Após dois anos de recessão, três de cada quatro empresas catarinenses que estão na bolsa de valores brasileira conseguiram fechar 2017 com lucro. O balanço positivo é bem diferente do ano anterior, quando 11 das 21 que fazem parte da B3 – nova marca da Bovespa desde março do ano passado – estavam no vermelho (veja no gráfico abaixo).
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Apesar dos desafios particulares de cada setor, a maioria também terminou o ano passado com receita líquida – descontadas algumas taxas de impostos – de vendas maior do que 2016. A líder nesse ranking é a BRF, que alcançou o valor de R$ 33,47 bilhões, seguida pela WEG (R$ 9,52 bilhões), Celesc (R$ 7,09 bilhões) e Engie Brasil Energia (R$ 7,01 bilhões).
Nesse mercado que mostra poder econômico, transparência e oportunidades para atrair capital mais barato para investimentos, o conjunto das empresas de Santa Catarina apresenta consistência no crescimento da receita. As 21 companhias do Estado, que respondem por 6,14% do total de negócios na bolsa, obtiveram juntas receita líquida de R$ 67,7 bilhões, 3,48% superior à cifra do ano anterior, que chegou a R$ 65,5 bilhões. O valor superou um pouco a inflação oficial de 2017, que teve alta de 2,95%.
Se a receita apresenta crescimento e uma certa estabilidade, o mesmo não ocorre com a soma do lucro líquido consolidado. A instabilidade de algumas resulta em variações expressivas de um ano para outro. Em 2017, a soma dos resultados atingiu R$ 2,69 bilhões, maior do que o consolidado do ano anterior, R$ 2,03 bilhões. Porém, em 2015, com menos efeitos da recessão, o resultado total alcançou R$ 6,05 bilhões.
Gigantes apresentam cenários diferentes
A catarinense que registrou o maior lucro – já descontadas todas as despesas – no ano passado foi a Engie, que obteve R$ 2 bilhões. Em segundo lugar ficou a WEG, com R$ 1,14 bilhão. Ambas são reconhecidas por gestão de excelência, estão entre as mais admiradas do Brasil e conseguem, mesmo nas condições mais adversas, manter a média de lucro.
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A mais instável das bilionárias tem sido a BRF, gigante de alimentos dona da Sadia e da Perdigão. No ano passado, atingida pela operação Carne Fraca e problemas de gestão, apresentou prejuízo líquido de R$ 1,01 bilhão. Em 2016, também fechou no vermelho, com resultado negativo de R$ 367,34 milhões após obter lucro de R$ 3,13 bilhões em 2015.
Porém, para o fundador do portal Eu Quero Investir, Juliano Custódio, que também é analista de investimentos, se Pedro Parente, atual presidente do conselho da companhia, for conduzido para a presidência executiva em breve, o cenário pode mudar. O mercado considera o executivo um excelente gestor após resultados positivos em outras empresas. Segundo Custódio, o cenário da bolsa brasileira será turbulento neste ano devido às mudanças na Petrobras e às eleições de outubro. Vai depender muito do governo. Contudo, ele acredita que a economia brasileira vai melhorar, independentemente de quem vencer a eleição, porque o mundo está iniciando um ciclo de commodities.
— Está começando um ciclo de valorização dos preços de commodities no mercado internacional. Como o Brasil é um grande exportador desses produtos, acredito que será muito difícil o país dar errado nos próximos três anos — avalia o especialista.
Avaliada em R$ 36 bi, WEG é a maior do Estado na bolsa
Enquanto a BRF se perdeu nos últimos anos devido à conturbada gestão de Abilio Diniz, a WEG, de Jaraguá do Sul, foi crescendo do seu jeito e se tornou a maior empresa catarinense na bolsa. Em 30 de maio, a líder mundial em motores elétricos estava avaliada em R$ 36,03 bilhões, com ações vendidas a R$ 17,18.
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Em segundo lugar estava a Engie Brasil Energia, avaliada em R$ 24,14 bilhões, e em terceiro a BRF, em R$ 17,37 bilhões. Os cálculos foram feitos pelo economista Rafael Costa da Silva, administrador do fundo de investimentos Próprio Capital Gestão de Recursos. Grupo com atuação diversificada em setores e mercados, a WEG avança por diversas razões.
