O evento era como uma posse, só que ao contrário. Até mesmo o discurso do então prefeito Napoleão Bernardes (PSDB) sobre pais, família e amigos, era parecido com aquele de cinco anos e quatro meses atrás, quando ele assumia pela primeira vez a prefeitura de Blumenau. Na escadaria do Teatro Carlos Gomes, mulheres tocando clarineta e flauta transversal davam boas vindas àqueles que se amontoavam à procura de alguma cadeira dentro do Auditório Heinz Geyer.
Continua depois da publicidade
Era tanta, mas tanta gente, que só para a cerimonialista citar as autoridades presentes, foram 18 minutos, somados os momentos em que parou para anunciar que alguém estava ali, nas cadeiras do teatro. Políticos dos mais diversos municípios de Santa Catarina – até de São Carlos, no extremo Oeste do Estado – acompanharam o evento.
Tudo para acompanhar o dia em que o comando da cidade trocava de mãos.
Embora a cerimônia fosse a renúncia de Napoleão, havia a expectativa de que Mário Hildebrandt (PSB), seu então vice-prefeito, fosse a estrela da noite. Mas não foi o que aconteceu. O centro das atenções ficou voltado ao tucano, e não ao homem nascido em Mirim Doce, no Alto Vale, e que nesta sexta-feira assume a cadeira mais importante do Executivo de Blumenau.
Nos discursos, Hildebrandt falou primeiro, indicando que o gran finale ficaria a cargo de Napoleão. Mesmo assim conseguiu ter o destaque típico de um prefeito. Ligado à igreja, citou dezenas de vezes Deus, família, e mostrou gratidão ao seu colega da chapa nas eleições de 2016. Foram raras as vezes em que ele aumentou o tom, e em uma delas comentou sobre o seu posicionamento à frente da prefeitura.
Continua depois da publicidade
– Napoleão, vá tranquilo. Estarei dedicando cada um dos meus dias até 31 de dezembro de 2020 para terminarmos essa ação que começamos juntos, que é o pacto por Blumenau. Estarei cuidando de cada um dos cidadãos – exaltou Hildebrandt, prefeito a partir desta sexta.
Ao fim, os dois se abraçaram, com um beijo na testa do agora ex-chefe do executivo no atual e uma conversa de nove cronometrados segundos no pé do ouvido. Sob os olhares de nomes fortes na política, como os senadores Dalírio Beber (PSDB) e Paulo Bauer (PSDB), então governador licenciado Raimundo Colombo (PSD), deputados estaduais e federais, era a hora de Napoleão falar. Antes, porém, um protesto. Isso porque um conhecido opositor interrompeu o discurso do então prefeito e foi contido à força por assessores de secretários da prefeitura.
Passada a turbulência, Napoleão ocupou a tribuna durante quase uma hora, discursou em tom de prestação de contas, falou de projetos e fez subir ao palco personalidades da região. Esportistas, paradesportistas, servidores públicos.
– Se a política é vocação, a política também é um exercício diário de renúncia – citou Napoleão no início do discurso, ao se desculpar com a comunidade, colegas e familiares e fazer uma analogia com o motivo do evento da noite, que era sua saída do governo municipal.
Continua depois da publicidade
A partir desta sexta-feira, portanto, Napoleão não pisa mais no terceiro andar do prédio às margens da Avenida Beira-Rio como prefeito. Agora, é a vez de Mário que, sem um vice, terá a responsabilidade por quase dois anos de liderar Blumenau.