Em meio às cobranças e desregramentos do mundo contemporâneo, mais mulheres estão em busca de movimentos para resgatar o equilíbrio por meio de antigos conhecimentos e do contato com a natureza. Em Joinville, este movimento já ocorre há 15 anos, período em que a psicóloga sistêmica joinvilense Andréa Sumé conduz Círculos de Mulheres em sua propriedade em Garuva. Pelos registros de Andréa, pelo menos mil mulheres já integraram os grupos aos participarem de encontros e cerimônias voltados para o Sagrado Feminino.

Continua depois da publicidade

Nos Círculos de Mulheres são promovidos rodas de conversa sobre temas relacionados ao feminino, como ginecologia natural, autoamor e autoestima; e rituais que honram as Deusas, com canto, reza, dança e meditação. Há ainda os que honram as fases da lua, os ciclos da natureza e as estações do ano. Todos tem como objetivo principal a conexão das mulheres com sua essência e sua ancestralidade, em um movimento em que as mulheres recuperam sua potência, resgatam seus saberes e sentem-se mais preparadas para se posicionar e dar voz ao sentido real de suas vidas.

Segundo Andréa, a essência do movimento Sagrado Feminino resgata o arquétipo da Mulher Selvagem: é a mulher que não foi domesticada e que não se tornou submissa aos padrões socioculturais vigentes. Em 2017, ela lançou o livro “Por Todas as Nossas Relações”, no qual reflete sobre temas existenciais com embasamento na psicologia do feminino e compartilha experiências do trabalho nos Círculos de Mulheres.

– As opressões históricas que guardam a trajetória do feminino na nossa sociedade é um tema de pauta para o mundo moderno hoje. As mulheres estão se despedindo do vitimismo e assumindo o protagonismo – declara ela.

O que está fazendo as mulheres despertarem para o movimento do Sagrado Feminino?

Continua depois da publicidade

Estamos rompendo com padrões opressores, sejam religiosos, morais, sexuais, políticos ou sociais. O lugar da mulher na sociedade passa por esse despertar. Houve um esquecimento da condição real do feminino por conta do sistema patriarcal que impera nos tempos em que vivemos. A mulher ficou submetida às duras amarras desse sistema impositivo e castrador, onde sua natureza original foi praticamente domesticada. Esse distanciamento da nossa real natureza vem nos causando consequências gravíssimas.

Quando se desperta, o que muda na vida de uma mulher?

Ela cicatriza uma ferida muito antiga que não é somente sua, mas também de suas ancestrais. A mãe, a avó, a bisavó, as mais antigas mulheres de sua linhagem que passaram por histórias e dramas trágicos no que se refere ao tema do feminino. As mulheres guardam marcas emocionais profundas e quando recuperam seu sagrado feminino, recuperam sua potência. Buscam seus direitos e assumem integralmente suas emoções sem vitimismo, julgamentos e acusações. É aqui que elas se tornam autoras de sua própria história.

Para despertar é preciso buscar rituais do Sagrado Feminino?

Os rituais ajudam muito a mulher a se reconectar com sua natureza cíclica. Eles cumprem a função de nos trazer de volta a espiritualidade feminina adormecida. Não se trata de religião. São saberes ancestrais que estão sendo resgatados e que nos trazem informações preciosas de como nosso corpo físico e emocional funciona e como nossa saúde integral pode ser cuidada e preservada.

O que se encontra nos rituais?

A compreensão profunda da natureza original do espírito. Independente do gênero feminino e masculino, o sagrado como experiência existencial é patrimônio imaterial. O sentido de transcendência é de vital importância para o significado de nossa humanidade. São os ciclos da Terra e do Céu que são estudados e praticados dentro dos Círculos Femininos: o aprofundamento na medicina xamânica dos Quatro Elementos, os arquétipos das Deusas de diferentes culturas matriarcais, a natureza cíclica da Lua, saberes passados de geração para geração, desde os nativos indígenas até culturas populares em geral.

Continua depois da publicidade

Que mulher é essa que busca os rituais? Você percebe que a maioria tem interesse no tema ou é modismo?

São mulheres contemporâneas que estão cansadas desse modo domesticado de viver a experiência do feminino. Os Círculos de Mulheres estão crescendo pelos quatro cantos da Terra e são uma ótima oportunidade para a mulher viver e aprender essa nova realidade.

Como aplicar esses ensinamentos no dia-a-dia?

Há muito o que se fazer. Desde a forma como lidamos com nossa menstruação, nossa sexualidade, nossos relacionamentos, até a maneira como lidamos com o consumo, luxo e lixo. Como cuidamos de nossa saúde diária e as práticas ancestrais lunares que podemos adaptá-las à realidade de nosso cotidiano. Todo esse universo passa pelo Sagrado Feminino.