O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, renunciou ao cargo. O anúncio foi feito nesta manhã na sede da entidade pelo presidente em exercício, José Maria Marin, durante entrevista coletiva na presença de todos os presidentes de federações estaduais. O anúncio foi feito em uma carta de Teixeira, que estava há 23 anos no cargo.
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– Deixo definitivamente a presidência da CBF com a sensação de dever cumprido – diz um trecho da carta.
Na carta, Teixeira justifica a saída por motivos de saúde. Fala ainda da dificuldade de dirigir a CBF.
– Presidir paixões não é uma tarefa fácil. Futebol em nosso país é associado a duas imagens: talento e desorganização. Quando ganhamos, exaltam o talento. Quando perdemos, a desorganização.
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Marin também informou que Teixeira deixará o cargo de presidente do Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2014. O próprio Marin ficará na função.
Entenda o caso
Na última quinta-feira, Ricardo Teixeira pediu licença da presidência da CBF por questões médicas. O cartola indicou o vice da Região Sudeste, José Maria Marin, para assumir interinamente o comando da entidade.
Teixeira já vinha dando sinais de que poderia sair. No início de fevereiro, demitiu o tio, Marco Antônio Teixeira, da secretaria-geral da entidade. Ele estava na função praticamente desde o começo do mandato do sobrinho, no final da década de 1980.
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No final do ano passado, havia nomeado o então presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, para diretor de seleções. Além disso, o ex-jogador Ronaldo foi colocado dentro do COL.
Em 29 de setembro, foi internado em um hospital no Rio apresentando dores abdominais. O boletim médico disse que Teixeira tinha uma diverticulite (inflamação na parede do cólon, ligado ao intestino grosso) não complicada.
Além disso, enfrenta acusação de estar envolvido no maior escândalo da história da Fifa e foi alvo de protestos em várias cidades do país contra a sua administração. O chamado dossiê da ISL, ex-agência de marketing da entidade, falida em 2001, será avaliado pela Corte Federal da Suíça e tem documentos considerados comprometedores para Teixeira.
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Em 2000, chegou a enfrentar duas CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito), no Congresso Nacional, porém o título da Seleção no Mundial de 2002, segundo ele próprio, serviu para lhe dar força e terminar se mantendo à frente da CBF.
Seu mandato iria até 2015 graças a uma mudança no estatuto da confederação. Em 2008, conseguiu convencer os presidentes das federações estaduais a estender a gestão, de quatro para sete anos, para não interferir nos preparativos do país para a Copa de 2014.
Confira na íntegra a carta de renúncia de Ricardo Teixeira, endereçada a José Maria Marin:
“Ser presidente da CBF durante todos esses anos representou na minha vida uma experiência mágica. O futebol, no Brasil, é mais… que esporte, mais que competição. É a paixão que envolve, é o sofrimento que alegra, é a fidelidade que unifica.
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Por essas razões, pensei muito na decisão que ora comunico e pensei muito no que dizer sobre minha decisão. Presidir paixões não é tarefa fácil. Futebol em nosso país é sempre automaticamente associado a duas imagens: talento e desorganização. Quando ganhamos, despertou o talento. Quando perdemos, imperou a desorganização.
Fiz, nestes anos, o que estava ao meu alcance, sacrificando a saúde, renunciando ao insubstituível convívio familiar. Fui criticado nas derrotas e subvalorizado nas vitórias. Mas isso é muito pouco, pois tive a honra de administrar não somente a Confederação de Futebol mais vencedora do mundo, mas também o que o ser humano tem de mais humano: seus sonhos, seu orgulho, seu sentimento de pertencer a uma grande torcida, que se confunde com o país.
Ao trazer a Copa de 2014, o Brasil conquistou o privilégio de sediar o maior e mais assistido evento do mundo, se inseriu na pauta mundial, alavancou mais a economia e aumentou o orgulho de todo o povo brasileiro.
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Tentei, no limite das minhas forças, organizar os talentos. Nas minhas gestões, criamos os campeonatos de pontos corridos e a Copa do Brasil, aumentamos substancialmente as rendas do futebol brasileiro, desenvolvemos o marketing e, principalmente, vencemos.
Hoje, deixo definitivamente a presidência da CBF com a sensação do dever cumprido. Não há sequência de ataques injustos que se rivalizem à felicidade de ver, no rosto dos brasileiros, a alegria da conquista de mais de cem títulos, entre os quais duas Copas do Mundo, cinco Copas América e três Copas das Confederações. Nada maculará o que foi construído com sacrifício, renúncia e dor.
A mesma paixão que empolga, consome. A injustiça generalizada, machuca. O espírito é forte, mas o corpo paga a conta. Me exige agora cuidar da saúde.
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Em obediência ao estatuto da CBF, mais precisamente ao disposto em seu artigo 37, você, meu vice-presidente e ex-governador de São Paulo, José Maria Marin, passa a presidir a CBF. A você, desejo sorte, para que o talento se revele na hora certa; discernimento, para que o futebol brasileiro siga cada vez mais organizado e respeitado; e força, para enfrentar as dificuldades que certamente virão.
Deixo a CBF, mas não deixo a paixão pelo futebol. Até por isso, a partir de hoje e sempre que necessário, coloco-me à disposição da entidade. Reúno-me com mais força à minha família, que entendeu minha missão, apoiou-me sempre e me faz ainda mais feliz.
Agradeço de maneira especial aos presidentes de clubes e das federações estaduais, aos dirigentes e colaboradores da CBF, amigos leais em quem sempre encontrei apoio incondicional para o desempenho de meu trabalho.
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À torcida brasileira, meu muito obrigado. Nunca me esquecerei das taças sendo erguidas. Elas estão no coração de cada um de nós. Elas são um pedaço do Brasil”.