Considerada uma doença controlada durante boa parte do século passado, a sífilis voltou a ser um problema de saúde pública nos últimos dez anos e foi considerada uma epidemia pelo Ministério da Saúde em 2016. Em Joinville, os diagnósticos têm crescido todos os anos e de forma assustadora: de 87 notificações durante todo o ano de 2010, saltou para 1.457 casos diagnosticados em 2017 até o último dia 24. Isto significa uma média de cinco casos por dia neste ano.
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O número representa ainda aumento de 1.574% em apenas sete anos e segue a projeção estadual e nacional, ainda que em níveis mais baixos. No Brasil, os casos de sífilis aumentaram 5.000% entre 2012 e 2017. A Secretaria Municipal de Saúde, com orientações do Ministério da Saúde, tem desenvolvido um plano de ações e estratégias para a prevenção da doença em Joinville, com a intenção de reverter este quadro até 2019.
A banalização dos riscos da doença, que faz parte do quadro das sexualmente transmissíveis, é um dos principais motivos para o crescimento do número de pessoas infectadas com sífilis, aponta a enfermeira Ana Carolina Klein, da Vigilância Epidemiológica de Joinville. Segundo ela, a população, em especial os jovens, não enxerga mais perigos nas doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) como as gerações anteriores, que viam no diagnóstico uma sentença de morte.
Atualmente, a sífilis tem cura: um tratamento com injeções de penicilina em seis doses, oferecido gratuitamente pelo SUS.
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– Falta o uso de preservativo nas relações sexuais, porque a sífilis dificilmente é transmitida de outra forma que não a sexual. Não é porque a pessoa é “bonitinha”, não aparenta ter nenhuma doença, que não pode estar contaminada – afirma Ana Carolina.
Para realizar o tratamento, são necessárias três visitas à unidade de saúde para aplicação das injeções de penicilina benzatina (Benzetacil), duas a cada encontro, realizadas num intervalo de sete dias. É simples, mas dolorido e, em muitos casos, os pacientes começam e não concluem o tratamento. Também é comum que, entre casais, apenas um procure ajuda e tome o medicamento, levando à recontaminação porque o companheiro ou a companheira não realizou o tratamento. Estas situações são percebidas até em famílias de gestantes, que descobrem a doença durante o pré-natal e voltam a ser infectadas antes do parto, levando à sífilis congênita, transmitida da mãe para o bebê.
– A gestante nunca se recusa a cumprir o tratamento, mas há parceiros que não o fazem. As DSTs ainda são um tabu – lamenta Ana Carolina.
Perigo maior durante a gravidez
Em 2010, não houve nenhuma criança diagnosticada com sífilis, enquanto, entre janeiro e outubro de 2017, já foram registrados 45 casos. A erradicação da sífilis congênita é prioridade para a Secretaria da Saúde, já que as consequências nestes casos podem ser muito graves. Os bebês contaminados com sífilis podem apresentar surdez, cegueira, deficiência mental e má-formação, além de levar ao aborto espontâneo ou à morte ao nascer. No caso dos recém-nascidos, o tratamento é feito com procaína.
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Entre os planos de ação da Secretaria de Saúde estão a ampliação da testagem rápida como rotina das unidades de saúde pública e ações pontuais, como eventos voltados à comunidade. Os médicos também estão sendo orientados a pedirem o exame, mesmo que não haja suspeita da doença. Há também intenção de monitorar de forma mais eficaz os pacientes que estão em tratamento, para garantir que estes concluam o processo e um plano de educação permanente no município, entre outras ações internas na Secretaria de Saúde.
Sintomas e fases
Sífilis primária
Duração: de 4 a 8 semanas
Sintomas: feridas no local de entrada da bactéria (pênis, vulva, vagina, colo uterino, ânus, boca ou outros locais da pele). Como muitas vezes não é num local visível e não dói, não coça, não arde e não tem pus, a ferida pode desaparecer e a pessoa não perceber, evoluindo para a sífilis secundária.
Sífilis secundária
Duração: de 2 a 6 meses
Sintomas: os sinais aparecem entre seis semanas e seis meses do aparecimento da ferida inicial e após a cicatrização. Ocorrem manchas no corpo, principalmente nas palmas das mãos e plantas dos pés. Elas não coçam, mas podem surgir ínguas no corpo.
Sífilis latente
Duração: de 2 a 40 anos
Sintomas: os sintomas desaparecem.
Sífilis terciária
Duração: até a morte
Sintomas: lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas, podendo levar à morte.
Formas de contágio
– Em relação sexual sem camisinha com alguém infectado, inclusive em sexo oral.
– Por transfusão de sangue contaminado (situação rara nos últimos 20 anos, devido ao controle sobre a transfusão).
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– Da mãe infectada para o bebê durante a gestação ou o parto.