Apesar de não terem prazo de chegada determinado, as novas doses da vacina contra a Mpox que estão sendo negociadas pelo Ministério da Saúde devem vir “em breve”, conforme a secretária de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Ethel Maciel. As informações são do g1.
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As negociações que querem trazer a vacina da Bavarian Nordic — a mesma que foi encaminhada aos estados brasileiros, em 2023 — já estavam acontecendo antes mesmo do decreto de emergência da Organização Mundial da Saúde (OMS), ainda de acordo com a secretária.
Quais são e como funcionam as vacinas contra Mpox
— Não posso fornecer uma data exata para a chegada das doses, uma vez que isso não depende mais do Ministério da Saúde. Mas a fase mais complexa, que envolveu a obtenção da autorização especial para a importação da vacina, já foi concluída. A expectativa é de que as doses sejam recebidas em breve, embora isso ainda dependa do Fundo Rotatório da OPAS — disse Ethel ao g1.
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O Fundo Rotatório da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) é um procedimento de cooperação técnica responsável por facilitar a obtenção de medicamentos que incluem vacinas, seringas, equipamentos e outros insumos aos países das Américas.
A organização internacional informou ao g1 que, atualmente, está negociando a compra de 25 mil doses da vacina com a Bavarian Nordic. A farmacêutica que fornece as vacinas, no entanto, disse que não deve comentar acerca das negociações que estão em andamento.
Leia a nota da OPAS na íntegra:
“A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) está em contato com o Ministério da Saúde do Brasil para a aquisição de vacinas contra mpox via Fundo Rotatório da OPAS, que é um mecanismo de cooperação técnica destinado a facilitar o acesso dos países das Américas a imunobiológicos, seringas, equipamentos e insumos correlatos de saúde de alta qualidade.
No momento, a OPAS está em negociação junto ao fornecedor Bavarian Nordic para a compra de 25 mil doses de vacina.
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Tendo em vista a limitada quantidade de vacinas disponíveis atualmente no mundo, a prioridade neste momento é utilizá-las nas situações em que haja o maior impacto em saúde pública, bem como focar na vigilância, comunicação de risco, engajamento comunitário, rastreamento de contatos e outras medidas de saúde pública destinadas a prevenir a propagação do vírus causador dessa doença“, diz a nota.
Leia a nota da Bavarian Nordic na íntegra:
“Não podemos comentar sobre negociações em andamento com partes específicas, mas informaremos o mercado se e quando acordos significativos forem firmados. Desde 2022, temos um acordo com a OPAS, que permite o acesso à nossa vacina para seus estados membros.
Como divulgado, anunciamos uma capacidade de produção adicional em nossas instalações, permitindo a fabricação de até 10 milhões de doses da vacina até 2025. Embora não possamos prever a demanda, nenhum pedido foi feito até o momento que impacta essa capacidade“, comunica a farmacêutica.
Quem será vacinado
— O acordo foi fechado; agora, restam apenas os detalhes finais e o envio — complementou Ethel.
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Ainda de acordo com a secretária, assim que as doses chegarem, haverá uma reunião do Comitê Técnico Assessor de Imunizações (CTAI) do ministério. A ação seguirá a orientação da ministra da saúde, e quer discutir se a estratégia de vacinação será feita baseada na situação global.
Com risco baixo para o atual surto, o Brasil já iniciou a campanha de imunização em março do ano passado, com o seguinte público-alvo:
- pessoas que vivem com HIV/aids (PVHA);
- profissionais de laboratórios que atuam em locais de exposição ao vírus;
- pessoas que tiveram contato direto com fluidos e secreções corporais de pessoas suspeitas.
Em junho de 2023, o programa de vacinação foi ampliado a usuários da Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP), devido à uma nota técnica da pasta. Isso permitiu que vacinas disponíveis na rede estadual ou municipal sem uso para PVHA pudessem ser aplicadas em pacientes que usam a PrEP.
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— A partir da discussão dentro da nossa câmara técnica, a gente vai ver se a estratégia tem que ser repensada, também avaliando o que tá acontecendo em outras partes do mundo — comentou a secretária.
Mesmo que a adição dessas doses seja positiva, no entanto, o número ainda pode ser considerado insuficiente devido ao surto contínuo da doença desde 2022, de acordo com Rico Vasconcelos, médico infectologista do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) e do Núcleo de Medicina Afetiva (NuMA). Além do surto, o baixo número também é devido ao número de pessoas que necessitariam da vacina.
— No Brasil, com cerca de 1 milhão de pessoas vivendo com HIV e 100 mil em uso de PrEP, 25 mil doses cobrem apenas uma pequena parte das necessidades — pontua.
