Ele era reserva naquele 13 de outubro. O jogo contra os russos, pra lá de complicado, reservava um tie-break com fortes emoções. Então ele entrou, fadado a fazer história. Quando o placar marcava 14 a 13 para a Seleção Brasileira, o saque que decidiria o título caiu nas mãos de Giovane Gávio, que colocou a bola precisamente no corredor, em cima da linha.

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O ponto deu ao Brasil aquele que foi o primeiro Campeonato Mundial da história, um ano após o início da Era Bernardinho. Giovane guarda até hoje a recordação daquele que foi um dos grandes momentos de sua carreira. Aos 46 anos, o ex-jogador agora é técnico e busca com o Sesc-RJ o acesso à elite do vôlei no país.

No sábado ele esteve no ginásio da Escola Barão do Rio Branco para enfrentar Blumenau – e saiu vitorioso, por 3 sets a 0. Giovane conversou com o Santa, avaliou o cenário do esporte no país, projetou os próximos capítulos com a chegada de Renan Dal Zotto e contou sobre o seu time, a sensação da Superliga B, que em quatro jogos contabiliza quatro vitórias e nenhum set perdido.

O que é possível prever com as mudanças no vôlei nacional, a saída de Bernardinho e a chegada de Renan Dal Zotto no comando da Seleção Brasileira?

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Acho que o mais importante é que o Bernardo construiu uma cultura dentro da Seleção Brasileira, que é a cultura do trabalho, da dedicação, de você entender que para vencer e chegar lá em cima é preciso trabalhar muito. Isso está muito disseminado, muito forte. A entrada do Renan não muda muito a forma de trabalhar, só algumas características da personalidade de cada um, mas ele está nesse meio há bastante tempo, acompanhando treinamentos. Minha percepção é que muda pouco, acho que a questão aí é o Renan pegar novamente o ritmo de treinamentos, já que ficou muito tempo longe (das quadras). Mas é só questão de tempo. Já fui jogador do Renan em Santa Catarina e ele é um profissional fantástico.

Em tempos de crise financeira, como é possível avaliar o vôlei em clubes no Brasil hoje em dia?

A Superliga já se tornou um produto consolidado, com mídia, público e tudo mais. A gente sabe que mesmo assim a luta é diária, os clubes médios e menores têm que correr muito atrás e lutar para conseguir arrecadar dinheiro para fazer o campeonato e tudo que vem em volta. A realidade sempre foi dura, nunca foi boa (risos). São alguns projetos mantidos pela paixão de pessoas que fazem com que o vôlei cresça. A Superliga vem ganhando qualidade, mas sem dúvida o momento que o Brasil atravessa não ajuda, com empresas diminuindo investimento em marketing, que no esporte é um dos primeiros a ser cortado. Temos que seguir em frente, como sempre. Essa não é a primeira crise que a gente enfrenta e tenho certeza que vamos sair mais fortes dela.

Com a consolidação da Superliga B como uma nova competição de alto nível técnico e com jogadores mais novos, é possível projetar uma boa safra de atletas a curto prazo?

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Acho que essa é a maior das responsabilidades da Superliga B, de dar a oportunidade para mais jogadores de começar a jogar mais cedo e ter responsabilidade e chance de decidir. São vários times com faixa etária mais baixa e isso é muito bom. Falando como treinador da Seleção Brasileira Juvenil, essa é uma oportunidade muito rica para a categoria de base no país. A gente precisa de mais times, com mais jovens, e a Superliga B é um palco bacana para isso. São jogadores que têm qualidade, bom nível técnico, mas que às vezes ficam na reserva da Superliga A. Acho que essa divisão de acesso se estruturando mais, com condições melhores de trabalho para os jogadores, a tendência é de que o campeonato cresça bastante para que, quem sabe, daqui a pouco a gente já tenha 12 equipes também.

O que você conhece sobre o projeto e trabalho executado em Blumenau?

O André (Donegá) é muito experiente, já está acostumado nesse nível há um bom tempo. Ele é um estrategista, com um time taticamente bem montado, e tem na mão jogadores experientes. Você vê atletas como China, Bob, que já atuaram em Superliga A e sabem lidar com momentos decisivos de forma tranquila, e isso é uma força a mais em quadra.

O Sesc-RJ tenta recolocar o Rio de Janeiro no cenário do vôlei masculino. O que é esse projeto?

É um projeto maior do que simplesmente um time de vôlei. Queremos oferecer à sociedade do Rio de Janeiro a oportunidade de praticar esporte não só com o vôlei, mas com outras modalidades que serão criadas daqui para frente. Teremos categorias de base, escolinhas de vários esportes por todo o estado e o time principal do vôlei como um espelho. Fico feliz de participar, já que a cidade já teve a experiência de uma equipe há pouco tempo que não conseguiu se sustentar e agora a gente volta ao cenário para ocupar um espaço deixado. O Rio de Janeiro merece ter uma equipe de alto rendimento, ainda mais agora depois dos Jogos Olímpicos com tantos ginásios desocupados.

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Já faz quase 15 anos que você acertou aquele ace que deu o primeiro título mundial para o Brasil. Ainda sonha com aquele lance?

Ah, rapaz. Aquilo ali guardo com carinho e a mídia sempre ajuda a recordar. Foi um momento mágico que vivi e que tive a honra de participar. Recordar é viver, não é? Recordo sempre daquele lance.