A cada cinco consultas agendadas, um paciente não aparece e nem dá notícias. O custo com o que os profissionais da saúde chamam de absenteísmo – a ausência não justificada aos compromissos – causou um impacto financeiro de pelo menos R$ 13,4 milhões em 2016 às 20 unidades sob responsabilidade do governo estadual e a municípios com mais de 100 mil habitantes consultados pelo Diário Catarinense, que respondem por 45% da população do Estado.
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Um dinheiro que poderia ser aplicado, por exemplo, na ampliação da oferta de exames, cirurgias eletivas e até na construção de unidades de estratégia de saúde da família, gargalos unânimes em todas as cidades. E esse valor de impacto direto e indireto na saúde pública ainda está sendo levantado pelas prefeituras, ou seja, pode ser bem maior.
Apenas nas instituições geridas pelo governo do Estado – 12 hospitais, quatro clínicas, uma maternidade, além do Cepon, Hemosc e do Instituto de Cardiologia de São José –, estima-se que o prejuízo tenha chegado a aproximadamente R$ 2,6 milhões em 2016, que elas deixaram de faturar.
Um índice que corresponde a 33% de perda de produtividade das equipes e que prejudica o histórico de atendimentos prestados, um dos dados usados como base para o governo federal incluir repasses no orçamento do ano seguinte. Dos 358.776 exames e consultas agendados, 119.249 não tiveram confirmação de presença no Sistema de Regulação Nacional (Sisreg), do SUS.
Em Florianópolis, em média 25% dos procedimentos agendados para consultas com especialistas não se confirmam porque os pacientes não comparecem às unidades de saúde nem avisam previamente. Em Blumenau são 20,5% e em Joinville, 14%. O índice mais alto é de Palhoça, onde quatro em cada 10 pacientes não compareceram às consultas em 2016.
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Jaraguá do Sul, por exemplo, calcula que as 30 mil faltas registradas nas 25 unidades básicas de saúde em 2016 equivalem a dois meses de atendimentos nesses centros. Além do impacto financeiro, a vaga desperdiçada poderia ser destinada a outro paciente, o que reduziria as filas de espera por consultas e exames.
– Hoje a gente tem uma fila de espera para consultas especializadas e exames. As faltas são um problema, porque os municípios recebem uma cota por parte do Ministério da Saúde para consultas especializadas e exames, que já não atende à demanda gerada pela população e pela rede, e os municípios têm de investir recursos próprios. É uma situação que dá um impacto e a gente não consegue avançar nessa demanda reprimida que a gente tem – argumenta a vice-presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde, Maria Regina de Souza Soar, também secretária de Saúde de Blumenau.
O tolerável, segundo Maria Regina, seria ter uma taxa de absenteísmo de no máximo 5%. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, o ideal seriam 10%, mas o aceitável até 20%.
Em Blumenau, por exemplo, apenas 26 faltas no ano inteiro para um procedimento de cateterismo geraram um custo de R$ 16 mil à prefeitura. E na cintilografia de miocárdio, para avaliar se o paciente tem risco de infarto, as 89 faltas significaram R$ 36,3 mil.
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Em Balneário Camboriú, o percentual de faltas em exames foi de 12% em 2016, com um impacto financeiro de R$ 288 mil, três vezes e meio acima dos R$ 82 mil gerados pelos 15% que faltaram às consultas com especialistas. Eletroencefalografia, espirometria (que avalia a respiração) e endoscopia são os procedimentos mais desperdiçados.
Nem sempre é dinheiro que se perde, mas que se deixa de faturar ou que torna ocioso o tempo de um equipamento alugado. Além disso, os profissionais de saúde concursados são remunerados por hora, não por paciente atendido. Tempo parado significa custo para os cofres públicos sem ser revertido em atendimento à população.
– Existem aqueles que faltam, aqueles que esquecem. Mas acho que a gente precisa discutir realmente qual é o motivo – diz a vice-presidente do Conselho Estadual de Saúde e representante das Associações de Moradores de Santa Catarina, Cléia Giosole.
Segundo ela, o tema já foi discutido em 2009 e o conselho deve retomá-lo na próxima quarta-feira, primeira reunião do ano.
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Em Joinville, a prefeitura identificou que avisar o usuário sobre a consulta agendada com mais de um mês de antecedência aumenta as chances de ser esquecida. Com melhorias internas, a Secretaria de Saúde da cidade conseguiu reduzir o percentual de faltas de 30% em 2014 para 22% no ano passado. A meta é alcançar 10%.
Uma das principais medidas que a prefeitura aposta é usar o aplicativo de mensagens WhatsApp para cancelar consultas e exames. A expectativa é responder às demandas em até 24 horas nos dias úteis. Quando o pacote entrar em vigor, o usuário será avisado com até quatro dias de antecedência, e só será possível agendar a consulta se o cadastro tiver sido atualizado nos últimos seis meses.
A falta de informatização das unidades de saúde ainda é uma barreira que poderia facilitar esse contato dos profissionais da saúde com os pacientes da rede pública. Isso porque um sistema com dados atualizados do paciente poderia enviar mensagens para o celular de forma automática.
– Hoje em dia todo paciente tem uma linha telefônica que receba mensagens ou WhatsApp. E o WhatsApp é uma forma barata de fazer contato – afirma Maria Regina.
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Tornar mais rígida a marcação de consultas e exames também é estudada pela prefeitura de Joinville. Conforme Maria Regina, há municípios que estudam formas de punir os faltantes sem justificativa, cobrando multa ou colocando-os no final da fila de espera:
– Muita gente questiona e com certeza o faltante tem de ser responsabilizado. Mas dependendo do caso dele, a gente não pode colocar no final da fila novamente porque ele faltou por algum motivo. Então é uma situação que tem a legalidade da punição ou não. É uma situação que tem de ser discutida.