— Uma junção de fatores tem feito a empresa se tornar cada vez mais atrativa para o mercado. Entre eles estão a confiança dos investidores, a incontestável solidez financeira, um consistente programa de governança corporativa e um robusto projeto de expansão e internacionalização da companhia. Tudo isso aliado ao forte potencial de inovação e desenvolvimento de pessoas — explica André Luis Rodrigues, CFO da companhia.
Valor de mercado é quanto o investidor está disposto a pagar por cada ação da companhia e, se resolvesse comprar inteira, quanto custaria. Na opinião de Rafael Costa, entre os diferenciais que elevaram o valor da WEG na bolsa estão a competitividade e a governança corporativa.
Nos anos 1970, quando incluíram a empresa na bolsa, os acionistas fizeram uma carta determinando normas de governança. A companhia de Jaraguá do Sul tem compliance reconhecido pelo mercado. Já a BRF, conforme o economista, tem uma dívida muito relevante:
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— A WEG também tem dívida, mas se olhar o que ela tem em caixa, de recursos disponíveis, na prática não tem dívida, mas recursos excedentes. O caso da Metisa (metalúrgica de Timbó), que também está na bolsa de valores, é semelhante — explica Rafael Costa.
Segundo ele, as empresas catarinenses com mais ações negociadas na B3 estão no novo mercado, o que dá direitos iguais para todos os acionistas na venda.
Investidores de fora
A Celesc também tem registrado variações elevadas entre lucro e prejuízo. Isso porque é atingida por altas no custo de energia e normas que acabam forçando essas oscilações, tanto que nos últimos dois anos tem publicado balanço ajustado para mostrar essas dificuldades. Mas a companhia é um exemplo de que é vantagem estar listada na bolsa.
Em função do bom desempenho da economia catarinense, a EDP Energias Brasil, multinacional de Portugal, planejou adquirir 33,6% do capital da estatal catarinense incluindo os 14,5% da Previ e a outra parte de acionistas do mercado. Contudo, o plano de comprar uma parte do mercado não teve o êxito esperado porque os outros investidores decidiram não vender as ações.
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Para o economista Rafael Costa da Silva, gestor do fundo de investimentos Próprio Capital, de Florianópolis, que conta com 213 cotistas, R$ 40 milhões investidos e foi eleito um fundo cinco estrelas pela revista Exame, na hora de investir em bolsa é preciso avaliar a solidez dos negócios, liquidez e diversificação.
Empresas optam por fechar o capital
O Estado conta com um número elevado de companhias abertas e uma boa presença na bolsa porque nos anos de 1970 o banco Bradesco, especialmente sob a liderança do então diretor Alcides Tápias, convenceu muitas empresas do Estado a abrir capital. Nesse grupo, entraram as maiores dos setores têxtil, plástico, metalúrgico e mecânico.
Nos últimos 10 anos, algumas dessas companhias fecharam capital. A multinacional Tigre, de Joinville, foi uma delas. Como suas concorrentes não tinham dados abertos, preferiu fazer o mesmo. Entre as que tomaram decisão semelhante estão a Marisol, de Jaraguá do Sul, e a Buddemeyer, de São Bento do Sul.
O presidente da Marisol, Giuliano Donini, explica que a empresa saiu da bolsa em 2012 não por uma estratégia ou por uma visão anti-mercado de capitais.
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— Foi uma oportunidade dos acionistas que detinham o controle acionário, para assumir a companhia como um todo. Fechamos o capital. Minha família detinha 40% do capital e obteve os outros 60% do mercado. A Marisol, que abriu o capital na década de 1970, estava no mercado tradicional. Hoje, a regra do jogo é o Novo Mercado, em que todas as ações têm o mesmo valor. Se a empresa tivesse ficado na bolsa, teria ido para o Novo Mercado — diz.
Giuliano não descarta a possibilidade, no futuro, de a empresa reabrir capital. A Marisol é líder nacional em moda infantil. Detém as marcas Marisol, Lilica Ripilica (que virou desenho animado), Tigor T. Tigre e Mineral Kids. Atua com produção de confecções e calçados, com capacidade para produção de mais de 13 milhões de peças.