Algo inofensivo como uma vitrine pode ser mais perigoso do que parece. Em vez de uma peça, o guarda-roupa fica cheio de produtos ainda com etiquetas. Aquele utensílio que não era necessário ganha status de essencial, mas depois vai para o armário. Se você acha que se encaixa neste perfil, saiba que não está sozinho. Metade dos brasileiros já comprou algo pelo impulso, mas não chegou a usar.

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Os dados são da pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) Brasil e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). De cada dez entrevistados, seis (62%) assumiram que antes mesmo de receber o salário já pensam nas compras supérfluas que farão no mês seguinte.

O vício da estagiária de jornalismo Gerusa Florêncio começou há três anos. Depois de comprar um esmalte, não parou mais. Hoje tem cerca de 300 unidades, o que dá para abrir uns dois ou três estabelecimentos de estética.

– Geralmente eu recebo e já vou correndo na loja. Eu sei que é um vício. Alguns itens eu já comprei há um ano e nunca usei. Teve uma época em que cheguei a comprar 20 ou 30 esmaltes por mês – conta.

Apesar de reconhecer que gasta demais, Gerusa sempre renova o estoque. Mas agora ela procura liquidação. Para ter um salão de beleza completo, batons não podem faltar. A estudante tem aproximadamente 60.

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– Teve uma vez que fui comprar uma camisa e adquiri uma jaqueta e uma calça. Acho que acontece com toda mulher.

Sem extrapolar o orçamento

O consumo é influenciado por variáveis além da pura necessidade de uso. Com isso, muitas pessoas compram bens porque foram influenciadas por comerciais, marketing, grupos de amigos ou pessoas influentes e famosas. O economista Guilherme de Moura, professor na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), explica que esse tipo de consumo é normal e não deve gerar preocupação se não extrapolar o orçamento.

– Compras por impulso ou apenas para ostentar e seguir tendências podem ser criticadas, mas não há nada intrinsecamente errado. O principal perigo de comprar por impulso é justamente o efeito sobre o orçamento destas despesas supérfluas – explica.

Na opinião do economista, antes de realizar a compra é sempre interessante pensar no uso real do bem, onde ele será utilizado, em quais ocasiões e se realmente precisamos dele. Além disso, o controle orçamentário é fundamental para evitar endividamento.

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Vício em consumo: ontrole de gastos começa na infância

A psicóloga Dulce Helena Penna Soares, orientadora profissional e financeira, destaca que o consumo começa na infância e por isso é preciso educar os gastos nessa fase.

– Falar sobre finanças está mais sigiloso do que falar sobre sexo – observa.

A especialista defende que o consumo ocupa um lugar de afeto e que o dinheiro preenche o espaço do convívio com outras pessoas.

– Ninguém mais tem tempo para nada. Trabalha-se muito e conversa-se pouco.

Segundo Dulce, se a pessoa tem prazer em comprar e não fica endividada não há nada de errado. O problema é o prejuízo. Para evitar que isso ocorra, ela indica os cursos de orientação e educação financeira.

– A orientação vai trabalhar os aspectos mais psicológicos.