O presidente sírio, Bashar al-Assad, encorajado pelos avanços de seu exército, disse, em entrevista exclusiva à AFP, estar determinado a recuperar o controle de toda a Síria, no momento em que a comunidade internacional procura parar os combates.
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A entrevista foi realizada na última quinta-feira, no escritório de Assad em Damasco, poucas horas antes do anúncio do Grupo internacional de Apoio à Síria, reunido em Munique, sobre o acordo alcançado entre Estados Unidos e Rússia para um cessar das hostilidades por uma semana e sobre um maior acesso da ajuda humanitária aos civis.
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De terno azul e sorridente, o chefe de Estado sírio estava visivelmente estimulado pelas vitórias recentes de seu exército, após uma série de derrotas que fizeram com que perdesse várias províncias nos dois últimos anos.
No poder desde 2000, Assad afirmou que está disposto a negociar com a oposição, enquanto continua a guerra contra os insurgentes armados.
A guerra na Síria deixou mais de 260 mil mortos em quase cinco anos e forçou milhões de pessoas ao exílio.
– Não é lógico dizer que há uma parte do nosso território à qual nós renunciamos – declarou.
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A reconquista de todo o território sírio, atualmente dividido entre partes controladas pelo regime, rebeldes e jihadistas, é um objetivo “que buscamos alcançar sem hesitação (…) sendo capazes ou não”, acrescentou o presidente de 50 anos. Ele admitiu ser “difícil” dizer quando a paz retornará ao país.
– Atualmente, como os terroristas são abastecidos através da Turquia, Jordânia e até Iraque, onde o Daesh (acrônimo em árabe do grupo jihadista Estado Islâmico) se encontra com o apoio saudita, turco e catari, é evidente que os prazos para uma solução são mais longos e os preços, mais elevados – afirmou.
Assad afirmou acreditar totalmente “nas negociações e na ação política”, mas fez uma ressalva:
– Contudo, negociar não significa que vamos parar de combater o terrorismo. As duas vertentes são indispensáveis na Síria (…) A primeira vertente é independente da segunda.
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O regime sírio chama de “terroristas” todos os seus opositores armados, sem distinção entre moderados e jihadistas.
A entrevista à AFP é a primeira de Assad a um meio de comunicação desde o fracasso no mês passado das negociações de Genebra e o lançamento pelo exército de uma vasta ofensiva militar na região de Aleppo (norte), apoiada pela aviação síria.
Esta ofensiva forçou dezenas de milhares de sírios a fugir dos combates e tentar se refugiar na Turquia. Segundo Assad, a batalha na região de Aleppo tem como objetivo “cortar a rota entre esta província e a Turquia”, e não retomar o controle sobre a segunda maior cidade do país.
A importância de cortar esta rota é que ela constitui “a principal via de abastecimento dos terroristas”, declarou na entrevista em referência aos rebeldes apoiados pela Turquia, Arábia Saudita e Catar.
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Em especial, Zero Hora contou a história de uma família de refugiados sírios. Clique na imagem abaixo para acessar a reportagem:
Risco de intervenção turca
Neste contexto, o presidente sírio considerou que existe o risco de uma intervenção militar turca e saudita na Síria, mas que suas forças “vão enfrentar” qualquer ação externa.
– É uma possibilidade que eu não posso excluir pela simples razão de que (o presidente turco Recep Tayyip) Erdogan é alguém intolerante, radical, pró-Irmandade Muçulmana e que vive o sonho otomano. (…) E o mesmo acontece com a Arábia Saudita. De qualquer forma, uma ação tal não seria fácil para eles, e nós com certeza vamos enfrentar – garantiu.
Evocando a crise migratória, o presidente sírio afirmou que a Europa deve criar as condições para ajudar no retorno dos refugiados aos seus países.
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– Eu vou pedir aos governos europeus que contribuíram diretamente para o êxodo (dos refugiados sírios), proporcionando uma cobertura aos terroristas e impondo o embargo contra a Síria, que ajudem no retorno dos sírios às suas casas – afirmou, acrescentando que “todo esse espetáculo doloroso nos faz sofrer como sírios”.
Ele também negou categoricamente as acusações da ONU de que seu regime é responsável por inúmeros crimes de guerra, afirmando que as instituições das Nações Unidas são “dominadas pelas potências ocidentais” e que “a maior parte de seus relatórios são politizados”. Na última segunda-feira, os investigadores da ONU sobre a Síria acusaram Damasco de “extermínio” de detidos em suas prisões.
– O que refuta as declarações ou relatórios dessas organizações primeiro é que não trazem evidências – afirmou Assad. – É por isso que eu não temo nem ameaças, nem essas alegações – ressaltou, quando perguntado se não tinha medo de prestar contas a um tribunal internacional.
– Há uma diferença entre crimes individuais e uma política de massacre sistemático adotado por um Estado. Eu já disse que há vítimas inocentes da guerra – acrescentou. O chefe de Estado reconheceu, no entanto, que houve “erros na Síria, o que é normal”.
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Assad advertiu ainda que a França deve “mudar sua política” na Síria, a fim de “agir para combater o terrorismo”, considerando que não cabe ao seu país fazer “um gesto” para melhorar as relações bilaterais.
Questionado sobre suas expectativas quanto à saída do ministro das Relações Exteriores francês Laurent Fabius, Assad declarou nesta entrevista exclusiva à AFP que “a mudança de personalidades não são verdadeiramente de grande importância” e que são “as mudanças políticas” que contam.
Por fim, perguntado se pensava em entrar para a História como o salvador da Síria ou como o homem que a destruiu, ele respondeu com um sorriso:
– Tudo (depende) de quem escreverá a História. Eu procuro defender a Síria (…) e não defender meu cargo – concluiu.
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