A emergência do Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis, passou o fim de semana fechada devido à falta de técnicos de enfermagem, que aderiram à greve da Saúde. Somente encaminhamentos de outros médicos, das unidades de pronto atendimento e pacientes que chegam de ambulância foram atendidos. A previsão é que a situação continuaria a mesma nesta segunda-feira.
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O adesivista Alex Costa Nunes foi levar o filho Miguel, de nove meses, para o hospital por causa de uma suspeita de gripe. Ao chegar na unidade na tarde deste domingo, encontrou a emergência com as portas fechadas. Um vigia informou sobre a greve.
– Se der febre nele, vou levá-lo ao Hospital Universitário. Mas acho isso um descaso do governo. Na época de campanha, dizem que a saúde é prioridade e agora não somos atendidos – reclama Nunes.
A menina Maria Eduarda, também de nove meses, foi recebida no hospital depois que a mãe, Cauana da Luz, foi na 6ª Delegacia de Polícia registrar um boletim de ocorrência, e retornou à unidade acompanhada de policiais. A médica de plantão atendeu na hora o bebê, que estava com infecção urinária. Mas a menina teve de esperar para ser medicada. Havia apenas dois enfermeiros no hospital (um na unidade de terapia intensiva (UTI) e outro nos leitos) para administrar as medicações.
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– Os médicos estão aí, mas dizem que não tem como atender direito sem os técnicos de enfermagem – lamenta Cauana.
Perto dali, cerca de 15 servidores estavam no acampamento de greve na tarde deste domingo. Eles afirmam que a decisão de fechar as portas da emergência é da direção. Para eles, os médicos, que não estão em greve, poderiam administrar as medicações e outros serviços de técnicos. Um exemplo é a ortopedia, que funcionou ontem, porque o médico de plantão optou por colocar as talas e gessos nos pacientes.
Conforme os servidores parados, é impossível cumprir 70% de atendimento determinado pela Justiça, se a mesma liminar exige que os grevistas fiquem 200 metros afastados dos hospitais. Até quinta-feira, os trabalhadores atendiam com jornada parcial, fazendo revezamentos entre colegas. A mesma justificativa foi dada pelo comando de greve na sexta-feira.
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– Foi a direção que fechou as portas da emergência. Não foi a gente. Isso tem que ser cobrado do Estado. Estamos lutando para não termos perdas salarias – afirmou um dos grevistas, o auxiliar de enfermagem Adionei Martins.
De acordo com o secretário de Estado de Saúde, Dalmo Claro de Oliveira, como ninguém apareceu no domingo para trabalhar na emergência, o fechamento das portas foi inevitável.
A reportagem entrou em contato com representantes do Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Saúde Público Estadual e Privado de Florianópolis (Sindsaúde), mas ninguém retornou as ligações.
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Hospitais registram boletim de ocorrência na polícia
De sexta-feira até este domingo, mais de 10 boletins de ocorrência foram registrados nas delegacias de polícia pela direção dos hospitais públicos de Santa Catarina. Uma reunião foi realizada no sábado entre representantes das Secretarias de Saúde, Segurança Pública e o governador Raimundo Colombo para tratar das manifestações dos grevistas.
De acordo com o secretário de Saúde Dalmo Claro de Oliveira, foi solicitado o apoio da Segurança Pública para instalação de inquérito policial para apurar as denúncias, que vão do não cumprimento da determinação judicial que exigia 70% de atendimento nos hospitais durante a greve à omissão de socorro.
O diretor da maternidade Carmela Dutra, Ricardo Maia Samways, desde sexta-feira registra boletins por abandono de incapaz. Neste domingo, apenas três técnicos foram trabalhar seguindo a média de comparecimento dos últimos três dias. Novamente, foi preciso chamar 10 enfermeiros (categoria que não está em greve), fora da escala de plantão, para atenuar a falta de técnicos. A unidade de terapia intensiva (UTI) Neonatal funcionou com a metade do quadro de profissionais.
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A greve ocorre em seis hospitais de Florianópolis, dois de Joinville e no Hospital Tereza Ramos, em Lages. Estão fechadas, além da emergência do Hospital Infantil Joana de Gusmão, a do Instituto de Cardiologia, em São José. O maior problema é a falta de expectativa para o retorno normal das atividades, pois não há previsão de acordo entre o estado e os servidores. A situação piorou quanto o governo passou a cortar o ponto dos grevistas na sexta-feira.
A principal reivindicação dos trabalhadores é a gratificação salarial de 50% sobre o vencimento como compensação do anúncio do governo de acabar com as horas-plantão, depois que contratou mais de 600 novos funcionários.
– A situação mais crítica são os hospitais de Florianópolis. Realmente reduziu muito o contingente de servidores trabalhando, o que oferece risco à saúde das pessoas. Já dissemos que o orçamento do Estado não tem condições de suportar o acréscimo solicitado na folha de pagamento – afirma o secretário de Saúde.
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