O professor Eduardo Costa, doutor em Eletrônica pela Universidade de Southampton, é diretor-geral da ÁgoraLab, uma organização internacional focada em desenvolver soluções e projetos para cidades inteligentes. Em entrevista por e-mail, Costa fala dos desafios para implantar o conceito de cidade inteligente no Brasil e dos bons exemplos que começaram a despontar no país.

Continua depois da publicidade

Diário Catarinense – Como o conceito de cidades inteligentes está sendo trabalhado e aplicado no Brasil em comparação a outros países?

Eduardo Costa – Todos os principais aspectos do conceito de cidade inteligente aplicam-se ao Brasil: precisamos de pessoas inteligentes, governo eletrônico e participativo, mobilidade inteligente privilegiando os transportes alternativos e não o automóvel, economia moderna inovadora e criativa, energia alternativa e sustentável, ampliação do conceito de vizinhança e participação coletiva, etc. A diferença é que temos dois problemas a mais, para os quais a cidade inteligente pode ajudar muito: a pobreza e a alta taxa de crescimento. Uma coisa é tornar Berlim inteligente, uma cidade rica e com população estável desde a Segunda Guerra. Outra é cuidar de São Paulo, que a certa altura crescia ‘um Uruguai’ por ano!

DC – Quais os desafios e potenciais para o desenvolvimento de cidades inteligentes no Brasil? E em Florianópolis?

Continua depois da publicidade

Costa – O principal desafio é o envolvimento do prefeito e dos cidadãos na solução dos problemas. Como ainda estamos no começo desta trajetória, existe muito desconhecimento sobre o assunto. As pessoas ainda estão vivendo na época do fetiche automóvel. Em Florianópolis, a gente teria mais apoio popular para fazer uma pista nova do que para alargar a calçada, digamos, da Rua Bocaiúva. Enquanto isto, as mães têm que descer da calçada estreita com os carrinhos de bebê para passar pelos postes de luz. Os cadeirantes então? Para nossa alegria, o prefeito Cesar Souza Jr. entrou de cabeça no tema e determinou à Secretaria de Desenvolvimento Econômico que investisse no assunto. Este evento já é um sinal desta determinação.

>> Acompanhe a cobertura em tempo real do evento

DC – A sua palestra será sobre cidades inteligentes humanas. O que engloba esse conceito?

Costa – Fazer com que a cidade seja transformada em um conjunto de bairros inteligentes onde as pessoas podem morar, trabalhar e se divertir sem sair do bairro. Ligar estes bairros por transporte público de qualidade. E convidar as pessoas para participar das definições prioritárias do governo. Vamos criar a primeira região inteligente do Brasil em torno do Sapiens Parque em Canasvieiras. Depois, alargaremos o conceito para toda a cidade.

DC – SC tem cidades com características geográficas e de colonização muito diferentes. O quanto estes dois pontos influenciam no desenvolvimento de um projeto de cidade inteligente?

Continua depois da publicidade

Costa – Alguns pontos são positivos. SC tem uma grande concentração de pequenas empresas e uma indústria criativa muito forte, principalmente no setor de TICs em Florianópolis, Blumenau e Joinville. As pessoas têm um grau maior de envolvimento nas coisas da cidade, principalmente no interior. Isto pode ajudar muito. A Secretaria de Desenvolvimento do Estado quer investir em Florianópolis e, pelo menos, mais duas cidades no Estado para prototipar um futuro ‘Estado inteligente’.

DC – As maiores cidades de SC foram desenvolvidas sem um planejamento de crescimento sustentável. Como adaptá-las para esta nova realidade?

Costa – Mudando a cabeça das pessoas com palestras, workshops, conversas, etc., e dos dirigentes públicos também. O assunto é apaixonante. Quem não quer uma cidade melhor para si e para a família? Todos estão vendo o caos na esquina, já há uma propensão a agir e aceitar as mudanças. Estou muito animado com as perspectivas. Já estamos agindo em Florianópolis e estamos em contato com Blumenau e Jaraguá do Sul. Este é o começo de um movimento que tende a se espalhar muito rapidamente. Temos inclusive um ‘roadmap’ para as cidades que quiserem entrar no assunto para valer.

Continua depois da publicidade

DC – Existe alguma cidade inteligente que seja modelo no Brasil? Que característica ela tem e o quanto o seu modelo pode ser replicável?

Costa – O Rio de Janeiro pulou na frente no assunto porque o seu desenvolvimento mais intensivo começou há poucos anos, depois de um longo período de estagnação. O projeto Porto Maravilha, de recuperação da área degradada do antigo porto do Rio, é um exemplo disto. A área tem, inclusive, a metragem recomendada para um bairro inteligente: uma milha de raio, ou cerca de 10 milhões de metros quadrados. A mesma área que estamos trabalhando no entorno do Sapiens Parque, incluindo Canasvieiras, Cachoeira do Bom Jesus e os limites nas SC-401 e SC-403.

DC – Como está SC no desenvolvimento de projetos de cidades inteligentes? Existe algum bom exemplo? Ele é replicável em outras cidades do Estado?

Continua depois da publicidade

Costa – Estamos trabalhando para criar o primeiro exemplo no Brasil neste projeto em Canasvieiras. Ele foi batizado de Floripa@21 em homenagem a um projeto similar em Barcelona chamado de @22. O projeto vai envolver todos os aspectos de cidades inteligentes e pode servir de exemplo para todos no Estado. O interesse que temos percebido das outras cidades é muito grande. Estamos no começo de uma estrada sem volta, mas que leva a um lugar muito melhor do que o que conhecemos hoje.