Doses aplicadas no país
Foi em 2023 que a vacinação contra a Mpox teve início no país, com uma licença especial da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que permitia a vacinação de grupos vulneráveis e pessoas que tiveram contato com casos confirmados.
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Na última quinta-feira (22), inclusive, a Anvisa aprovou uma resolução que autoriza a importação de medicamentos e vacinas de prevenção ou tratamento da Mpox, mesmo sem a aprovação da agência internacional. Mesmo assim, a medida não afeta as negociações que acontecem entre o ministério e a OPAS, uma vez que a autorização especial para importação de novas doses já foi concluída.
A pasta aponta, ainda, que todo o estoque que chegou ao país em 2023 foi distribuído aos estados, e correspondia à 49 mil doses. O esquema de vacinação indica duas doses para cada pessoa com intervalo de quatro semanas entre elas.
Apesar disso, apenas pouco mais da metade das doses foram aplicadas até o final de junho, conforme dados do Ministério da Saúde. Foram apenas 29.165 doses aplicadas.
— Após o envio das vacinas para os estados, a gente não tem como ter um controle direto. A nossa responsabilidade no Programa Nacional de Imunizações (PNI) se limita ao envio e às orientações técnicas sobre o uso e armazenamento das vacinas, como a necessidade de descongelamento — afirma a secretária de Vigilância do Ministério da Saúde.
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As orientações são dadas aos programas estaduais de imunização, explica a secretária, e, mesmo que os sistemas de informação da pasta federal façam o registro das doses enviadas, o monitoramento da chegada das vacinas do estado é limitado.
O governo da Paraíba, por exemplo, comunicou ao g1 que recebeu 343 doses da vacina, mas só aplicou 146. As outras 112 foram perdidas devido à problemas com descongelamento impróprio.
Por outro lado, alguns estados como São Paulo não têm mais doses. Outros, no entanto, como o Distrito Federal e o Acre, ainda possuem estoques destinados à conclusão dos esquemas vacinais.
Goiás, que possui por volta de duas mil doses do imunizantes, permanecem disponibilizando a primeira e a segunda dose.
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— Os estados têm autonomia para seguir as diretrizes do PNI, mas devem respeitar as recomendações específicas relacionadas à essa vacina. E ela recebeu uma autorização especial da Anvisa, não sendo licenciada para uso geral. Portanto, ela pode ser utilizada apenas para o público definido e de acordo com as orientações do programa — explica Ethel.
Tipo mais grave da Mpox ainda não chegou ao país
A Organização Mundial de Saúde (OMS) já afirmou que a Mpox não é a “nova Covid”, uma vez que as autoridades de saúde já tem os meios para controlar a disseminação da doença. Além disso, vacinas e teste de diagnóstico também já estão disponíveis.
Como o MPXV, vírus causador da doença, já é conhecido por autoridades desde 1958 — quando foi identificado pela primeira vez — já se sabe muito sobre ele.
Existem dois grandes tipos do MPXV: o clado 1 e o clado 2. De maneira geral, o clado 1 é mais grave e mortal que o clado 2, nas populações afetadas.
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Até o momento, no Brasil, nenhum caso do Clado 1b, que é o subclado que deu origem ao novo surto, foi identificado. Mesmo assim, a secretária Ethel Maciel diz que o Ministério da Saúde permanece vigilante para o caso do tipo mais grave da Mpox chegar ao Brasil.
— Nesse mundo globalizado, todos os países sabem que podem ter um caso [do clado 1b], e é muito importante que identifiquemos logo para que possamos tomar as medidas cabíveis de isolamento, impedindo a transmissão — afirma.
O Departamento de Controle de Doenças da Tailândia confirmou um caso de Mpox do Clado 1b na última quinta-feira (22). Na semana passada, a Agência Sueca de Saúde Pública identificou o primeiro caso do mesmo tipo de clado fora da África.
No Brasil, a pasta está trabalhando no controle da doença por meio da implementação de novos testes diagnósticos em laboratórios, garantiu a secretária de Vigilância do Ministério da Saúde. Isso é vital, uma vez que as novas mutações do vírus podem dificultar a detecção e resultar em “falsos negativos” nos testes desatualizados.
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Quatro laboratórios de referência no país possuem níveis de biossegurança apropriados para realizar o sequenciamento genético do vírus. Quando um teste para a doença dá negativo, é produzido um painel para detectar outros vírus da mesma família. Caso algum deles resulte positivo, mesmo sem a identificação do vírus, é feito um sequenciamento genético para uma análise mais precisa.
O objetivo é a identificação de novas variantes e a preparação para possíveis ocorrências, levando em conta o histórico global e local.
*Sob supervisão de Andréa da Luz
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