Detalhes do projeto de instalação do emissário submarino no Sul da Ilha de SC, em Florianópolis, foram apresentados pela Companhia de Águas e Saneamento (Casan) e pelo Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA) durante audiência na noite desta terça-feira (10), no Colégio do Campeche, na SC-405, na Capital. Moradores, lideranças da comunidade e ambientalistas lotaram o ginásio da instituição, em que ocorreu o encontro.
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A proposta é implantar uma rede de coleta e tratar os dejetos, na estação do Rio Tavares, e depois despejar no mar, na altura do Novo Campeche, a mais de cinco quilômetros da costa. Na reunião, a Casan apresentou um estudo sobre os impactos da obra.
O relatório aponta, por exemplo, que a alteração da qualidade da água e a interferência sobre a atividade de pesca artesanal estão entre os pontos negativos que o projeto trará à região caso seja implantado.
Já a melhoria dos índices de saneamento e o enriquecimento dos ecossistemas marinhos estão entre os pontos positivos indicados pelo estudo. O documento está disponível no site do IMA.
Primeiro a falar na audiência desta terça-feira no Sul da Ilha de SC, o engenheiro da Casan Alexandre Trevisan explicou que o local para a instalação do emissário submarino foi escolhido após estudos que apontaram, segundo ele, a viabilidade e a segurança do projeto. Trevisan também detalhou que os efluentes tratados serão lançados a 5,5 quilômetros da praia, a uma profundidade de 35 metros.
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Preocupação entre os moradores
Antes do início da audiência, o presidente da Associação dos Pescadores Artesanais da Armação do Pântano do Sul, Aldori Aldo de Souza, comentou que o assunto tem causado preocupação entre os pescadores:
Pra mim, acho que não vai trazer benfeitoria nenhuma porque vão lançar o esgoto numa área onde a gente tira nosso sustento e que exploramos para o turismo.
Rodrigo Farias, da Associação dos Barqueiros da Praia do Campeche, também demonstrou dúvida quanto à instalação do emissário:
— O que a gente vê em outros lugares do Brasil que possuem esse mesmo emissário é que as praias são as mais impróprias para banho. Então, a gente fica em dúvida sobre qual o impacto que vai ter nessa bacia.

Opiniões contra e a favor
Desde que começou a ser estudada, a instalação do emissário submarino tem dividido opiniões. A Casan defende que o emissário é uma solução técnica para receber o esgoto de 1/3 da Ilha de Santa Catarina.
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O biólogo Emerilson Gil Emerim, que integra o movimento Floripa Sustentável, concorda que a instalação do emissário no Sul da Ilha é "a única solução tecnológica" diante da realidade da cidade, mas ressalta que é preciso atentar para a boa operação do tratamento.
— Nós não temos como lançar os efluentes tratados em rios, como acontece em cidades não litorâneas, pois a Ilha não tem rios com vazão suficiente para isso. Então o lançamento no mar com o emissário é a única alternativa. Agora, o que deve ser discutido é a boa operação do sistema, para que o efluente seja lançado no mar em condições de ser absorvido — destaca Emerilson.
Já a bióloga e doutoranda em Aquicultura pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Bruna Roque Loureiro aponta inconsistências no estudo de impacto ambiental. Entre os problemas, ela cita a ausência de detalhes sobre o impacto terrestre da obra e a falta de um estudo detalhado sobre os danos à comunidade pesqueira.
— O estudo não traz, por exemplo, um levantamento criterioso das áreas pesqueiras, para mostrar quais são as zonas mais importantes, nem detalha a quantidade de pescadores que serão afetados — indica Bruna.
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Depois da audiência pública desta terça, outros encontros ainda poderão ser realizados para sanar dúvidas do projeto. Após a fase de audiências, o estudo de impacto ambiental será enviado para análise da equipe do IMA.
O projeto
A proposta da Casan é implantar uma rede de coleta e tratar os dejetos, na estação do Rio Tavares, e depois despejar no mar, na altura do Novo Campeche, a cinco quilômetros da costa, ao norte da Ilha do Campeche, e a 5,3 mil quilômetros dela. Os engenheiros da estatal defendem que essa é a alternativa mais viável e minimiza o risco de contaminação das praias.
O emissário submarino é a tubulação que leva o efluente final de uma estação de tratamento de esgotos até um local que tenha condições ambientais favoráveis para sua assimilação pela natureza. O emissário não é uma estação de tratamento, mas sim um equipamento para disposição final de efluente já tratado, ressalta a Casan.
O custo da obra é orçado em R$ 190 milhões, e o prazo de execução, estimado em dois anos e três meses.
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