A história do maior tenista brasileiro virou livro lançado recentemente e à venda nas livrarias. E na obra Guga, um Brasileiro, três joinvilenses aparecem entre os diversos personagens da caminhada do catarinense.

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Zeca S.Thiago, Carolina Boscardin e Ricardo Schlachter tomaram parte do cenário em que Gustavo Kuerten pavimentava sua ascensão no esporte que o levaria a ser tricampeão de Roland Garros (um dos quatro torneios mais importantes do mundo, chamados Grand Slam) e a ser número 1 do mundo por mais de 40 semanas.

Confira o recado de Guga para os joinvilenses:

O nome de Joinville não aparece no livro. Mas os de três importantes personalidades do tênis joinvilense ao longo da história estão lá. O empresário Zeca S.Thiago (que no livro é escrito Santiago) é o primeiro a ser citado. Zeca estava no Clube Santa Mônica, em Curitiba, em maio de 1985, quando o pai de Guga, Aldo Kuerten, sofreu infarto. Foi Zeca quem o levou ao hospital _ Aldo, 41 anos, não resistiu.

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Carolina Boscardin integrou a equipe Ceval, de Gaspar, no final dos anos 1980 e parte dos 90. Perto dos 18 anos, em transição do juvenil para o profissional, ela dividiu apartamento com Guga, então com 13 anos e recrutado para o mesmo projeto comandado pelo técnico Larri Passos. A convivência não foi esquecida nas memórias de Guga que tomam 384 páginas do livro.

Como Carolina, Ricardo Schlachter foi tenista contemporâneo de Guga. Com a diferença de um ano de idade (Ricardo é mais novo), conviveram em diversas quadras, no Estado, no País e no exterior, e a amizade ganha reverência especial no livro, no trecho em que Guga revela a participação voluntária de Rico em uma negociação de patrocínio.

Apelo de mãe a Carolina Boscardin

Um apelo preocupado de mãe fez da joinvilense Carolina Boscardin, hoje com 43 anos e professora de tênis, uma espécie de “irmã mais velha” de Guga Kuerten. Ela tinha 17 anos e ele, 13, quando se juntaram numa equipe de tênis mantida pela Ceval, em Gaspar. Guga deveria ficar num apartamento com outros rapazes mais velhos da equipe. Dona Alice, a mãe do garotinho, preocupou-se.

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-Na época, havia um apartamento de meninos, já maiores, no qual o Guga deveria ficar, e o meu, só eu de menina. A mãe do Guga me perguntou se ele poderia ficar comigo. Aceitei na boa e sei que ajudei muito esta fase do Guga-, conta a joinvilense, que começou a jogar tênis aos dez anos e conheceu os irmãos Rafael e Gustavo Kuerten nos circuitos juvenis.

A convivência era harmônica. Os atletas da equipe almoçavam no bandejão do refeitório da Ceval. No apartamento, era Carol quem acordava Guga para ir à escola e lhe preparava café.

-Senão, ele não comia nada-, lembra.

Mas, em transição para o tênis profissional, Carolina chegava a ficar bom tempo fora de casa, jogando torneios. Como da vez em que passou quatro meses na Europa. No retorno, Guga não estava mais no apartamento, tinha voltado para Florianópolis.

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Alguns anos depois, Carolina conta que se emocionou com a ascensão de Guga na primeira conquista em Roland Garros.

-Pura emoção, porque convivi muito de perto com ele e pude ver que o resultado de todo esforço veio e que valeu a pena. Guga é um brasileiro que encantou a Nação e o mundo com sua garra e carisma. Tenho o maior carinho por ele e toda a sua família.

Carolina diz que achou “maravilhosa a ideia do livro com a história do Guga”, mas não tinha ideia de que seria uma das personagens.

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-Não imaginei que seria citada. Um amigo estava lendo e me contou. Fiquei até emocionada, pois meus filhos jogam tênis e podem ver o que passei ou pelo menos terem uma noção de minha carreira.

Brincadeiras em Joinville

Que lembranças podem ser mais gostosas do que as da meninice, as das amizades infantis e adolescentes? As do joinvilense Ricardo Schlachter, 37 anos, são ainda mais afetuosas porque remetem à época em que ele tanto enfrentava Guga Kuerten nas quadras quanto levava o amigo para brincar em sua casa.

