Lá do alto do seu observatório, o Senhor reconheceu que a maldade dos homens era grande na Terra e que todos os pensamentos e desejos humanos estavam voltados para o mal. Em Roma e em Brasília “tudo estava à venda”, até a reputação dos homens eleitos para representar os humildes.

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Então, a divindade começou a procurar um novo Noé, para dele fazer o seu representante e confidente e através dele salvar a espécie humana e animal. Trabalho árduo e doloroso, posto que alguns facínoras entre os homens se disfarçavam de bichos, especialmente os bandidos da facção criminosa PBA – o “Partido da Base Aliada”.

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Penoso foi o processo de seleção das espécies, a escolha dos homens mais ou menos honestos, a separação do joio no trigal contaminado.

– Meus Deus! – lamentou-se o Senhor, juntando as mãos numa prece para Si mesmo.

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– O que fazer? Já não há homens que se pareçam com anjos.

Procurou um político – um só! – que pudesse ajudá-lo na grande missão de salvar a espécie humana e os exemplares mais dóceis entre os animais. Não sabia o porquê, mas os homens desses tempos terríveis cultivavam como animais domésticos apenas os ratos e as aves de rapina.

Os homens daquela parte da América do Sul continuavam com uma baixa densidade de glóbulos de honestidade na cabeça e no coração

A licitação para a obra de construção da grande balsa, na qual se refugiariam homens e animais, acabou cancelada duas vezes pelo Tribunal de Contas do Paraíso. O Todo-Poderoso acabou demitindo dois candidatos a Noés, que haviam superfaturado em milhões de dracmas o preço da imensa baleeira destinada aos sobreviventes. E decidiu que salvaria apenas um homem daquela espécie de “políticos” – entre todos, aquele que fosse mais experiente em malfeitos, o “antiexemplo”, para que a humanidade futura pudesse ser vacinada contra tal espírito.

Foi um erro. O político propôs ao Senhor desistir daquele verdadeiro zoológico, expulsando todas as espécies de bichos. Apenas para admitir a bordo mais representantes do “bicho-homem”, desde que pagassem por isto uma boa propina, é claro – para ele, o autor da ideia, e, obviamente, para o Criador.

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E foi assim que até o Todo-Poderoso acabou convocado para depor na Operação Lava-Jato. Definitivamente, os homens daquela parte da América do Sul continuavam com uma baixa densidade de glóbulos de honestidade na cabeça e no coração.