Em meio a uma crescente reação pública contra o excesso de turistas na Europa, um projeto na Itália está propondo o aumento acentuado das taxas de turismo. A finalidade é ajudar cidades do país que estão com crises financeiras a aumentarem as receitas, além de tornar quem visita o país “mais responsável”, de acordo com o Ministério do Turismo do país europeu. As informações são da Folha de S. Paulo.
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Associações que representam a indústria hoteleira e de turismo, no entanto, reprovam o projeto, que visa cobrar € 25 (25 euros) — equivalente a R$ 157 — por noite nos quartos de hotel mais caros.
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— O objetivo deve ser apoiar o crescimento, não desacelerá-lo — pontuou a Federalberghi, associação representante de hotéis pequenos e médios.
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Atualmente, a Itália enfrenta uma forte concorrência de turismo contra outros destinos europeus, e essa medida pode levar o país a perder a competição, segundo Barbara Casillo, diretora da Confindustria Alberghi, que representa hotéis maiores e redes globais. Ela disse, ainda, que já considera as taxas de turismo “muito altas”.
— Se assustarmos os turistas dando a impressão de que queremos obter o máximo que pudermos, não estaremos prestando um bom serviço ao país. Devemos ser muito cuidadosos — afirmou Casillo.
O Ministério do Turismo do país comunicou que está planejando “um diálogo” com órgãos relevantes do setor em setembro, sobre uma “possível proposta para modificar as regras da taxa de turismo.”
— Em tempos de excesso de turismo, estamos debatendo isso para que realmente ajude a melhorar os serviços e tornar os turistas que pagam mais responsáveis — disse a ministra Daniela Santanchè.
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A presidente da Federturismo, Marina Lalli, representante de todos os tipos de empresas de turismo, pontuou que muitas cidades já fazem o uso ilegal das receitas da taxa de turismo a fim de cobrir déficits no orçamento.
A lei atual do país faz a exigência de que as cidades utilizem desses fundos para pagar outros gastos que são relevantes para os turistas, como a sinalização multilíngue e manutenção de locais turísticos.
— Quando você vai consertar suas ruas cheias de buracos, e paga com o dinheiro que coleta da taxa de turismo, isso é realmente para os turistas, ou é uma coisa normal e ordinária que você deveria fazer na sua cidade? — questionou Lalli.
Finanças públicas em discussão
A discussão acontece em um momento em que a Itália passa por uma forte pressão acerca das finanças públicas. A dívida, de acordo com previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI), deve atingir quase 140% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024. Os custos anuais de serviço da dívida atingem, então, o mesmo patamar dos gastos com educação pública.
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Após o colapso na indústria de turismo causado pela pandemia de Covid-19, o país teve um índice positivo: a previsão era de que, em 2023, 65 milhões de estrangeiros visitassem a Itália, o que igualava o país ao nível de turismo do pré-pandemia.
Apesar disso, muitos italianos se mostram indignados com o “excesso de turismo”, que, de acordo com eles, faz os centros históricos das cidades perderem o caráter tradicional. Além disso, os apartamentos urbanos são, cada vez mais, alugados por um curto prazo.
Cidades italianas têm permissão para impor taxas de estadias noturnas tanto para visitantes estrangeiros quanto para italianos. Agora, elas variam de € 1 a € 5, o que equivale de R$ 6,28 a R$ 31,41 por pessoa por noite, a depender da quantidade de estrelas do hotel ou pousada.
Antes da pandemia, em 2019, quase 1.200 municípios do país arrecadaram um total de € 470 milhões, o que corresponde a R$ 2,95 bilhões em taxas de turismo. Os dados são do Banco da Itália, que informa também que as arrecadações subiram, em um valor estimado, € 755 milhões, ou seja, R$ 4,87 bilhões em 2023. Isso aconteceu após o governo Meloni permitir que destinos urbanos mais populares — com números de visitantes estrangeiros 20 vezes maiores que a população local — subissem as taxas de turismo para até € 10, o equivalente a R$ 62,80 por pessoa por noite.
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Veneza, um dos maiores pontos turísticos da Itália e do mundo, cobrou uma taxa de entrada para pessoas de fora do país que quisessem visitar o centro histórico da cidade.
Confira o aumento na taxa de turismo:
Vista pelo Financial Times, a última proposta de aumento de taxa do governo sugere o seguinte aumento:
Valor da diária do quarto | Taxa de turismo a ser cobrada por dia e por quarto |
Abaixo de 100 euros (R$ 628,19) | 5 euros (R$ 31,41) |
Entre 100 e 400 euros (R$ 628,19 a R$ 2.512,76) | 10 euros (R$ 62,82) |
Entre 400 e 750 euros (R$ 2.512,76 a R$ 4.711,43) | 15 euros (R$ 94,23) |
Acima de 750 euros (R$ 4.711,43) | 25 euros (R$ 157,05) |
Além da taxa “alta”, as novas regras também apontam que os fundos podem apoiar a coleta de lixo, o que revoltou o setor de turismo.
— É muito importante ter uma cidade com boa aparência, pelo menos nas áreas turísticas, mas não devemos usar o dinheiro dos turistas para consertar coisas que acontecem em locais que os turistas não vão — afirmou Lalli, da Federturismo.
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A nova proposta, no entanto, pode buscar apoio dos moradores de centros urbanos que lutam para lidar com o número excessivo de visitantes.
— O turismo sobrecarrega a natureza e toda a infraestrutura da cidade. A Itália está longe de ser o Butão, mas é absolutamente correto ter contribuições maiores dos turistas — disse Eike Schmidt, ex-diretor da Galeria Uffizi de Florença e agora membro do conselho da cidade.
*Sob supervisão de Andréa da Luz
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