— Muitas mulheres aderiram aos alisamentos pois antigamente não havia opções para cuidar do cabelo natural. Não havia produtos adequados, nem pessoas que sabiam cortar. Se chegasse uma cacheada em um salão convencional falando que estava sentindo o cabelo muito ressecado ou com frizz, a única solução que tinham era uma química “para tratar” ou abaixar o volume. Porém muitas não se identificam com o cabelo alisado e nem com a falsa sensação de praticidade que o alisamento promete — destaca. 

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Assim como Mayara, Alice reforça que com opções de espaços e produtos voltados aos cuidados com cachos, há mais clientes alisadas encorajadas a iniciar o processo de transição capilar que resgatam o amor-próprio. 

— É ter mais visibilidade pois ainda muitas pessoas não sabem que existe um espaço para cuidar especialmente do seu tipo de cabelo. Significa curar traumas, trazer aceitação para si e para a sociedade. É quebrar padrões e possibilitar que as próximas gerações cresçam com autoestima e amor com o próprio cabelo — acrescenta. 

De uma salinha na casa da sogra a um salão especializado 

Após deixar a pequena cidade de Rio do Campo, no Vale do Itajaí, Mayara formou-se em engenharia da produção mecânica e mudou-se de vez para Joinville. Inicialmente, morou em um espacinho cedido na casa de uma amiga e chegou a trabalhar em indústria, mas, inspirada pelos pais e professores da faculdade, tinha vontade de empreender, principalmente em um negócio voltado para cachos. 

Depois da experiência que teve no salão Vaidosinhas, portanto, tirou do papel o projeto que havia iniciado na universidade. No começo, conta que montou o primeiro salão em uma salinha de mais ou menos 3m² cedidos na casa da sogra, que a ofereceu o espaço. Lá, passou a atender aos fins de semana e, rapidamente, conseguiu uma clientela fixa. 

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— Aí, a mágica começou a acontecer. Como o trabalho que eu desenvolvi era diferenciado, desde conversa técnica, explicações e tudo mais, os clientes começaram a vir muito rápido, e a conexão foi muito grande. Eu trouxe a Joinville uma fala bastante técnica sobre cabelo cacheado, sobre conhecer cosméticos e produtos. Isso me desafiou a cada vez estudar mais sobre o assunto e desenvolver sobre isso. E aí, desenvolvendo esse trabalho, eu acabei crescendo — lembra a especialista. 

Foi assim que nasceu o primeiro espaço, o salão Mayara Cachos. Com a fama do espaço, passou a receber clientes de fora da cidade e a agenda ficou cada vez mais apertada. Com a renda, pôde ir melhorando e aumentando a estrutura, além de contratar mais profissionais. A empreendedora destaca que todas, desde o começo, são treinadas por ela mesma, em cursos que duram de dois a seis meses. 

No meio do caminho, entre um atendimento e outro, Mayara conheceu Fabíola Schitz, que passou de cliente a sócia, na companhia do esposo Joni Meurer. Entre um corte e outro, a mulher comentou com a cabeleireira o desejo de criar um empreendimento que comercializasse acessórios e produtos voltados para cabelos cacheados. 

Já ao final da pandemia, as duas se juntaram e lançaram a Super Cacheadas, que além da loja física que conta com especialistas, consultorias  e produtos como cremes, fronhas, toucas e bonés de cetim (que não danificam nem amassam os cachos), os itens também são vendidos pela internet. 

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Tratamento especializado e sem frustração 

Tanto Mayara quanto Alice têm como diferencial, além de fazer um tratamento especializado para cada tipo de cacho, ensinar as clientes e indicar produtos para que os cuidados possam ser mantidos em casa, durante a rotina do dia a dia. Isso, segundo elas, não as faz perder a clientela, muito pelo contrário, a torna ainda mais fiel. 

Além de cortes, hidratações, penteados e coloração sem uso de colorantes, as especialistas também apostam na conversa antes de iniciar qualquer procedimento para entender o gosto e a necessidade de cada cacheado e cacheada. 

— Um tratamento especializado diminui muito a chance de frustração em relação ao resultado do processo. Não corre o risco de ter o cabelo alisado por contaminação de química, pois só usamos tratamentos naturais. E nem alisamento térmico pelo tracionamento de escovas ou chapinhas, pois só usamos finalização com fitagem e secagem com difusor, assim respeitando o formato natural de cada cacho — explica Alice, que atualmente toca o salão junto com a irmã, Joselaine, a Jô, terapeuta capilar e assistente. 

Mayara salienta que cada cliente representa uma história e cada atendimento é uma experiência diferente. 

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— O nosso trabalho não significa um corte de cabelo, não significa passar um creme no cabelo, não significa vender um produto, vai muito além disso. Nunca foi sobre cabelo, sempre foi sobre as pessoas, você poder ouvir pessoas. Já me perguntaram assim: “por que a agenda do espaço Super Cacheada é tão disputada?” A minha resposta sempre vai ser: porque a gente sabe ouvir, a gente sabe explicar. Todas as sugestões são feitas com verdade, sinceridade e de uma forma simples e leve também — pontua. 

Para o futuro, Alice Pagno projeta um salão maior. Sem perder a essência do atendimento personalizado, quer um espaço com salas exclusivas de atendimento para terapia capilar e adicionar à equipe profissionais que atuem na recepção e no setor administrativo para poder dedicar-se apenas aos tratamentos. 

Já Mayara destaca que, ainda neste ano, a Super Cacheada deve lançar cosméticos próprios. Mas o principal projeto é adentrar o comércio internacional. 

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