Jacques Westphalen Naschenweng, hoje com 50 anos, coordenava a equipe de técnicos para a emenda dos cabos na galeria da Ponte Colombo Salles. Após a explosão e o fogo, ele e o colega Evaldo Rocha Floriano optaram por correr para o lado onde só havia buracos de ventilação – sem saídas – e dessa forma foi necessário pular ao mar.
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Dez anos depois, Naschenweng mantém as atividades na Celesc e também o endereço da época, um apartamento no Bairro Estreito, em que da garagem é possível ver as pontes. Localizado em casa pelo DC, na quarta-feira à noite, foi objetivo ao interfone quando indagado para conversar sobre o Apagão:
– Não tem conversa – disse, desligando em seguida.
Naschenweng também não atendeu as ligações feitas para o telefone ao longo da semana. No sábado, após a publicação da reportagem sobre o apagão, a equipe do DC tentou novamente contato com o eletricista em seu apartamento. O local estava vazio quando, por volta de 21h, a esposa de Naschenweng estacionou com o carro na garagem. Ela disse que não leram o jornal e que o eletricista não tinha nada a comentar sobre o assunto.
No domingo, descobriu-se que Naschenweng estava em Garopaba, mas a reportagem não conseguiu localizá-lo. No depoimento dado ao Ministério Público, em 16 de janeiro de 2003, o técnico industrial, que atuava desde 1984 na Celesc, garantiu que a atuação dos colegas não destoava da normativa que regula os serviços.
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Em 2003, Naschenweng considerava as duas passarelas que dão acesso ao local como de alto risco. Dizia que a equipe era capacitada, tanto que ele recebera treinamento na Cemig (Minas Gerais) para usar o liquinho. Nas palavras de Naschenweng, a equipe não contava com qualquer equipamento de prevenção a incêndios.
Segundo o funcionário, a empresa não avaliava o ambiente interno da Ponte Colombo Salles como espaço confinado. Hoje a avaliação é feita antes dos serviços. À Promotoria, disse também que antes do acidente não se submeteu a cursos para trabalhar em espaços confinados. Naschenweng declarou aos promotores que não havia como usar energia elétrica no local e que a empresa não dispunha de emenda fria.
No lugar, foi utilizado um maçarico por ser mais leve e mais fácil de transportar. O liquinho foi adquirido em São José pela própria equipe da Celesc, “um ou dois” dias antes da manutenção, segundo informou Naschenweng no inquérito. Ele afirma que realizou testes na peça, verificando se havia problemas na mangueira. Embora não fosse nova, estava em boas condições e era adequada à alta pressão.
Disse também que o uso do liquinho não é comum na empresa e que, após a mudança das normas de segurança, seria usada emenda a frio. Naschenweng ainda informou que o maçarico ficou aceso entre 15 e 20 minutos antes do incêndio começar. Segundo o ponto de vista dele, após a primeira explosão o fogo surgiu entre a parede e os cabos, de baixo para cima. Ouviu outras duas explosões depois da primeira. O eletricista negou ter sentido cheiro de gás antes de o acidente ocorrer.
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– A gente respeita o silêncio deles. Na época, eles foram muito julgados pela imprensa, mas foi um acidente, não foi falha deles. Isso ficou claro com o depoimento dos bombeiros e dos técnicos – declarou na sexta-feira ao DC o coordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Energia de Florianópolis e Região, Mário Jorge Maia.
Segundo o sindicalista, em 2003 os técnicos foram orientados a não falar na entrevista coletiva por um advogado e pelo próprio sindicato.