Embora a entidade máxima do futebol garanta que, haja o que houver, não há possibilidade de a Copa do Mundo de 2014 trocar de país, uma interrogação percorre os corredores do Palácio do Planalto: há clima para realizar um Mundial no Brasil?
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Esfolada pelos protestos que tomaram o país e pelo descontrole dos gastos públicos, a imagem da Copa do Mundo no Brasil preocupa o governo e a Fifa. Em dúvida sobre a receptividade dos brasileiros ao evento, o Planalto, por meio do Instituto Brasileiro de Turismo, resolveu encomendar pesquisas para também avaliar o quanto as manifestações que levaram mais de 1 milhão às ruas durante a Copa das Confederações podem afugentar turistas estrangeiros.
A preocupação maior é de que lá fora – com emissoras de TV transmitindo ônibus em chamas e lojas saqueadas – a pecha de “país violento” cole de vez no Brasil.
– Houve um tempo em que sofremos com aquela imagem caricata, de país onde os turistas são sequestrados por gangues que lhes arrancam os órgãos para depois vender. Não podemos retroceder nesse aspecto – avalia um assessor do Planalto.
Para aplacar os ânimos da Fifa, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, tratou de garantir à entidade que, durante o Mundial, não haverá motivo algum para a população protestar. Nesse meio tempo, a presidente Dilma Rousseff se apressa em anunciar medidas para apaziguar os manifestantes o mais rápido possível. Afinal, a venda de ingressos para a Copa começa em menos de dois meses. Enquanto o governo aguarda o resultado das pesquisas do Instituto Brasileiro de Turismo, o economista Fernando Ferreira, sócio-diretor da Pluri Consultoria – empresa que é referência no Brasil em negócios do futebol -, adianta sua percepção:
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– Se a venda de ingressos começasse agora, a comercialização seria abaixo da expectativa.
O sociólogo Emil Sobottka, especialista em movimentos sociais, completa:
– Hoje, não há clima para Copa. Mas esse clima deverá ser recuperado. A mobilização das ruas não tem fôlego para tanto tempo.
Embora um sentimento anti-Copa fique evidente em centenas de cartazes (e também em manifestações diárias nas redes sociais), não é a aceitação dos brasileiros que mais angustia o governo e a Fifa. Em pesquisa recente do Datafolha, que ouviu moradores da cidade de São Paulo, a Copa não aparece entre as causas mais citadas como aquele que deveria ser o principal alvo das manifestações. Por outro lado, pesquisa Ibope revelou que 44% da população apoia totalmente o evento, 27% apoiam em parte e 29% não apoiam. Conforme assessores da Esplanada, o temor é de que a previsão inicial do Ministério do Turismo, de 600 mil turistas estrangeiros desembarcando para a Copa, despenque a partir de uma imagem de um país conflagrado.
Consultor de marketing e gestão esportiva, Amir Somoggi apresenta um cálculo do prejuízo financeiro que a desistência de um único visitante provoca.
– Turistas que vão à Copa costumam desembolsar cerca de US$ 11 mil em 17 dias, sem contar a passagem. É muito dinheiro. É uma população de alta renda que gasta em hotéis, restaurante, transporte – alerta.
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Para um país que a um ano do torneio já investiu R$ 28,1 bilhões, qualquer real perdido terá um significado profundo. O doutor em sociologia Valeriano Costa, pesquisador do Centro de Estudos de Opinião Pública da Unicamp, afirma que é preciso salvar a imagem da Copa no campo das obras:
– O estádio erguido em Brasília, por exemplo, não será um elefante branco depois da competição? Ele custou R$ 1,2 bilhão, mesmo valor do subsídio anual que a prefeitura de São Paulo paga para a passagem de ônibus. Vale a pena? É isso que a população vai precisar ponderar.
Copa das Confederações: teste
que revela alguns problemas
Sócio-diretor da Pluri Consultoria, Fernando Ferreira avalia que a violência e os protestos durante o período da Copa das Confederações atingem mais diretamente a Fifa.
O consultor Amir Somoggi tem críticas e elogios ao desempenho brasileiro na Copa das Confederações, teste definitivo para o Mundial:
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– Minha maior preocupação é a mobilidade urbana, hotéis e serviços para o turista. Nunca imaginei que teríamos problemas como o do Uruguai, que não conseguiu treinar. A quarta colocada na Copa de 2010 foi treinar em uma academia.