A grama de Wimbledon não é um piso qualquer. É sagrado para o mundo do tênis. Abriga, desde 1877 o torneio mais antigo do mundo. Ficar a poucos metros do gramado da quadra central, ao lado da cadeira da arbitragem (aqui chamada Umpire’s bridge), já é algo especial.
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A reportagem do DC fez mais: naquele lugar onde o tênis mundial cresceu e apareceu e ídolos foram forjados, entrevistamos Sir Eddie Seaward. Ele não joga tênis, mas tem o respeito de quem entende do assunto, afinal é do seu trabalho, cuidando da “verdinha”, é que as famosas bolas rápidas (fast balls) consagram ou colocam o jogador em desgraça.
E a conversa com Seaward, um senhor de fala introvertida, é algo especial porque ele, após 23 anos, está se aposentando. Vai deixar o ofício de cuidar da grama e, segundo ele mesmo avisa, com aquele sarcástico humor inglês, “curtir o ‘resto’ da vida”.
Antes da retirada estratégica, Seaward teve um desafio: apenas 21 dias após terminar o torneio de Wimbledon, grand slam top, precisou colocar as quadras em condições de competição. Um dia de trabalho para a Olimpíada por ano de serviços prestados.
– Não foi fácil, normalmente, após o uso pesado da grama no nosso mais forte torneio, é preciso de dois a três meses, foi preciso usar alguns atalhos, mas deu certo – comemorou.
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As constantes chuvas, que vão e vem e adiam jogos, não preocupam Seaward:
– Estamos preparados, é um inconveniente que convivemos sempre e que precisamos superar conforme o que acontece e desta vez tem chovido várias vezes ao dia, o que não é bom, mas não assusta, temos uma equipe muito bem treinada para cobrir rapidamente a quadra.
A simplicidade do “homem da grama” é enorme e ele não se sente especial, embora saibamos que seja, sim:
– Apenas um trabalho, que domino muito bem, não jogo mas os que jogam dependem de mim, gosto de deixar a grama bem rápida, mas é para todos, não favorece nenhum jogador.
Roger Federer, sete vezes vencedor do torneio de Wimbledon (um dos maiores ganhadores), e que vai disputar a final olímpica neste domingo, agradece as condições encontradas. Ele que só ganhou ouro em duplas, em Pequim 2008, desta vez não terá Nadal, campeão de simples em 2008 pela frente. Tem que agradecer a “mãozinha” extra do destino e, também, de Sir Seagrave.
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007, a serviço da rainha e da equipe do DC
Não é fácil entrevistar Sir Seaward. Uma simples busca no Google já mostra que não foram muitos que tiveram acesso exclusivo ao funcionário mais importante de Wimbledon. Percebemos o porquê ao tentar marcar o encontro. Foi solicitado à equipe um e-mail formal, inclusive com termos específicos de um inglês escrito tradicional.
Recorremos a quem entende do assunto, no cerimonial do hotel em que estamos hospedados, e enviamos a solicitação. Apenas começava a tarefa, digna de uma missão dada ao 007, o famoso agente à serviço da rainha.
A confirmação do pedido veio dois dias depois. Quando a equipe iria se deslocar, na última segunda-feira, o “meeting” foi desmarcado: as chuvas anteciparam a necessidade de Seaward estar mais cedo em ação. Ficou para o dia seguinte.
Optamos então por acionar um 007 caseiro, o motorista Gilson Almeida, e apelar ao pelo deslocamento de carro, pois o metrô exige uma caminhada de até 20 minutos até o local.
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A intermediação por telefone após a confirmação foi sempre feita por Mrs Susan, uma solícita secretária do complexo. Saímos uma hora antes, de carro, mas houve atraso no trânsito. Infelizmente o carro do motorista Gilson não é um Aston Martin.
Chegamos cinco minutos depois do combinado, o que provocou uma mudança no status nas conversas com Mrs Susan. Ela protagonizou uma série de telefonemas nervosos e ansiosos, com o que seria um inaceitável atraso de cinco minutos para o encontro.
Atrasos são violações morais na Inglaterra, mas em Wimbledon assumem proporções gigantescas, talvez turbinado pelos adiamentos provocados pela chuva.
Assista à entrevista com Sir Eddie Seaward