Em 18 de novembro de 1914, Iberê Camargo nascia em Restinga Seca. Nesta carta escrita para o crítico e poeta Pierre Courthion, o artista revê o início de sua trajetória no Rio Grande do Sul, seguida pela mudança para o Rio de Janeiro e pela viagem de estudos à Europa. No retorno ao país, Iberê seria reconhecido como o maior pintor brasileiro vivo. Morreu em Porto Alegre, em 1994.

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Centenário de Iberê Camargo celebra um dos maiores pintores brasileiros

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Jogo: qual das obras é assinada por Iberê Camargo?

Para Pierre Courthion – Paris

É provável que o meu interesse pela arte tenha começado na infância, com a minha paixão pelos lápis de cor e cadernos de desenho. Nascido e criado no interior do Rio Grande do Sul, filho de ferroviário, não tive no lar nenhum estímulo intelectual e artístico. Adolescente, frequentei o curso de pintura da Escola de Artes e Ofícios de Santa Maria, no meu Estado natal. Guiado por um professor acadêmico, disciplinava-me na cópia de desenhos e pinturas de mestres.

Pertence a esse período um retrato a carvão e a cabeça de Cristo, executada a creiom (tipo de giz de cera), de uma reprodução de Tiepolo. Esses são dos raros desenhos remanescentes de minha copiosa produção, inclusive desenhos do gesso, destruída num incêndio. Tinha dezesseis anos. Obrigado a abandonar a escola, interrompi a minha incipiente carreira de pintor, para reiniciá-la nove anos depois, em 1940, à margem de um riacho que atravessa a parte baixa de Porto Alegre.

Desse período são os óleos e desenhos. Nessa fase inicial, preocupava-me em captar o aspecto fenomênico da realidade. Tal era a minha fidelidade à fixação da emoção do instante, que acabado o quadro – executava-o impetuosamente, de uma só vez – não o retrabalhava após, mesmo que me parecesse necessário corrigi-lo.

Em 1942, transferi-me para o Rio. Aqui, e depois na Europa, prossegui no meu afã de aprender o ofício de pintor. Tive ouvidos para ouvir e olhos para ver. Frequentei ateliês, executei cópias no Louvre. Nesse período de aprendizado refreei os meus impulsos, a fim de me submeter a uma disciplina. Como era natural, sofri várias influências, porém nenhuma delas duradoura ou marcante.

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(…)

Iberê Camargo em carta do Rio de Janeiro, datada de maio de 1979