Da quantidade de crianças e adolescentes que aguardam pela adoção em Santa Catarina, 26% são Pessoas Com Deficiência (PCDs). Isso equivale a mais de um quarto do total à disposição para serem adotadas. Mesmo assim, desde 2019, somente 3% das adoções feitas no Estado foram de PCDs. Os dados são do Serviço Nacional de Adoção (SNA).

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Ainda em Santa Catarina, apenas 5,5% dos pretendentes cadastrados aceitariam uma criança com deficiência. Mas esse não foi o caso da família de Noah, de quatro anos, que nasceu com uma condição que atrapalha o desenvolvimento dos ossos e das articulações.

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Noah tinha apenas 30 dias quando José Maurício de Léo, advogado, e Marcela Martins Furlan de Léo, professora universitária, o conheceram. O casal, que mora em Chapecó, no Oeste catarinense, estava há anos a espera de uma criança. Eles estavam, inclusive, quase desistindo da ideia da adoação quando a ligação da assistente social chegou.

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— Eu acredito que essa decisão [da ação] seja difícil pra qualquer pessoa em qualquer situação. Mas foi uma surpresa espetacular na nossa vida. Foi uma decisão muito abençoada e acertada — disse o pai, José, à NSC TV.

Eles já tinham três filhos antes da chegada de Noah: André, de 14 anos, Lucca, de 12, e Nicole de sete. Nos primeiros anos com a família, Noah teve que passar por muitas cirurgias.

— Ele tem limitações, é cadeirante, não se movimenta sozinho, passou por uma série de problemas de complicações clínicas. Mas é meu filho, né? E um filho biologicamente pode, também, ser gerado ou vir depois a apresentar doenças e problemas clínicos que a gente não tem controle sobre isso — diz a mãe.

Com os irmãos, Noah conta histórias e brinca de bola.

— Ele brinca de lutinha. Às vezes até discute, de vez em quando… Mas é bem legal, eu me dou muito bem com ele — conta o irmão André.

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Noah brincando com os irmãos (Foto: Paulo Dall Bello, NSC TV)

— Ele é muito amoroso, né? Quer vir no colo, quer beijar… — comenta Lucca.

A mãe de Noah compartilha que o sentimento que tem pelo filho não tem a ver, de modo algum, com a deficiência.

— Quando você vai se construir mãe e pai, isso não tem a ver com deficiências, né? É um sentimento que se tem pelo filho. A gente não vê o Noah como uma criança deficiente, a gente vê o Noah como nosso filho — conclui.

“Amor e dedicação”

A família Snichelotto, que também mora em Chapecó, adotou o Vitor, que nasceu prematuro e com vários aspectos do desenvolvimento físico e intelectual comprometidos.

Atualmente, o casal Denis Antonio Snichelotto, que é advogado, e Cláudia Rost Snichelotto, que é professora universitária, está em Curitiba há um mês aguardando um transplante de medula para o pequeno. O procedimento faz parte do tratamento contra a leucemia.

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Vitor e família (Foto: Arquivo Pessoal)

— Quando ele chegou pra nós, ele não tinha nenhum dente na boca. Ele já tinha um aninho e pouquinho, mas não se firmava sentado… E, em dois ou três meses, com amor, dedicação, fisioterapia, ele começou a sentar, nasceram os dentes. E de lá só foi evoluindo — diz o pai.

Os dois, com muito amor, relatam que não têm nenhum arrependimento quanto à adoção.

— Eu me emociono porque foi uma decisão muito consciente. E a gente não teve arrependimento, não tem arrependimento de modo algum. Eu falei, né? Ele é o amor das nossas vidas — conta a mãe.

Os estigmas na adoção

Para Luiz Lopes, que é presidente do Grupo de Apoio à Adoção do Oeste (GAAO), o ato de adotar já vem carregado de muitos estigmas, que se agravam quando o assunto são crianças e adolescentes com deficiência. Para ele, a chave pra mudar isso está no acesso à informação.

— Quando a gente vai pro grupo de apoio, onde a gente compartilha as experiências, a gente consegue desmistificar muita informação errada que existe a respeito de crianças tanto com deficiências, quanto aquelas que vem com algum trauma — explica.

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PCDs podem adotar?

Não há qualquer restrição que indique que pessoas com deficiência não podem adotar, de acordo com o juiz corregedor de Direitos Humanos, Raphael Mendes Barbosa.

— Não há nenhuma regra no estatuto da criança e do adolescente que impeça, por exemplo, que um pretendente que tenha alguma deficiência, física ou intelectual. Se ela realmente tem condições sociais e psicológicas de adotar, não há problema algum — diz.

É o caso do casal Márcio Luiz de Lima, que é balanceiro de produção, e Egí Isaias de Lima, que é auxiliar de cozinha. O casal, que é surdo, está há 13 anos juntos.

Os dois querem adotar um filho (Foto: Paulo Dall Bello, NSC TV)

— Decidimos engravidar após um ano. E ocorreu que, nos três meses de gestação, eu perdi o bebê — conta Egí.

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Mesmo com a perda, que abalou os dois, o sonho de ter um um filho não foi embora. Foi aí que eles decidiram passar pelo processo de habilitação para adotar uma criança.

— Conversando, eu e meu esposo, decidimos seguir com isso. Esse desejo de adoção era possível para nós — diz Egí.

A Associação de Surdos de Chapecó (ASC) está desempenhando um papel importante no processo de adoção, de acordo com o casal. A habilitação já foi aprovada e agora eles estão à espera de uma criança que, se também for surda, será muito bem-vinda.

— O filho ou a filha surda também aprenderia os sinais. Eu poderia ensinar Libras. Desenvolver outros conhecimentos… — planeja a mulher.

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Os sonhos do casal, que devem ser realizados com a vinda do terceiro membro da família, já estão sendo traçados.

— Vontade de conhecer outras cidades, cidades no litoral, fazer fotos… Enfim, passar o tempo juntos — compartilha Márcio.

Conheça as famílias

*Sob supervisão de Luana Amorim

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