O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, esteve em Florianópolis na manhã desta sexta-feira para uma palestra sobre a conjuntura atual do país. O evento abriu o projeto denominado “Momento Brasil”, organizado pela Associação Catarinense de Emissoras de Rádio e Televisão (Acaert), e ocorreu na sede da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), no bairro Itacorubi.
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Mourão chegou ao local por volta das 11h30min, acompanhado do governador Carlos Moisés. Fez uma rápida fala de cinco minutos apenas a fotógrafos e cinegrafistas. Ele respondeu perguntas apenas de uma profissional que representou a Acaert, que organiza o encontro, e nesse pronunciamento não comentou temas polêmicos das últimas semanas, como as decisões que envolvem as investigações ligadas a relatórios emitidos pelo Coaf e a possível liberação parcial de FGTS.
O vice-presidente se disse satisfeito por poder visitar Santa Catarina, onde ele e Jair Bolsonaro tiveram grande votação, e antecipou que o intuito da palestra era falar sobre as ações do governo para eliminar o que ele definiu como os dois principais problemas do país.
— Tenho falado sobre como o Brasil está inserido nisso (contexto atual do mundo) e como o governo federal busca resolver os dois grandes problemas econômicos, que são o desequilíbrio fiscal e a agenda de produtividade, que é baixa por fatores como infraestrutura logística deficiente, a questão tributária e o famoso custo Brasil — antecipou.
Pouco depois do meio-dia, uma hora e meia após o horário inicialmente previsto, Mourão subiu ao palco do auditório da Fiesc, onde os 485 lugares estavam lotados por convidados, entre empresários e políticos.
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Mourão falou por uma hora e começou a apresentação com dados do contexto internacional desde o início do Século 20 e fatos recentes como catástrofes climáticas, guerra cibernética e a possível saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit).
O vice-presidente que já esteve envolvido em disputas sobre protagonismo com o presidente Jair Bolsonaro no início do ano, e que nos últimos meses esteve mais distante da exposição e das afirmações aos microfones, falou sobre o contexto nacional e internacional, mas não hesitou em dar opiniões que são motivos de controvérsias entre alas ligadas ao presidente Bolsonaro.

Foi assim ao afirmar categoricamente a existência de mudanças climáticas em curso — um dos filhos do presidente, Carlos Bolsonaro, recentemente questionou o aquecimento global em mensagens no Twitter. O ideólogo Olavo de Carvalho, próximo de Bolsonaro, mas que já trocou críticas com Mourão pela imprensa, também contesta as mudanças no clima.
Mourão evidenciou a importância do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) no combate à corrupção e defendeu ressocialização e separação nos presídios por tipo de crimes, tema que costuma ser tratado com rigor pelo presidente Bolsonaro.
Ele pregou ainda “flexibilidade e pragmatismo” nas relações internacionais — sem, no entanto, dar opinião sobre o estreitamento da relação entre Brasil e Estados Unidos.
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— Se há uma luta, se tem um dilema de Tucídides (filósofo grego) girando aí, não podemos estar pendurados nem no A, nem no B. Temos que nos dar bem com A e nos dar bem com B. E lembrar sempre que entre países as políticas são de Estado, e não do governo de plantão — apontou o presidente.
Em um tom que lembrou aulas de história e geopolítica, com as datas sempre na ponta da língua, o vice-presidente passeou pela trajetória de regimes da América Latina como as ditaduras na Venezuela. Avaliou também a trajetória econômica do Brasil desde a criação do Plano Real, passando pelos governos Lula e Dilma, onde criticou a gestão econômica petista, até chegar ao momento atual.
Ainda em tom didático, Mourão chegou a citar frase de Machado de Assis para ilustrar as dívidas contraídas pelo país ao longo desse período e fez analogias, como o fato de o país estar “dentro de uma garrafa” e ter como gargalos as mudanças feitas na reforma da Previdência.
Entre a narrativa quase cronológica feita pelo vice-presidente na palestra, havia espaço também para referências que agradavam a parte do eleitorado dele que estava presente na plateia. Alguns exemplos são as menções aos valores da família, a necessidade de mudanças na legislação para tornar as penas de crimes mais rigorosas e o clamor por uma reforma política — Mourão afirmou que "os partidos deixaram de representar a população" .
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Para sair do momento conturbado e alcançar a retomada do crescimento econômico, Mourão definiu como duas principais medidas o aumento na agenda de produtividade, hoje considerada baixa segundo ele por questões como infraestrutura logística deficiente, e a redução no déficit fiscal. Aqui, enalteceu o avanço que a reforma da Previdência pode representar no campo das contas públicas, e usou nova figura de linguagem para se fazer entender.
— É a teoria da pizza. Se uma fatia dessas aumenta mais, por exemplo despesas com Previdência e pagamento de funcionários, as outras fatias são comprimidas, e aí falta recurso para as demais atividades — apontou.
No campo da produtividade, Mourão defendeu a privatização de empresas estatais, que segundo ele pode render R$ 500 bilhões aos cofres públicos. Saiu em defesa também do programa de concessões para alavancar a infraestrutura, que seria benéfica ao setor produtivo. Os outros canais defendidos por ele para tornar o país mais eficiente foram a reforma tributária, a abertura comercial e a desburocratização, segundo ele ligada à MP da liberdade econômica.
— Nos próximos dois, três anos, estaremos com o Brasil recolocado nos trilhos, iniciando uma era de desenvolvimento sustentável. Porque o Brasil é muito maior que isso tudo, e nós, brasileiros e brasileiras, somos imbatíveis — encerrou o vice-presidente, para uma plateia entusiasmada de empresários.
Após a palestra, o vice-presidente Mourão participa de um almoço reservado com convidados antes de retornar a Brasília, o que deve ocorrer por volta das 16h.
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Vamos buscar a reforma (tributária) que realmente racionalize esse sistema caótico que temos e, ao mesmo tempo, ao longo de um período de 10 anos, vá paulatinamente reduzindo essa carga tributária que temos.
Governador defende revisão do modelo federativo ao vice-presidente
O governador Carlos Moisés falou antes do vice-presidente, elogiou os critérios na nomeação de ministros e pediu a revisão do modelo federativo, um tema que costuma ser defendido pelo presidente. Segundo Moisés, isso permitiria que os Estados se desenvolvam e Santa Catarina possa receber um retorno maior dos tributos que arrecada.
O presidente da Acaert, Marcello Corrêa Petrelli, lembrou que no Estado a aliança de Bolsonaro e Mourão fez mais de 70% dos votos no segundo turno e que, por isso, existe uma relação de confiança e de expectativa dos catarinenses com o governo.
Ele descartou a apresentação de reivindicações locais ao vice-presidente no encontro, mas afirmou a intenção de pedir uma maior presença dele e do presidente em Santa Catarina e de uma compreensão sobre problemas como o retorno dos impostos arrecadados no Estado.
— A responsabilidade da mídia e da imprensa regional é criar esse relacionamento para que a gente possa ter o entendimento do que são os propósitos, os interesses e os entendimentos do governo federal e levar a população. Fazer esse canal de comunicação entre aquilo que se precisa fazer e o que se precisa compreender, para que haja uma sintonia como foi no caso da reforma da Previdência — pontuou.
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O senador Dario Berger (MDB), os deputados federais Daniel Freitas (PSL) e Helio Costa (PRB) e o vice-prefeito de Florianópolis, João Batista Nunes, tiveram a presença anunciada pelo vice-presidente no palco.
Mourão ainda deve retornar a Santa Catarina em outubro, para participar do Congresso Brasileiro de Economia, no Centrosul.