Não poderia existir época pior para uma paralisação das agências bancárias do que o início do mês, tempo de pagar contas, impostos e de receber salário e pensões. Na manhã desta quinta-feira, a greve dos funcionários de bancos deixou muita gente desnorteada no Centro de Florianópolis.

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No Pró-cidadão, central de atendimento da prefeitura que fica ao lado da Catedral Metropolitana, as pessoas ficavam no mínimo uma hora na fila de espera para renegociar a dívida do IPTU. De acordo com os atendentes, uma dúvida comum das pessoas que tinham parcelas com valores acima de R$ 2 mil era a de como pagariam o débito deste mês, já que a maioria dos bancos estava fechado e as lotéricas não aceitavam pagamentos a partir deste limite.

Um dos prejudicados foi o tecnólogo em artes gráficas Leonidas Dias, 32 anos. Ele estava revoltado por ter de esperar uma hora e meia na fila e não poder quitar sua dívida no local, que tem uma agência da Caixa Federal lacrada pelos grevistas, nem na casa lotérica. Vale lembrar, no entanto, que o IPTU é um tributo pode ser pago nos caixas eletrônicos.

Apesar dos cartazes de cor laranja anunciarem “Estamos em Greve”, a agência do Itaú, na Rua Tenente Silveira, funcionava normalmente nesta quinta. A informação da gerência foi a de que o banco havia negociado com o sindicato dos bancários de Florianópolis e região (SEEB) para abrir a agência, mas com a condição de que os cartazes continuassem colados no lado de fora.

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O aposentando Leo Fernando Mazzuco da Silva, 54, encontrou por acaso o estabelecimento da Tenente Silveira aberto. Como faz todo início de mês, primeiro ele foi até a agência da Praça XV de Novembro, mas a encontrou fechada.

– Tenho epilepsia e é complicado ficar andando de um lado para o outro – comentou o aposentado.

A gerência do Itaú da Tenente Silveira deixou clara a resistência dos seus funcionários em participar da greve. De acordo com o banco, grevistas do sindicato acompanhados de membros do Movimento Sem Terra (MST) lacraram o local bem cedo, pela manhã, antes da chegada dos bancários.

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A assessoria do SEEB confirmou a participação do MST na greve, dizendo que a integração dos movimentos é legítima e que a causa de cada um deles é apoiada pelas duas categorias.

Em Santa Catarina, os bancários estão em greve há 15 dias. As principais reivindicações são o aumento salarial de 11,93% – 5% de aumento real -, maior participação sobre lucros e resultados e fim das metas para a venda de produtos do banco por seus funcionários.

Até agora a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) apresentou uma única proposta – aumento salarial de 6,1% – e não há um encontro de negociação marcado. De acordo com João Barbosa, presidente da Federação dos Empregados em Estabelecimentos Bancários de SC (Feeb), são 426 agências fechadas em todo o Estado.

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Pensionista de 79 anos voltou para casa de bolso vazio

Nesta quinta, a pensionista Dulcinéia Testa, de 79 anos, estava em uma agência do Banco do Brasil, no Centro de Florianópolis pela segunda vez em três dias para tentar receber o seu benefício.

O valor, que ultrapassa os R$ 1 mil, deveria estar nas mãos dela desde o dia 30 de setembro, mas como a pensionista não sabe usar os caixas eletrônicos e não lembra a senha do cartão, não conseguia sacar o dinheiro. Moradora de Palhoça, Dulcinéia pegou um ônibus para se deslocar até o Centro da Capital.

– Venho sempre nesta agência porque as meninas já me conhecem – explicou.

O problema é que na agência não havia funcionários para auxiliá-la. A pensionista, então, desistiu de retirar o benefício na agência e disse que buscaria ajuda em outro ponto de atendimento em Palhoça.

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– As velhinhas, como eu, não têm culpa pela greve. Agora estou me virando como dá sem o dinheiro – reclamou.

Mas não é só a população que sente o impacto dos bancos fechados. Lideranças da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) se reuniram ontem, em Brasília (DF), para encaminhar um ofício à Federação Brasileira de Bancos (Febraban) pedindo um acordo imediato entre bancários e empresários. A medida é uma forma de evitar que a greve se prolongue até o quinto dia útil do mês, período em que a maioria das empresas fazem o pagamento de salários.

– É neste momento que milhões de consumidores recorrem aos bancos para sacar dinheiro, pagar boletos e compensar cheques. É uma das melhores semanas para o consumo interno. Se a greve se prolongar e alcançar o quinto dia útil do mês, o comércio pode sofrer perdas na ordem de 30% no período – afirmou o presidente da CNDL, Roque Pellizzaro Junior.

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