-Nós jogávamos a categoria até 10 anos, embora tivéssemos apenas sete ou oito anos de idade. O Guga veio muitas vezes jogar em Joinville, em especial até os 14 anos. Ele e o irmão sempre ficavam lá em casa e era a maior diversão, pois, depois de jogarmos o dia todo no Joinville Tênis Clube, fazíamos uma espécie de olimpíadas em casa, com videogame, cartas, sinuca etc.-, lembra Rico.

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Professor de tênis em Joinville, Rico diz que mantém muito contato com Guga, especialmente sobre projetos de tênis e como inserir Joinville no contexto.

-O Guga é muito atuante no tênis até hoje e trocamos muitas ideias. Peço conselhos a ele em relação aos passos que devemos seguir em Joinville.

No livro, Rico é lembrado por Guga “por uma das maiores demonstrações de amizade que já tive”. O joinvilense se recorda da história. Depois de um dia de treino em Florianópolis, seus parceiros Guga, Márcio Carlsson e Cascata cancelaram uma viagem para a Espanha por questões financeiras.

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Guga e Márcio haviam perdido os patrocinadores e Rico estava com um ótimo suporte do Frigorífico Chapecó e diz ter sentido a obrigação de tentar ajudar.

-Telefonei para o dono da empresa, Plínio de Nes, e pedi que ele me ajudasse. Alguns meses depois, o Frigorífico Chapecó resolveu patrocinar o Guga. No final do ano, fomos à reunião com o Plínio para renovação de contratos. Embora a empresa estivesse fazendo cortes, o tênis eles decidiram manter. Porém, cortes eram inevitáveis, e foi aí que dividimos o valor que a empresa disponibilizava. E o seu Plínio fez questão de falar que o primeiro a pedir patrocínio do frigorífico para o Guga fui eu.

Foi o próprio Guga quem disse ao amigo que Rico seria um dos personagens do livro.

-Logicamente, me emocionei, não só por ser citado, mas também com toda a história dele. Afinal, vivenciei alguns daqueles momentos ao lado dele.

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Última conversa com o amigo Zeca

O gosto pelo esporte se encarregou de abrir caminho para a amizade entre Aldo Kuerten e o empresário joinvilense Zeca S.Thiago. Eles se conheceram nos Jogos Abertos de SC, cada um por sua cidade.

Aldo jogava basquete. Zeca fazia tênis, atletismo e natação por Joinville. O destino reservaria um capítulo trágico para esta amizade: a morte do pai de Guga depois de sofrer um infarto durante torneio no qual Zeca também estava.

A história dramática se passou em maio de 1985 em um clube de Curitiba. Zeca levara um grupo de jovens tenistas de Joinville para competir. Aldo estava lá pelo mesmo motivo, com a turma de Florianópolis, entre os quais seus filhos Rafael, 11 anos, e Guga, oito. Zeca lembra que almoçou com Aldo. Depois, o amigo foi chamado para ser árbitro de um jogo _ era normal que pais assumissem esta função nestes eventos.

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-O Aldo passou mal durante o jogo, havia sinais de infarto, então me chamaram com uma orientação: leva logo para o hospital. Já havia uma pessoa esperando com uma F1000. No caminho, eu procurava conversar com o Aldo e manter o astral pra cima. Ele tirou uma corrente de prata que usava no pescoço e colocou em mim. Pediu pra entregar para a Alice (mulher de Aldo) e falou das crianças, que eu ajudasse para que eles continuassem com o tênis-, recorda Zeca, 65 anos.

No hospital, Zeca viu o amigo sendo atendido, “tomar choque”, mas não sobreviveu.

-Voltei para Joinville, tomei banho sem tirar a corrente do pescoço. No dia seguinte, fui ao velório, em Florianópolis, procurei pela Alice e entreguei, como o Aldo pediu-, conta Zeca, com a emoção da lembrança estampada no rosto.

A amizade foi sólida. Quando jogou basquete em Brusque, Aldo morou em hotel e Zeca lembra que quando ia disputar tênis na cidade ficava no mesmo local e visitava Aldo no quarto, para conversarem ou curtirem violão, que o pai de Guga tocava.

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A relação com a família continua. Zeca foi convidado dos Kuerten e assistiu, a partir das oitavas de final, à conquista do tricampeonato de Guga em Roland Garros. Há poucas semanas, reencontrou-se com Alice na Copa Davis.