Em carta aberta à população, encaminhada inicialmente à Sociedade Catarinense de Pediatria e demais entidades médicas nesta quarta-feira, o corpo clínico do Hospital Infantil Joana de Gusmão defende o ex-diretor Carlos Schoeller e justifica a suspensão das cirurgias eletivas. No texto, a equipe confirma que a decisão foi coletiva e motivada pela constante falta de materiais básicos. Schoeller foi exonerado do cargo na segunda-feira, logo após anunciar o cancelamento das cirurgias.
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Os médicos também se prontificam a voltar à atividade normal logo que forem “reestabelecidas as condições necessárias para o adequado funcionamento do centro cirúrgico”.
A assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde manteve a posição de que já deu encaminhamento para a compra de materiais, e assim que chegarem, as cirurgias serão retomadas integralmente. Afirmou também que não houve suspensão, mas apenas o atraso em alguns procedimentos.
Confira a íntegra da carta assinada pelo corpo clínico do Hospital Infantil:
Carta aberta à população
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Em cumprimento à deliberação da reunião extraordinária do Corpo Clínico do Hospital Infantil Joana de Gusmão, realizada no dia 29 de agosto, terça-feira, do corrente ano de 2017, vimos por meio desta prestar esclarecimentos à população de Santa Catarina a respeito do cancelamento das cirurgias eletivas em nosso Hospital.
1. Ao contrário do divulgado por fontes oficiais, a suspensão das cirurgias não foi um ato inconsequente ou precipitado da Direção anterior do HI. Foi uma decisão difícil e estudada e se deu em consequência da falta absoluta de materiais e medicamentos que culminaram com a falta de fios cirúrgicos, obrigando a solicitar por empréstimo fios cirúrgicos de outros hospitais para para utilizarem em cirurgias de emergência. Esta falta de materiais vinha sendo exaustivamente comunicada à Secretaria Estadual de Saúde que até o momento não conseguiu suprí-la.
2. Em uma visita oficial do Sr. Governador ao HI, no dia 16 de agosto de 2017, o Diretor do HI entregou pessoalmente a ele uma correspondência onde alertava sobre a falta de materiais essenciais e apontava como solução o repasse direto de dinheiro para a Associação de Voluntários a fim de proceder uma compra emergencial de materiais. Esta carta foi divulgada para a imprensa.
3. Em duas reuniões extraordinárias e subsequentes, uma com as chefias médicas e não médicas do HI e outra com o Corpo Clínico realizadas durante a semana passada, a Direção do Hospital comunicou da falta absoluta de materiais de terapia intensiva e cirúrgicos que poderiam resultar em calamidade se não fossem imediatamente saneadas. Na reunião do Corpo Clínico, houve a decisão unânime dos médicos que atuam no centro cirúrgico, apoiadas pelos outros médicos do corpo clínico de suspender os procedimentos eletivos a partir do dia 29/08/2017 e solicitar a AVOS uma compra emergencial de materiais para que não ocorresse a morte de algum paciente por falta de material. Este fato foi comunicado ao Sr. Secretário de Saúde, ao Superintendente dos Hospitais, ao MP e aos médicos e funcionários.
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4. As cirurgias eletivas do dia 29/08/2017, terça-feira, não foram realizadas e o NIR (núcleo interno de regulação) por determinação da direção e atendendo à deliberação do Corpo Clínico, desmarcou as cirurgias e desde então nenhuma cirurgia eletiva foi realizada
Assim esperamos esclarecer que a suspensão das cirurgias eletivas, longe de ser uma decisão infundada, foi uma decisão racional e conjunta tomada por chefias médicas e não médicas e referendada pelo Corpo Clínico do HIJG, baseado na falta absoluta de condições de materiais, comunicada diversas vezes à SES e ao próprio Sr. Governador, sob pena de colocar em grave risco a saúde dos pacientes que procuram nosso hospital e será mantida até a regularização do fornecimento de materiais e medicamentos.
Da mesma forma, os médicos se prontificam a voltar à atividade normal logo que forem reestabelecidas as condições necessárias para o adequado funcionamento do centro cirúrgico. Não uma condição paliativa onde a compra emergencial poderá suprir o hospital por alguns dias e na continuidade, nova falta de materiais ocorra.
Comprometem-se inclusive a, estabelecidas as condições normais de funcionamento, a ativação da totalidade de leitos da UTI’s geral e neonatal e a ativação de 5 salas do centro cirúrgico, a aumentar significativamente o número de cirurgias eletivas com o intuito de zerar as filas cirúrgicas.
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Ato contínuo, o Corpo clínico vem demonstrar seu irrestrito apoio à Direção anterior, comandada pelo Dr. Carlos Schoeller, e assinalar que durante a gestão passada grandes avanços técnicos, humanos e materiais foram conseguidos em nosso Hospital. Entre vários outros, citamos a campanha “Eu ajudei a construir” e o “Jantar de Solidariedade” além de motivar funcionários, médicos e comunidade propiciou a conclusão e ativação da UTI geral e centro cirúrgico e a organização das filas cirúrgicas de nossa instituição.