As lideranças da Ocupação Amarildo de Souza, que segue instalada às margens da SC-401 em Florianópolis, tentam emplacar uma nova discussão para além da determinação da Justiça agrária estadual.
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Uma audiência pública convocada pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa na tarde de ontem – realizada a pedido dos representantes da invasão – colocou frente a frente órgãos públicos que, em conjunto, podem tomar medidas concretas sobre o futuro do acampamento.
Estiverem presentes diversas instituições, entre elas a Justiça agrária de SC, o Incra, a Secretaria de Patrimônio da União (SPU) e a Advocacia Geral da União (AGU). O envolvimento de tantas instituições aumenta a complexidade da situação: cada um só pode agir se o outro fizer o seu trabalho. A determinação de que o acampamento deve abandonar o terreno até dia 15 de abril continua mantida.
Comenta-se nos bastidores que os atuais acampados têm remotas chances de serem assentados, uma vez que o prazo de retirada se aproxima e os órgãos públicos que poderiam tomar alguma decisão seguem em ritmo próprio.
O líder da ocupação, Rui Fernando, garante que irá respeitar o prazo. Mas também afirma que, uma vez comprovada a propriedade da União sobre a área, uma nova discussão deve ocorrer.
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O ouvidor agrário do Incra, Fernando Souza, já manifestou interesse em propor o assentamento das famílias através do projeto Casulo, que visa fortalecer a agricultura familiar em terrenos próximos a centros urbanos. Para isso ocorrer, seria necessário que a propriedade privada da terra fosse anulada e passasse a pertencer à União.
– O Incra só poderá ingressar naquela área se a SPU agir e ofertar a terra aos cuidados da reforma agrária. Existe uma possibilidade de assentamento caso o SPU use de seus esforços e prossiga com seus trabalhos – disse o ouvidor.
A única autorizada a entrar com uma ação jurídica de anulação de títulos do atual proprietário, o empresário Artemio Paludo, seria a AGU, e mesmo assim ele teria direito a ampla defesa. Segundo a procuradora chefe do órgão em SC, Dalvani Jank, as condições estão sendo analisadas. Ela também está aguardando movimentos por parte da SPU como, por exemplo, a homologação da área, que deve respeitar os trâmites e envolver a notificação oficial dos proprietários, o que ainda não aconteceu.
Pressionada pelo Incra e tendo a AGU à espera, a superintendente da SPU, Sílvia de Luca, conta também que já recebeu os manifestantes em quatro ocasiões. Ela afirma que a propriedade é realmente da União, mas adiantou que não pode tomar nenhuma providência enquanto não receber laudos especializados do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), que deve avaliar se o terreno é ou não Área de Preservação Permanente e se pode receber um assentamento agrário.
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