Em entrevista ao jornal Washington Post, Dilma Rousseff atribuiu as críticas sobre seu modelo de gestão a um “preconceito de gênero”. A declaração foi dada às vésperas da visita da presidente aos Estados Unidos, onde ela se encontrará com Barack Obama na terça-feira.

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Ao ser questionada sobre uma mudança de perfil – Dilma era considerada centralizadora, mas começou a dar poder a outras pessoas, como o vice Michel Temer, depois da reeleição -, a presidente questionou:

– Alguma vez você já ouviu alguém dizer que um presidente do sexo masculino coloca o dedo em tudo? Eu nunca ouvi falar disso. (…) Acredito que há um pouco de preconceito sexual ou um viés de gênero. Estou descrita como uma mulher dura e forte que coloca o nariz em tudo o que não deveria, e eu estou cercada por homens muito fofos – ironizou.

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Além de falar sobre as medidas de austeridade adotadas em seu segundo mandato, a presidente comentou, ainda, a baixa taxa de aprovação de seu governo – que chegou a 11%, o menor índice desde que chegou ao Planalto.

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– É preocupante, mas não significa que eu vou arrancar meus cabelos ou perder as estribeiras. Você tem que viver com as críticas e com o preconceito. Eu não tenho qualquer problema em cometer erros; quando se comete um erro, é preciso mudar. Não há plano pronto para dizer: “Este é o caminho certo, este é o caminho errado.” Em qualquer atividade, incluindo o governo, você deve ser incessantemente fazer ajustes e mudanças. Se não o fizer, a realidade não vai esperar por você. O que muda é a realidade.

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Perguntada sobre o escândalo de corrupção na Petrobras, Dilma disse que o governo “está apoiando totalmente as investigações”. A presidente destacou a diminuição da desigualdade social durante o seu governo. Sobre a possibilidade de a crise e o aumento do desemprego levarem as pessoas a tomarem as ruas, foi taxativa:

– Eu não acredito.

Dilma e Obama discutirão agenda climática

Quando se encontrarem em Washington na próxima terça-feira, 30, os presidentes Dilma Rousseff e Barack Obama darão sinais de que viraram a página da crise gerada pela espionagem dos Estados Unidos e que estão prontos para colaborar em uma série de temas, entre os quais o combate à mudança climática terá papel central.

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Também anunciarão a intenção de dobrar o comércio bilateral em dez anos, no momento em que o Brasil olha para além de suas fronteiras em busca de oxigênio para sua economia. O encontro terá, como prioridade, o futuro da relação entre os países.

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Com apenas dois meses de preparação, a agenda da visita será uma colcha de retalhos, com acordos de facilitação de comércio, defesa, educação e ciência e tecnologia. O anúncio em relação ao clima foi a maneira encontrada pela Casa Branca de alinhar a visita às prioridades internacionais de Obama e vincular a relação bilateral a uma questão global.

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O americano trabalha para deixar um legado nessa área e pressiona outros países a assumirem compromissos ambiciosos na conferência sobre o clima em dezembro, em Paris.

Os EUA gostariam que o Brasil adotasse posição semelhante à da China e anunciasse metas de redução de emissões ao fim do encontro bilateral, mas isso não deve ocorrer. Segundo uma fonte brasileira, o país não tem intenção de divulgar seus compromissos de Paris nos Estados Unidos.