O Diário Catarinense reproduz abaixo a mensagem de e-mail que Carlos Schoeller, ex-diretor do Hospital Infantil Joana de Gusmão, de Florianópolis, enviou na madrugada desta terça-feira ao corpo clínico da instituição. No texto, Schoeller recomenda que a equipe permaneça unida e se mostra preocupado com o futuro da instituição. Afirma que os fornecedores da pasta da Saúde não estão participando dos editais para a compra de suprimentos e que “o retorno das cirurgias eletivas agora é temerário”. Ele atribui sua demissão à divulgação da falta de itens, alguns essenciais, no estoque do hospital e à decisão do fechamento do centro cirúrgico, que “não foram bem digeridos pelos nossos mandatários”. Por meio de assessoria de imprensa, a Secretaria de Estado da Saúde afirma que já começou a comprar os materiais em falta. A íntegra da carta foi divulgada em primeira mão pelo comunicador da NSC TV Renato Igor.

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Leia a íntegra da mensagem:

Bom dia,

Como de hábito, funciono melhor de madrugada.

Primeiro quero agradecer de coração as manifestações de apoio deste Corpo Clínico. Obrigado mesmo. Faz sentir que o tempo que passei na Direção não foi em vão. Esta manifestação vem ao encontro de tudo que sempre falamos, desde os primeiros dias em que assumimos o cargo: ‘Junto, nós podemos’ . E pudemos mesmo. Com um trabalho forte de todos, conseguimos coisas nunca imaginadas e elas são realidade. Uma coisa mais importante que todas: esta união de todos em prol do Hospital. E este foi exatamente o motivo de minha saída: todos estão unidos em prol do HIJG.

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Explico: Na reunião do Corpo Clínico da semana passada, onde mostrei a todos a falta de material, a decisão foi unânime: ‘Devemos fechar o centro cirúrgico para cirurgias eletivas’. Estes dois fatos, a divulgação da falta de materiais e o fechamento do centro cirúrgico apoiada pelo Corpo Clínico não foram bem digeridos pelos nossos mandatários. Está proibido falar a verdade ou tomar qualquer atitude que vise preservar a vida de nossos pacientes ou preservar o nome do HIJG. Talvez a vontade seja de que voltemos a alguns anos atrás onde éramos manchetes diárias das páginas policiais. Quem não lembra?

Hoje nossa realidade é completamente diferente de todos os outros hospitais públicos: ninguém referencia nenhum hospital público no Estado como referência. Exceto o HIJG. E isto incomoda. E por isto me tiraram.

Peço a todos que se mantenham firme. Preservem esta união. A falta de materiais não vai ser suprida. São cerca de 120 itens essenciais, incluindo aí fios cirúrgicos de todos os tipos. As licitações estão atrasadas, os fornecedores não estão entrando nas licitações e quando entram exigem pagamento imediato e existe um problema fundamental: não há como fornecer material exclusivamente para o HIJG. A compra tem que ser feita para os 13 hospitais da rede. A única alternativa é a que foi buscada e que eu já havia sugerido ao próprio governador: compra direta através da AVOS. Só que isto é temporário. O retorno das cirurgias eletivas agora é temerário. Corremos o risco de ter falta de material para as cirurgias de urgência, de não podermos utilizar a AVOS dentro de um curto espaço de tempo.

A outra alternativa é incompatível com a arrogância do atual governo: reconhecer o caos que eles criaram no setor, decretar estado de emergência e fazer compra direta. Mas isto dificilmente acontece.

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Para finalizar, agradeço a todos pelo apoio, principalmente à Ana Camila, ao Roberto, ao Tobaldini, que estiveram diretamente ligados à Direção nos dois últimos anos. E se alguém perguntar por que fui tirado da Direção, podem falar com orgulho: PORQUE O CORPO CLÍNICO DO HIJG ESTÁ UNIDO.

“Juntos, nós podemos.”

Outro lado

Por meio de assessoria de imprensa, a Secretaria de Estado da Saúde reforçou que foi Schoeller quem protocolou uma carta pedindo exoneração do cargo. Já sobre o conteúdo do e-mail destinado ao corpo clínico da unidade, a assessoria reforçou o que já foi anunciado em coletiva de imprensa na segunda-feira. Sendo assim, os materiais em falta estão sendo adquiridos, parte pela AVOS, parte pela Secretaria, e alguns já chegam nesta quarta-feira, mas que a maioria deve ser entregue no hospital entre quinta-feira e sexta-feira. Já sobre as cirurgias eletivas, a assessoria reforça também que elas não serão suspensas e que o novo diretor já assumiu. Pontuou ainda que, no máximo, poderá haver atrasos, mas que até segunda-feira da semana que vem estará tudo normalizado e que as cirurgias vão continuar.