Vizinha mais próxima do Rio Grande do Sul, Santa Catarina vem acolhendo famílias gaúchas que perderam tudo nas enchentes. Os principais destinos são cidades do Sul do Estado, mas a mudança é registrada em todas as regiões, de acordo com a Secretaria Estadual de Assistência Social (SAS).

Continua depois da publicidade

Receba notícias de Santa Catarina pelo WhatsApp

Os gaúchos vêm em busca de recomeço e oportunidades de trabalho. Suelen Garcia, de 28 anos, por exemplo, veio morar em Florianópolis após encontrar um emprego. No Rio Grande do Sul, ela estava desempregada. O apartamento, recém-comprado em Canoas, na região Metropolitana de Porto Alegre, foi inundado pela enchente.

— Ficamos 37 dias fora de casa. Chegamos a voltar para ver se conseguíamos resgatar alguma coisa, só que não tinha nada. São cenas que ficam na memória. A gente decidiu que não queria mais ficar lá — relata ela.

Assim como Suelen, 30% dos moradores do Rio Grande do Sul consideraram se mudar após as enchentes, de acordo com um estudo realizado pela startup Loft em parceria com a Offerwise. Para 41% dos entrevistados, as tragédias tiveram impacto no desejo de se mudar.

Continua depois da publicidade

Canoas, onde vivia Suelen, foi uma das cidades mais atingidas, e concentra a maioria dos mortos confirmados no Estado: 31, do total de 182. A cidade teve 60% do território atingido pela água. A prefeitura estima que mais de 180 mil pessoas tenham sido atingidas no município — mais da metade dos 347.657 habitantes, segundo o Censo de 2022 do IBGE.

A destruição material se soma à destruição econômica: uma estimativa da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) aponta que 94,3% de toda atividade econômica do Estado foi afetada pelas cheias. Para os sobreviventes, fica a sensação de que os empregos e oportunidades demorarão a aparecer.

Suelen se mudou para Santa Catarina em 5 de junho, após conseguir uma vaga no resort Costao do Santinho, no Norte de Florianópolis. Ela está trabalhando na coordenação das boutiques que ficam dentro do hotel. Já o marido trabalha como motorista de aplicativo.

— Eu e meu marido tínhamos pensado em vir para Santa Catarina. Quando surgiu uma oportunidade, a gente nem esperou, simplesmente veio — diz ela.

Continua depois da publicidade

— Ainda estamos nos adaptando. Acho que tem tudo para dar certo. As pessoas são muito acolhedoras — complementa.

Suelen veio morar em Florianópolis junto com o marido (Foto: Lucas Amorelli. DC)

Recomeço

Para Aneliese Kindrielski, de 31 anos, a vinda para Içara, no Sul de Santa Catarina, marca um recomeço em vários âmbitos da vida. Casada há um ano, ela está pela primeira vez vivendo longe dos pais. A casa onde vivia com o marido, em Canoas, foi perdida.

— A sensação é de que, por mais que tu arrume a casa, que tu limpe, não vai ser o mesmo lugar de antes. Parece que a água levou tudo que tinha. Pensamos que, sé para recomeçar do zero, melhor tentar a vida em Santa Catarina — reflete ela.

Aneliese chegou na última sexta (19), dois meses depois do namorado, que veio logo após a enchente. A ideia da mudança partiu de um primo que vive em Santa Catarina.

Continua depois da publicidade

— Eu espero melhorar a parte financeira, porque aqui as coisas são muito difíceis. Parece que aqui [no Rio Grande do Sul] a gente trabalha, trabalha e não consegue as coisas. Aí [em Santa Catarina], o custo benefício é muito melhor. Eu pretendo trabalhar em uma escolinha infantil e fazer concursos para a área da educação — explica ela.

Aneliese Kindrielski veio morar em Içara com o marido, Paulo Regis (Foto: Arquivo pessoal)

Inserção no mercado de trabalho

Não há dados que apontem com exatidão a quantidade de gaúchos que vieram para Santa Catarina. Algumas famílias vieram após a enchente, passaram um tempo e depois voltaram ao estado de origem. De acordo com a Secretaria de Assistência Social de Santa Catarina, atualmente, 180 famílias estão cadastradas para receber benefícios do governo catarinense.

O governo de Santa Catarina chegou a criar o programa Resposta SC+ para receber os gaúchos e encaminhá-los ao mercado de trabalho, em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc). Para acessar o programa, o migrante deve ir até um dos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) dos municípios e preencher um formulário.

Algumas empresas também fizeram campanhas voltadas para a contratação de vítimas da enchente, como o Costao do Santinho, onde Suelen trabalha. A empresa recebeu cerca de 120 currículos desde que lançou o programa, no final de junho, segundo a coordedora de Recursos Humanos (RH) do Costao, Lise de Andrade.

Continua depois da publicidade

Situação no RS

As fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul entre o final de abril e o início de maio causaram estragos em 478 das 497 cidades gaúchas. A tragédia causou 182 mortes e deixou 806 pessoas feridas. Estima-se que mais de 2,3 milhões de pessoas foram afetadas.

Leia também

Observação de pássaros cresce em SC e conquista público em busca de conexão com a natureza

SC abaixo de zero: relembre as 20 menores temperaturas já registradas no Estado