Se você não assistiu ao filme Canção de Baal, nem se dedicou a desbravar nos últimos vinte anos a cena musical menos arrumadinha de São Paulo, e muito menos se recorda de uma festa do banco Bamerindus em Florianópolis, talvez não saiba ou não lembre quem é Carlos Careqa.
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Nascido em Guatá – distrito de Lauro Müller, no Sul de Santa Catarina -, ele já quis ser padre, mas se apaixonou pela música e pelo teatro ainda em Curitiba, onde viveu dos cinco até perto dos 30 anos de idade.
Hoje morando em São Paulo, tem pelo menos quatro longas-metragens na carreira de ator e diversas trilhas sonoras produzidas para espetáculos teatrais.
Na capital catarinense, porém, uma de suas raras e últimas apresentações foi ainda nos anos 1990. Aos 51 anos, Careqa lança seu oitavo álbum – o confessional Made in China – e diz que prefere manter o status de artista independente.
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– Claro que a gente sempre se torna dependente de alguma coisa, mas percebo que comigo a coisa anda melhor. Tentei no começo da minha carreira fazer contato com as grandes gravadoras, mas nunca quiseram “me comprar”. Talvez pelo caráter da música. E disso não abro mão – afirma.
De fato, é possível que a música do compositor e do cantor Careqa não caia bem sobre qualquer ouvido. Ainda que Made in China, o álbum, seja um de seus trabalhos mais próximos do pop – sucedendo Alma Boa de Lugar Nenhum, disco de voz e piano -, a sequência de músicas começa minimalista com Calma Alma, feita apenas de arranjo de vozes.
As treze faixas seguintes recebem combinações de violão (nylon e aço), baixo, guitarra, teclado e bateria – tocados pelo produtor Marcio Nigro e pelo baterista Thiago Rabello -, com letras quase sempre íntimas, como em Crise de Identidade, em que declara: Ainda atravesso esse meu jeito de agonizar; e Existir, quando diz que Existir ainda vai levar os meus trocados, embora a primeira palavra possa soar como “resistir”.
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Careqa assina a composição de todas as músicas, com parceria de Marcelo Quintanilha, em O q q cê tem na cabeça, e de Adriano Sátiro, em Botão de Futebol. A faixa Ladro é dedicada a Chico Buarque.
Made in China, a canção-título que deu o tom inicial do projeto, compara a “chinalização” do consumo a outras problemáticas da globalização. Mas o pop do disco passa longe deste dos produtos chineses, reproduzidos ao infinito.
Embora a ideia primária fosse dar às gravações um ar de produção apressada, um ano e meio de dedicação de Careqa e Nigro renderam toques e retoques que se transformaram em um disco de aparência quase artesanal, revelada em um trabalho singular sobre a sonoridade.
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– O disco acabou indo por caminhos que nem eu mesmo sabia que iria. É como um namoro: você se encanta no começo, mas só depois vai realmente conhecendo quem a pessoa é – compara.
Foto: Made in China, Divulgação
Made in China, Carlos Careqa
Lançamento Barbearia Espiritual Discos
14 faixas
Preço médio: R$ 29,90