Uma nova leva de conversas, que teriam ocorrido entre o então juiz federal Sergio Moro e o procurador do Ministério Público Federal (MPF) Deltan Dallagnol, coordenador da Operação Lava-Jato, foi divulgada pelo site The Intercept Brasil no final da tarde desta terça-feira (18).

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As mensagens, que seriam de um chat privado, indicam que Moro teria discordado de Dallagnol sobre investigar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), em caso que já estaria prescrito. Nas palavras atribuídas a Moro, ele não queria "melindrar alguém cujo apoio é importante".

A troca de mensagens teria ocorrido em 13 de abril de 2017, um dia depois de o Jornal Nacional ter veiculado reportagem a respeito de suspeitas contra o tucano. No dia, Moro teria iniciado a conversa com Dallagnol, para saber se as suspeitas eram "sérias".

O procurador afirmou que a força-tarefa enviou o caso ao MPF de São Paulo, "talvez para (a instituição) passar recado de imparcialidade".

Veja trecho da conversa atribuída a Moro e Dallagnol:

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Moro: Tem alguma coisa mesmo seria do FHC? O que vi na TV pareceu muito fraco?

Moro: Caixa 2 de 96?

Dallagnol: Em pp sim, o que tem é mto fraco

Moro: Não estaria mais do que prescrito?

Dallagnol: Foi enviado pra SP sem se analisar prescrição

Dallagnol: Suponho que de propósito. Talvez para passar recado de imparcialidade

Moro: Ah, não sei. Acho questionável pois melindra alguém cujo apoio é importante

Naquele período, a operação já era criticada por forças políticas, principalmente da esquerda, sob acusações de ser tendenciosa.

Antes de responder para Moro, Dallagnol teria encaminhado o questionamento para um grupo, também pelo aplicativo de mensagens, chamado Conexão Bsb-CWB, em que estariam procuradores das duas cidades. "Caros o fato do FHC é só caixa 2 de 96? Não tá prescrito? Teve inquérito?", teria perguntado Dallagnol. De Brasília, Sérgio Bruno Cabral Fernandes respondeu: "Mandado pra SP. Não analisamos prescrição".

Esse é o terceiro vazamento contra Moro. Nos anteriores, ele supostamente teria indicado a força-tarefa da Lava-Jato uma testemunha contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e orientado os procuradores a fazer manifestação contra o que chamou de "showzinho da defesa" do petista.

Em nota, o Ministro da Justiça e Segurança Pública informou que o titular da pasta não reconhece a autenticidade de supostas mensagens obtidas por meios criminosos, que podem ter sido editadas e manipuladas, e que teriam sido transmitidas há dois ou três anos.

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O texto também nega que tenha ocorrido interferência no suposto caso envolvendo FHC. "A atuação do ministro como juiz federal sempre se pautou pela aplicação correta da lei a casos de corrupção e lavagem de dinheiro", diz a nota.

Confira a íntegra da nota

"Sobre as supostas mensagens divulgadas, esclarecemos:

– O Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, não reconhece a autenticidade de supostas mensagens obtidas por meios criminosos, que podem ter sido editadas e manipuladas, e que teriam sido transmitidas há dois ou três anos.

– Nunca houve interferência no suposto caso envolvendo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que foi remetido diretamente pelo Supremo Tribunal Federa a outro Juízo, tendo este reconhecido a prescrição.

– A atuação do Ministro como juiz federal sempre se pautou pela aplicação correta da lei a casos de corrupção e lavagem de dinheiro.

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– As conclusões da matéria veiculada pelo site Intercept sequer são autorizadas pelo próprio texto das supostas mensagens, sendo mero sensacionalismo."