Há exatos dez meses eu escolhia e era escolhido como repórter de Geral no Jornal Hora de Santa Catarina, no Grupo RBS. Todo dia uma história a ser contada, colocou-me em contato com diversas realidades por ruas e morros da Grande Florianópolis. Conheci pessoas, entrei em suas casas, ouvi seus apelos e tentei, juntamente com a equipe do jornal, mudar alguma coisa para melhor através da informação publicada.

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Neste início de caminhada profissional ainda é cedo para se ter noção do que este pouco tempo de trabalho, em um ritmo tão dinâmico (257 edições), vai contribuir na minha formação como jornalista. Confesso que apesar de este ser um questionamento constante em minhas reflexões, não sei ainda como me tornar o repórter que minha comunidade necessita para garantir o cumprimento dos direitos básicos (educação, saúde, segurança, etc.), matéria prima para a editoria de Geral de qualquer publicação no Brasil.

A palestra

Para aliviar um pouco desta angústia, que creio estar presente em todo profissional em início de carreira, nós _ editores, repórteres, fotógrafos e diagramadores das redações do Diário Catarinense e Hora _ tivemos o privilégio de ouvir um dos mais premiados repórteres do Grupo RBS, Carlos Etchichury, no início da tarde desta quinta-feira.

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Repórter de Geral _ atualmente editor de Polícia da Zero Hora, em Porto Alegre _, o profissional de 39 anos falou por duas horas sobre reportagem especial, a importância da troca de experiências entre profissionais da mesma redação e um pouco sobre a relação do jornalista com as fontes e com os colegas de equipe (repórter, fotógrafo e editor).

– A gente fica tão focado no nosso trabalho muitas vezes que não tem tempo de conversar com o colega que senta ao lado. E é muito importante parar e ouvir um pouco para aprender. Isto contribui muito na formação, para se tornar cada vez mais eficiente nesta profissão – orientou.

E assim estávamos, com as atividades temporariamente suspensas, em dois jornais com um ritmo acelerado, para ouvir o experiente colega. A principal lição deixada pelo jornalista, acredito, foi a de não subestimar a própria capacidade em produzir reportagens especiais. Sua aposta é a de que basta ter uma boa ideia e um bom projeto para convencer os editores a investir naquilo.

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– Coloque um pepino a ser descascado no colo do editor. Uma proposta que ele não tenha como recusar – aconselhou.

As lições

E foi com este método empreendedor que Etchichury foi desbravando realidades além de Porto Alegre e o Rio Grande do Sul desde 1999. Viajou em caminhões de Bento Gonçalves até Rio Branco, no Acre. Conferiu de perto, a 500 km do Litoral, na divisa do Brasil com Uruguai, o trabalho arriscado da pesca com atum. Através da matéria “Novo retrato do pampa”, feita em parceria com Nilson Mariano e fotografia do nosso, hoje, editor de foto, Emerson Souza, o perfil socioeconômico e cultural da região que engloba parte do Rio Grande do Sul, Argentina e Uruguai foi traçado (rendeu um Prêmio Esso). Atravessou o Atlântico para ouvir os missionários gaúchos em Angola. E sentiu o peso da responsabilidade em tratar de temas tabu, como o suicídio (em Tragédia Silenciosa).

Depois deste bate-papo com o caro Etchichury, aquela angústia de repórter foca, em início de carreira, vai ter que dividir um pouco do espaço que ocupa dentro de mim com a vontade de ser um repórter cada vez melhor para os leitores da Grande Florianópolis e de Santa Catarina. Acredito que este sentimento esteja presente entre os meus colegas de redação.

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