Morador de Palhoça, o pedreiro David Flores do Amaral, 29 anos, teve a mão perfurada por uma serra enquanto trabalhava em uma obra na Trindade, em Florianópolis, na manhã desta terça-feira. Machucado, procurou a emergência do Hospital Universitário (HU) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) para fazer um curativo e buscar atendimento. Não passou da portaria. Foi informado pelas atendentes que a emergência da unidade está fechada desde a manhã de segunda-feira. Restrito a pacientes conduzidos pelos bombeiros e Samu, o atendimento segue sem data para voltar ao normal no HU.

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A situação é tão grave que na manhã desta terça-feira, pacientes que chegaram ao HU em macas do Samu ficaram retidos porque não havia condições de atendimento. A direção da unidade, que a cada período de oito horas monitora a situação para avaliar a possibilidade de reabertura da emergência, afirma que o problema – que vem se repetindo nas últimas semanas e também ocorreu no ano passado – é agravado pela greve dos servidores municipais da Capital. Como estão paralisados desde 16 de janeiro, boa parte dos postos de saúde seguem fechados e as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) – Norte e Sul – atendem apenas emergências.

— Tive um acidente de trabalho com a serra agora de manhã. Até a luva rasgou. Vim direto para o primeiro hospital que encontramos e ele está fechado. Agora não sei o que vou fazer. Vou falar com o patrão — disse David, antes de sair em busca de outro local para tratar de seu ferimento.

Mesmo quem já conseguiu adentrar a emergência ainda enfrenta problemas. É o caso de Tereza Novak, 58 anos, que veio de Rio Negrinho, norte do Estado, para fazer uma cirurgia de retirada de pedra no fígado. Ela chegou no domingo à noite, de ambulância, conseguiu entrar na emergência, mas na manhã desta terça ainda estava deitada em uma maca no corredor do HU. Para os parentes que a acompanhavam, a situação, além de perigosa, é humilhante.

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— É muito ruim essa situação, porque no domingo, quando ela chegou, tinham nos dito que ela iria para o quarto em breve. Mas não aconteceu — resume o açougueiro Pedro Novak, 46 anos.

Superintendente do hospital federal, a professora Maria de Lurdes Rovaris, explica que vários fatores contribuem para a suspensão temporária de atendimento no HU: o aumento da população na cidade esta época do ano é um deles, o que aumenta a procura das pessoas pela unidade, reconhecidamente uma referência no atendimento em Santa Catarina. A greve dos servidores municipais, contudo, aumentou a demanda.

— A greve só agravou as dificuldades de atender toda a população que procura o HU. Para voltar a atender normalmente, precisamos que as UPAs e os postos de saúde voltem a funcionar normalmente — clama Rovaris.

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Abre e fecha desde domingo e a situação nos hospitais estaduais

O HU, que já havia fechado temporariamente o atendimento na emergência pelo menos em julho e novembro do ano passado, voltou a ter o mesmo problema em 28 de janeiro, quando um paciente derrubou o vidro da recepção da unidade enquanto esperava atendimento. A emergência reabriu quase dois depois, na tarde de 30 de janeiro. Na noite do último sábado, a emergência voltou a atender restritamente. No domingo à tarde, reabriu, mas voltou a fechar no fim da manhã de segunda-feira.

Nos hospitais estaduais da Grande Florianópolis, como o Celso Ramos, Regional e Florianópolis, o atendimento segue normal, apesar do aumento na demanda, informa a assessoria de comunicação da pasta.

Em nota divulgada há alguns dias, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) informa que, devido a greve dos servidores municipais da Saúde de Florianópolis, as emergências dos hospitais Celso Ramos e Florianópolis aumentaram suas demandas de atendimento. Só o Hospital Celso Ramos teve um aumento de 30% no atendimento da emergência no mês de janeiro de 2017, após o início da greve municipal, em relação a média mensal de 2016.

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A SES e a direção do Celso Ramos adotaram algumas providências para diminuir, principalmente, a lotação da emergência do Hospital Celso Ramos. Algumas das medidas são: a suspensão das cirurgias eletivas nos hospitais Celso Ramos e no Florianópolis, no período da greve municipal; a transferências de quatro técnicos de enfermagem para auxiliar na emergência do hospital com regime de hora plantão; apoio do SAMU no encaminhamento apenas de pacientes referenciados à vocação do Celso Ramos e os casos clínicos de menos complexidade ao Hospital Florianópolis.