O morador de Santa Maria Alberto Tessmer, 35 anos, chegou à boate Kiss às 2h55min de ontem e participou durante duas horas dos esforços de resgate. Autor da foto ao lado, ele deu o seguinte depoimento a Zero Hora:

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“Depois de sair de um bar próximo, onde estava com minha esposa, minha sobrinha e amigos, vi a movimentação dos Bombeiros. Achei que era uma situação controlada e fui fazer fotos.

Quando cheguei perto da boate, me apavorei. Larguei a câmera e fui tirar gente. Eram muitas pessoas gritando, caindo no chão, desmaiando. Naquela hora, os bombeiros estavam chegando. Estacionavam e desenrolavam as mangueiras.

Todo mundo ajudava: gente que havia conseguido sair da boate e outros que passavam por ali. Na hora, todo mundo era uma família, e os bombeiros ofereciam material para a gente ajudar.

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Fiquei a maior parte do tempo colaborando na porta. Saía muita fumaça por ela, mas havia uma altura de uns 30 centímetros, junto ao chão, que estava mais livre. Como várias outras pessoas, eu puxava o ar e entrava engatinhando, para evitar a inalação. Avançava uns oito, 10 metros metros, para dentro da boate.

Os olhos queimavam muito. Enxergava um vulto, pegava, puxava o corpo. Peguei assim uma 20, vinte e poucas pessoas. Na porta, passava as vítimas para outras pessoas, que as levavam. Tentamos montar uma corrente, improvisada. Sei de gente que entrou dentro da boate para ajudar e não voltou.

Perto da porta havia uma janela lacrada por dentro. Perto das 3h30min, fui para lá. Começamos a bater na janela com marretas dos bombeiros, para arrancar a grade e abrir um buraco para criar um novo caminho para acessar o local. Tiramos a grade e derrubamos a proteção de madeira que fechava a janela.

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Do lado de dentro, tinha um pessoal que ia alcançando os corpos por ali. Alguns não tinha pulsação nenhuma, outros engasgavam e apresentavam contrações pulmonares, mas é difícil dizer se as pessoas estavam vivas ou mortas. O importante era tirá-los dali. A gente ia tirando, e o pessoal de ambulâncias, de táxis e veículos particulares iam levando para hospitais.”

A tragédia

O incêndio na boate Kiss, no centro de Santa Maria, começou entre 2h e 3h da madrugada de domingo, quando a banda Gurizada Fandangueira, uma das atrações da noite, teria usado efeitos pirotécnicos durante a apresentação. O fogo teria iniciado na espuma do isolamento acústico, no teto da casa noturna.

Sem conseguir sair do estabelcimento, mais de 200 jovens morreram e outros 100 ficaram feridos. Sobreviventes dizem que seguranças pediram comanda para liberar a saída, e portas teriam sido bloqueadas por alguns minutos por funcionários.

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A tragédia, que teve repercussão internacional, é considera a maior da história do Rio Grande do Sul e o maior número de mortos nos útimos 50 anos no Brasil.

Veja onde aconteceu

Imagem: Arte ZH

A boate

Localizada na Rua Andradas, no centro da cidade da Região Central, a boate Kiss costumava sediar festas e shows para o público universitário da região. A casa noturna é distribuída em três ambientes – além da área principal, onde ficava o palco, tinha uma pista de dança e uma área vip. De acordo com o comando da Brigada Militar, a danceteria estava com o plano de prevenção de incêndios vencido desde agosto de 2012.

Clique na imagem abaixo para ver a boate antes e depois do incêndio

A festa

Chamada de “Agromerados”, a festa voltada para estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) começou às 23h de sábado. O evento era de acadêmicos dos cursos de Agronomia, Medicina Veterinária, Tecnologia de Alimentos, Zootecnia, Tecnologia em Agronegócio e Pedagogia. Segundo informações do site da casa noturna, os ingressos custavam R$ 15 e as atrações eram as bandas “Gurizadas Fandangueira”, “Pimenta e seus Comparsas”, além dos DJs Bolinha, Sandro Cidade e Juliano Paim.

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