Pablo Augusto Relly*

Ele é o terceiro maior entre os sete Emirados Árabes Unidos e passa um tanto desapercebido pelos inúmeros turistas que geralmente querem conhecer Abu Dhabi ou Dubai. Se a faraônica Dubai vence no quesito cosmopolita, Abu Dhabi pela modernidade, Sharjah – com aproximados 950 mil habitantes – lidera em vida cultural.

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É um título que vem da década de 1990. Em 1998, Sharjah City foi promovida à Capital da Cultura do Mundo Árabe pela Unesco, e, em 2014, ela é a Capital da Cultura Islâmica. O último título é resultado, em parte, de uma campanha dos últimos anos, chamada “Cultura sem fronteiras”. Trata-se de um projeto para estabelecer uma pequena biblioteca de 50 livros em cada residência do Emirado, ou em outros números, alcançando 42 mil famílias.

O legado cultural de Sharjah baseia-se em espaços de arte e 16 museus, especializados em diversas áreas: caligrafia, ciência, arqueologia e arte contemporânea. O Emirado recebe festivais e bienais como a Sharjah Biennial – desde 1993 e reconhecida em âmbito internacional -, o Islamic Arts Festival, a Feira Internacional do Livro, entre outros.

Da próxima vez que pensar em Dubai, reconsidere, ou simplesmente adicione dias extras à viagem. Somente a um quarto de hora de distância do vizinho mais suntuoso (se o trânsito cooperar), Sharjah realmente oferece menos luxo, porém, com tantas atividades culturais, ele é dispensável. Menos glamour, e mais arte e cultura.

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A importância da arte

Um bom ponto para começar a experiência Sharjah – caminhando, claro – é pela Heritage Area, a parte histórica. Ela é composta por um conjunto de prédios que pertencem ao patrimônio local, transformados em cafés e museus. É o berço da Emirates Fine Art Society, e da Sharjah Art Foundation. A última exibe, em grande parte, arte contemporânea (e em alguns casos, provocativa – vale lembrar do conservadorismo da sociedade dos Emirados, variando em grau), além de oferecer programas educacionais e culturais para a população local e visitantes.

O objetivo da fundação é “construir o reconhecimento do papel central que a arte tem na vida de uma comunidade”. A programação das exposições, seminários, exibições de filmes para o ano de 2014 podem ser encontradas aqui.

Foto: Pablo Augusto Relly

Na casa do Sultan

Perto da Sharjah Art Foundation, ao caminhar pela Rua Corniche, costeando um “braço” de mar, chega-se ao Museu da Civilização Islâmica. Ele foi renovado e posteriormente reinaugurado em 2008 e abriga cerca de 5 mil artefatos islâmicos, organizados por temas. A ideia por trás desse museu é estimular o diálogo e a apreciação da arte, história, ciência e cultura islâmica.

A Barjeel Art Foundation é outra oportunidade para quem quer conhecer um pouco mais sobre arte no Oriente Médio. Ela é uma fundação independente, iniciada para gerenciar e exibir a coleção de arte pessoal de Sultan Sooud Al Qassemi, membro da família real de Sharjah. Um apaixonado por arte, e famoso comentarista sobre o mundo árabe, Al Qassemi faz da fundação uma extensão da casa, ou vice-versa- a residência também não poderia ser diferente: paredes cobertas com obras de arte preciosas de toda a região, e Sultan, sempre pronto a dar explicações sobre elas, as novas coleções e aquisições.

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Como a Sharjah Art Foundation, a Barjeel Art Foundation busca a conscientização pública da importância da arte para a comunidade local. A nova exposição chama-se “TAR?QAH”, e segue até 24 de outubro de 2014. Em exposição, estão artistas cujos processos de criação se concentram em maneiras não usuais de ver e referenciar a tradição islâmica.

De mesquita em mesquita

Entre um museu e outro, caminhar por Sharjah (e descobrir ruas, prédios, alguns deles aparentam idade avançada e com pintura a descascar) proporciona ao visitante um ensaio da vida normal em um emirado – com menos glamour, porém até mais interessante do que os vizinhos, dependendo do ponto de vista.

As mesquitas merecem atenção especial. São cerca de 600, e nem todas são abertas para não muçulmanos. A Al Maghfira, na sequência da Rua Corniche (perto do Museu de Civilização Islâmica), pode ser vista pelo público masculino – com jeitinho brasileiro, consegue-se entrar. A mesquita Al Noor é a mais famosa e abre as portas para todos visitantes, à beira da Lagoa Khalid. Lembre-se de vestir-se com algum recato.

Foto: Pablo Augusto Relly

Na mesma região, o Blue Souq, o mercado público – seis prédios enfeitados com azulejos azuis – é a experiência de compras recomendada. É um dos prédios mais fotografados de Sharjah, e nele, há centenas de lojas que vendem ouro, prata, tapetes, ornamentos tradicionais, roupas e artesanato. O local abre pela manhã e fecha às 13h, reabrindo às 16h.

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A vida dos locais

Com as compras em mãos, e com o essencial de Sharjah visto, retorne mais uma vez às margens da Lagoa Khalid. O Buheirah Corniche é local para uma caminhada sossegada e democrática, onde os moradores de Sharjah City, tanto os locais, como os estrangeiros, reúnem-se com amigos e família para praticar esportes ou sentar para um piquenique.

Em seguida, o Al Majaz é mais movimentado em razão dos cafés, restaurantes e com show de água e luzes todas as noites. E como Sharjah é o centro cultural dos Emirados, arte neste espaço não poderia faltar.

O Maraya Art Park, ligado ao Barjeel Art Foundation, citado acima, é uma iniciativa que traz projetos de arte para as ruas de Sharjah. Em Al Majaz, ele toma forma através do parque das esculturas (projetos de artistas, arquitetos locais e internacionais). Isso sem esquecer das novas gerações. Com a intenção de introduzir o mundo da arte às crianças por meio de jogos interativos, esculturas e atividades educacionais, há um espaço só para elas.

Dicas

– Sharjah é encostado no vizinho famoso, Dubai, e por isso serve também como cidade dormitório para vários trabalhadores que viajam diariamente entre os dois pontos. No horário do rush, taxistas evitam transportar passageiros de Dubai para Sharjah.

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– Sharjah geralmente tem hotéis mais baratos na comparação a Dubai. Para quem tenta viajar com orçamento limitado, é uma boa opção. Há linhas de ônibus que conectam os dois Emirados.

– Escute a chamada para reza, belamente entoada pelas mesquitas de Sharjah, sentado em uma praça, admirando a paisagem e a rotina dos moradores (comunidade diversa, forte presença de indianos).

– Ao seguir pela Rua Corniche, na direção contrária a Dubai, ela conecta-se com a rua Al Muntazah, ladeada pela praia com coqueiros. Dê uma caminhada à noite e veja o movimento de alguns casais locais, devidamente vestidos, em passeios românticos.

*Jornalista gaúcho, Pablo mora no Catar

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