*Por Jane E. Brody
A mudança climática não é a única fonte de projeções terríveis para a próxima década. Talvez tão aterrorizante, tanto do ponto de vista da saúde quanto da perspectiva econômica, seja a previsão do aumento contínuo da obesidade, incluindo obesidade mórbida, entre adultos americanos.
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Uma equipe de cientistas médicos de prestígio projetou que, até 2030, quase um em cada dois adultos será obeso, e quase um em cada quatro será severamente obeso. Acredita-se que as estimativas sejam particularmente confiáveis, pois a equipe corrigiu o peso subestimado dado por indivíduos em pesquisas nacionais. Foi previsto que, em 29 estados, a prevalência de obesidade ultrapassará 50 por cento, e não haverá nenhum deles com menos de 35 por cento de residentes obesos.
Da mesma forma, segundo projeção da equipe, em 25 estados a prevalência de obesidade mórbida será maior que um em quatro adultos e se tornará a categoria de peso mais comum entre mulheres, adultos negros e adultos de baixa renda nacionalmente.
Dado o papel que a obesidade desempenha no fomento de várias doenças crônicas, incapacitantes e muitas vezes fatais, essas são previsões terríveis de fato. No entanto, como acontece com as mudanças climáticas, os poderes neste país estão fazendo muito pouco para evitar os resultados potencialmente desastrosos, dizem especialistas em obesidade.
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Os cientistas observam que esforços bem intencionados, como limitar o acesso a copos extragrandes de refrigerantes adoçado com açúcar, são efetivamente frustrados por indústrias capazes de diminuir o efeito dos esforços educacionais por parte dos departamentos de saúde, que têm orçamentos relativamente ínfimos. Com raras exceções, as indústrias de açúcar e bebidas bloquearam quase todas as tentativas de impor um imposto sobre o consumo de bebidas açucaradas.
As alegações de que tal imposto é regressivo e afeta injustamente as pessoas de baixa renda são míopes, de acordo com Zachary J. Ward, especialista em saúde pública em Harvard e principal autor do novo relatório, publicado no "The New England Journal of Medicine" em dezembro. "O que as pessoas economizariam nos custos de saúde diminuiria o dinheiro extra, pago como impostos sobre bebidas açucaradas", disse ele em uma entrevista.
Na Filadélfia, onde um imposto sobre refrigerantes entrou em vigor há três anos, as compras totais diminuíram 38 por cento, mesmo depois de contabilizar bebidas compradas fora da cidade, declarou a coautora Sara Bleich.
No entanto, acrescentou ela rapidamente, mudanças fragmentadas como essa não são suficientes para fazer uma diferença significativa na previsão de obesidade nos EUA. Em vez disso, mudanças em todo o país são necessárias no ambiente alimentar. Como o novo relatório claramente demonstrou, os americanos nem sempre foram tão gordos; desde 1990, a prevalência da obesidade aqui dobrou.
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As pessoas que culpam a genética não estão enganando ninguém além de si mesmas, disse Ward. Nossa genética não mudou nos últimos 30 anos. O que mudou foi o ambiente em que nossos genes funcionam agora.
"A comida é muito barata nos Estados Unidos e de fácil acesso", disse Bleich, professor na Escola de Saúde Pública T. H. Chan de Harvard. Comemos fora com mais frequência, consumindo mais alimentos ricos em gordura, açúcar e sal, e o tamanho de nossas porções é maior.
Como Ward observou: "Você nem precisa sair de casa para comer comida preparada por restaurantes – basta ligar e ela será entregue. Se você tem um smartphone, o Uber Eats trará fast food à sua porta em minutos."
Como sociedade, também estamos beliscando mais, um hábito que começa assim que as crianças podem se alimentar. Meu cachorro sabe muito bem que o fundo dos carrinhos de bebê é uma rica fonte de petiscos.
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"As pessoas beliscam o dia todo. Lanchar é uma coisa normal nos Estados Unidos. Na França, você nunca vê ninguém comendo no ônibus", analisou Ward. Também comemos mais alimentos altamente processados, que, já foi mostrado, promovem o ganho de peso, graças a seus níveis geralmente altos de calorias, açúcar e gordura.
Um estudo recente mostrou que, mesmo quando há controle de peso, consumir muitos alimentos processados aumenta o risco de desenvolver diabetes tipo 2.
"Não são necessárias muitas calorias extras para obter ganho de peso. Por intermédio do marketing, estão constantemente nos vendendo alimentos que nem sabíamos que queríamos. O que buscamos é a recompensa imediata. Não estamos pensando no futuro, e é por isso que veremos mais da metade da população obesa em dez anos", afirmou Bleich.
Segundo Ward, a menos que algo seja feito para reverter essa tendência, "a obesidade será o novo normal neste país. Estamos vivendo em um ambiente obesogênico".
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"Embora não haja uma solução única para o problema, se eu pudesse usar uma varinha mágica, faria do imposto sobre as bebidas uma determinação federal, porque elas são a maior fonte de açúcar adicionado na dieta e estão fortemente ligadas ao ganho de peso e aos problemas de saúde. Quando as pessoas bebem suas calorias, elas não se sentem tão cheias quanto quando consomem alimentos sólidos, por isso acabam comendo mais", explicou Bleich.
Isso também pode ser verdade para bebidas doces sem calorias. Embora a questão ainda não esteja fechada em relação a causa e efeito, a ligação entre o consumo de bebidas e a maior ingestão de calorias também pode se aplicar a bebidas com adoçantes, sem calorias ou de baixa caloria.
Com um terço das refeições se realizando fora de casa, Bleich sugeriu que fazer os restaurantes reduzirem gradualmente a quantidade de gordura, açúcar e calorias nas refeições que servem poderia ajudar a colocar um freio no ganho de peso social. "Os cardápios poderiam tornar as refeições mais saudáveis e de baixas calorias a opção padrão", disse ela.
Controlar o tamanho das porções é outro passo fundamental. "Grandes porções são especialmente motivadoras para pessoas de baixa renda, que desejam razoavelmente obter mais calorias pelo que pagam." Os grupos de baixa renda já têm as maiores taxas de obesidade e, segundo as novas projeções, são mais propensos a experimentar uma crescente prevalência de obesidade e obesidade mórbida.
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Outra abordagem baseada em políticas que poderia reverter o aumento das projeções de obesidade pode ser a parceria com os defensores do controle climático, sugeriu Bleich. "Se tirarmos mais carne da dieta americana, isso ajudará tanto o ambiente quanto a perda de peso."
"Do ponto de vista político, a prevenção é o caminho. As crianças não nascem obesas, mas podemos ver um ganho excessivo de peso já aos dois anos de idade. Mudanças no ambiente alimentar são necessárias em todos os níveis – local, estadual e federal. É difícil para os indivíduos mudar voluntariamente seu comportamento", afirmou Ward.
Ele disse que as mudanças que promovem a saúde nos pacotes alimentares fornecidos a mulheres, bebês e crianças de baixa renda desde 2009 ajudaram a reverter ou a estabilizar a obesidade em crianças pré-escolares que os recebem. Há medidas em andamento para avaliar o efeito de uma alimentação escolar mais saudável.
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