Durante o discurso em Nova York nesta terça-feira (24), na abertura do debate de chefes de Estado e de governo da 79ª edição da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) falou, dentre outros assuntos, sobre a crise climática que afeta o planeta e, principalmente, o Brasil. Ele abordou a enchente história do Rio Grande do Sul, a estiagem da Amazônia e os incêndios florestais que se alastram pelo país e já atingiram 5 milhões de hectares somente no mês de agosto. As informações são do g1.

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Lula abriu o debate geral, sendo o primeiro chefe de Estado a discursar. Já é tradição que o Brasil faça isso no encontro anual dos líderes dos mais de 190 países da ONU.

Na Assembleia Geral, o presidente estava acompanhado da primeira-dama, Janja, dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL); do ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira; e do assessor especial e ex-chanceler Celso Amorim.

Alguns dos ministros que acompanham a viagem, como Marina Silva (Meio Ambiente) e Fernando Haddad (Fazenda), ficaram impossibilitados de acompanhar as falas no plenário das Nações Unidas, devido à falta de espaço para as delegações.

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Abordando a crise climática do planeta, Lula disse que o mundo está “condenado à interdependência”.

— O planeta já não espera para cobrar da próxima geração, e está farto de acordos climáticos que não são cumpridos. Está cansado de metas de redução da emissão de carbono negligenciadas, do auxílio financeiro aos países pobres que nunca chega — começou.

Ele ainda mencionou o negacionismo, que está sucumbindo perante às evidências do aquecimento global, além de pontuar que 2024 caminha para ser o ano mais quente da história moderna.

— No Sul do Brasil, tivemos a maior enchente desde 1941. A Amazônia está atravessando a pior estiagem em 45 anos. Incêndios florestais se alastraram pelo país e já devoraram 5 milhões de hectares apenas no mês de agosto. O meu governo não terceiriza responsabilidades e nem abdica de sua soberania — disse o presidente, ao voltar o discurso para o Brasil.

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Ele completou a fala ao afirmar que o governo Lula já fez muito para o meio ambiente, mas que é preciso fazer mais.

— Além de enfrentar o desafio da crise climática, lutamos contra quem lucra com a degradação ambiental. Não transigiremos com ilícitos ambientais, com o garimpo ilegal e com o crime organizado. É hora de enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descarbonização do planeta e trabalhar por uma economia menos dependente de combustíveis fósseis — concluiu.

Lula abriu discurso com Palestina

Antes mesmo do discurso iniciar formalmente, o presidente deu início a fala com o apoio à luta dos palestinos por um território que pertence a eles.

— Dirijo-me em particular à delegação palestina que integra pela primeira vez essa sessão de abertura, mesmo que ainda na condição de membro observador — afirmou Lula logo na abertura do discurso, saudando a presença do presidente da Palestina, Mahmoud Abbas.

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O presidente também fez crítica às guerras, ao lembrar de conflitos simultâneos na Ucrânia e no Oriente Médio. Ele apontou falta de instrumento das Nações Unidas para interromper guerras ou punir os envolvidos.

— Precisamos ir muito além e dotar a ONU dos meios necessários para enfrentar as mudanças vertiginosas do panorama internacional. Vivemos momento de crescentes angústias, tensões, frustrações e medo. Testemunhamos a alarmante escalada de disputas geopolíticas e rivalidade estratégicas. 2023 ostenta o triste recorde do maior numero de conflitos desde a Segunda Guerra Mundial. Os gastos militares globais cresceram pelo nono ano consecutivo e atingiram mais de 2,4 trilhões de dólares. Esses recursos poderiam ter sido utilizados para combater a fome e enfrentar a mudança do clima — continuou.

Ele disse, ainda, que o uso da força sem o amparo no direito internacional está virando regra, e que estamos presenciando dois conflitos simultâneos que têm potencial de virarem conflitos generalizados.

“Segunda década perdida” da América, Cuba e democracia

Durante a fala, Lula afirmou que a América vive, desde 2014, uma “segunda década perdida”. Isso porque o crescimento médio de somente 0,9% ao ano representa metade do percentual da chamada “década perdida” original nos anos 1980

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— Essa combinação de baixo crescimento e altos níveis de desigualdade resulta em efeitos nefastos sobre a paisagem política. Tragada por disputas muitas vezes alheias à região, nossa vocação de cooperação e entendimento se fragiliza — pontuou.

Ele mencionou, em uma crítica direta aos EUA, Cuba:

— É injustificável manter Cuba em uma lista unilateral de Estados que supostamente promovem terrorismo, e impor medidas coercitivas unilaterais que penalizam indevidamente as populações mais vulneráveis.

Após essa fala, o discurso se voltou para o Haiti e depois para a democracia no Brasil.

— No Haiti, é inadiável conjugar ações para restaurar a ordem pública e o desenvolvimento. No Brasil, a defesa da democracia implica ação permanente ante investidas extremistas, messiânicas e totalitárias que espalham o ódio, a intolerância e o ressentimento — concluiu.

Inteligência Artificial (IA) tem “assimetrias”

Sobre a temática da Inteligência Artificial (IA), Lula diz que as “assimetrias” e a “concentração sem precedentes” da tecnologia na mão de algumas empresas e poucos países são desafios que precisam ser enfrentados.

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— Interessa-nos uma inteligência artificial emancipadora, que também tenha a cara do Sul Global — concluiu..

Cúpula do Futuro teve “prévia” das temáticas

Durante a Cúpula do Futuro, também organizada pela ONU e que ocorreu dois dias antes, Lula já havia dado uma “prévia” das temáticas que iria tratar.

Lá, o presidente cobrou mais “ambição e ousadia” de seus pares, além de criticar o ritmo lento de adoção das metas de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030 da ONU.

— Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável foram o maior empreendimento diplomático dos últimos anos, e caminham para se tornar o nosso maior fracasso coletivo. No ritmo atual de implementação, apenas 17% das metas da Agenda 2030 serão atingidas dentro do prazo — afirmou no contexto.

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Ele ainda reforçou a defesa por mudanças em organismos internacionais, como o Conselho de Segurança da ONU, pauta que ele chama atenção desde o primeiro mandato presidencial, que foi de 2003 a 2006. Para o presidente, as estruturas atuais não condizem com a geopolítica atual.

— A maioria dos órgãos carece de autoridade e meios de implementação para fazer cumprir suas decisões. A Assembleia Geral perdeu sua vitalidade e o Conselho Econômico e Social foi esvaziado. A legitimidade do Conselho de Segurança encolhe a cada vez que aplica duplos padrões ou se omite diante de atrocidades — comentou.

Relembre outros discursos de Lula

O discurso de terça-feira foi o oitavo que o presidente fez em aberturas de assembleias gerais (2003, 2004, 2006, 2007, 2008, 2009, 2023 e 2024). Em 2005, Lula fez pronunciamento em uma reunião que antecedeu o debate da Assembleia Geral. Na época, o então chanceler Celso Amorim discursou na abertura do debate.

Os temas recorrentes nos discursos de Lula são o combate à fome a desigualdade, governança global, reforma do Conselho de Segurança da ONU e mudanças climáticas.

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Desde 2004, o petista aborda as mudanças climáticas, que foram citadas também em 2023, quando o presidente retornou a cobrar o financiamento por países ricos nas ações para a preservação do meio ambiente nas nações emergentes.

No ano passado, Lula fez críticas ao neoliberalismo e ao surgimento de “aventureiros de extrema-direita que negam a política e vendem soluções tão fáceis quanto equivocadas”, porém sem especificar a quem se referia.

*Sob supervisão de Luana Amorim

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