Ronaldinho Gaúcho e as primeiras edições do Fórum Social Mundial chamaram a atenção do Velho Mundo na mesma época e, até pouco tempo atrás, dividiam espaço no imaginário dos franceses quando o assunto era Porto Alegre. O passar dos anos, no entanto, acabou revelando a maior perenidade do futebol.
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Quando ouve falar de Porrto Alegrrê (na pronúncia local), a primeira lembrança da maioria dos parisienses é a mágica que Ronaldinho costumava operar no gramado do Parc des Princes entre 2001 e 2003. E também a mágica que costumava operar fora dele.
– Paris é uma cidade extraordinária, a gente tem vontade de sair, de conhecer. Você não pode vir e ficar só no clube. Há boates… – explica Adli Abdennour, proprietário do ZCaffé, ponto de encontro dos fãs de futebol na Rue de Châteaudun, centro da cidade.
Fã incondicional do ex-atacante do Grêmio, com direito à camisa autografada pendurada na parede do bar, Adli diz que a culpa pelas atuações irregulares de Ronaldinho é toda de Paris :
– Os jovens jogadores encontram aqui uma vida extraordinária. Foi isso que fez ele não ter mais o mesmo rendimento. Foi preciso que ele mudasse de país, ir à Espanha, como ele fez, para estourar.
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O tour da Equipe de France pela América do Sul não empolga os torcedores franceses, principalmente em tempos de Roland Garros, uma instituição nacional que monopoliza o noticiário esportivo. Adli diz que o problema era o tempo bom na rua e a veiculação na TV aberta, mas a verdade é que apenas 25 pessoas apareceram no ZCaffé na última quarta-feira para a assistir à derrota diante da seleção uruguaia. Resultado que deixou ainda mais desanimado o ambiente decorado com 45 camisas autografas por estrelas do futebol.
– Essa tour acontece em um momento da temporada em que os jogadores estão com a cabeça já nas férias – afirma Emery Tasine, jornalista do L’Equipe que acompanha a Equipe de France na viagem. – Mas, como é a América do Sul, isso toca os jogadores da equipe francesa. Principalmente o Brasil, o país que fez muitos desses jogadores sonharem quando eles eram jovens e assistiam a Ronaldo ou a Ronaldinho jogar.
De Porto Alegre, que Emery visita pela primeira vez, as referências são as mesmas:
– Me lembra Grêmio e Ronaldinho, mais nada.
Se o passado fala alto às novas gerações de jogadores e fãs, também é verdade que o futebol brasileiro faz parte do cotidiano dos franceses através da Ligue 1, o campeonato nacional por onde desfilam, por exemplo, Thiago Silva e Lucas, e por onde passaram outras estrelas da Seleção como Fred (ex-Lyon).
Além de uma dinastia de jogadores brasileiros como Raí, Juninho e Valdo, que deixou sua marca. Mas talvez nenhum deles tenha sido tão importante quanto Leonardo, que acaba de levar, como principal dirigente, o PSG ao seu primeiro título francês em quase 20 anos. Falando francês fluente em suas frequentes aparições na imprensa, tornou-se uma estrela local, tão reconhecido quanto o próprio atacante Ibrahimovich na conquista do título. Não por acaso, brigou com o atacante do time na reta final do campeonato.
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Mas o futebol brasileiro que o europeu conhece, em geral é aquele que atravessa o oceano até chegar aqui. O dia a dia dos campeonatos da América do Sul é solenemente ignorado pela imprensa local, incluindo a Taça Libertadores, e poucos são os europeus que sabem citar o nome de um clube brasileiro. Apenas recentemente as TV’s a cabo passaram a oferecer a transmissão do campeonato brasileiro, via Pay-per-view. Indo na contramão desse comportamento, o francês Frédéric Fausser criou, há 10 anos, o primeiro e até hoje praticamente o único site com notícias dos clubes brasileiros em francês e inglês.
– Criei o Sambafoot por pura paixão, após a Copa de 94, quando eu tinha 19 anos. Havia uma energia no futebol brasileiro que me pegou – conta Fausser, que além de administrar o site, hoje é responsável pela assessoria de imagem de 15 jogadores brasileiros com passagens pela França, como Cris do, Grêmio, e Hélder, do Inter.
A relação do torcedor francês com a sua equipe nacional, segundo Fausser, é diferente da brasileira com a camisa amarela:
– O torcedor francês é realista. A França não é um país do futebol como Espanha, Itália e Brasil. O torcedor se empolga menos e cobra menos a sua seleção. Mas há sempre a lembrança da Copa de 98. A pressão dessa vez é sobre o Brasil, a França vem relaxada.
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A situação da Equipe de France que entra em campo neste domingo está longe de ser a de terra arrasada de 2010, quando uma bizarra greve entre os jogadores em plena Copa do Mundo revoltou os torcedores e criou uma das maiores crises da história do futebol francês. Mas não é tão melhor assim, segundo Emery Tasine:
– Didier Deschamps definiu um novo ambiente, que os jogadores parecem estar respeitando, mas o time ainda não voltou a ter condições de ganhar uma Copa do Mundo. Já o Brasil, com Scolari e os jogadores que ele dispõe, acredito que estará pronto dentro de um ano. O Dante me contou recentemente que é preciso, porém, que o time seja um pouco mais disciplinado taticamente.