Do sonho de dois médicos nasceu a esperança de milhares de pessoas e de uma família, que completa trinta anos de relação comunitária com Joinville. A Fundação Pró-Rim, instituição filantrópica líder em transplantes renais em Santa Catarina, celebra suas três décadas de existência nesta sexta-feira (22), com números que impressionam: 1.500 transplantes realizados, 89 mil hemodiálises em mais de 600 pacientes anualmente e uma equipe multidisciplinar composta por pelo menos 500 funcionários nas unidades do Estado e no Tocantins.
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Criada em 1987 pelos médicos nefrologistas José Aluísio Vieira e Hercílio Alexandre da Luz Filho, a instituição foi viabilizada por meio de convênios e com o objetivo de oferecer tratamento avançado e de qualidade para pacientes com problemas renais — realizado na Pró-Rim essencialmente por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).
Passados 30 anos, o local mantém hoje uma equipe multidisciplinar e máquinas de hemodiálise de alta tecnologia, além de contar com mais de mil alunos no Instituto Pró-Rim de Educação e Pesquisa em Saúde (Ipreps). A instituição detém ainda o único Programa de Especialização Médica em Nefrologia de Santa Catarina, desde 1995, e um programa de voluntariado que distribuiu mais de mil cestas básicas somente neste ano.
Em novembro, a Pró-Rim tornou-se também a primeira clínica de hemodiálise do mundo a conquistar certificação internacional QMentum, do Canadá. Para os dois fundadores, uma prova de que a meta traçada no passado é uma realidade constante.
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— A nossa missão é salvar vidas e estamos fazendo isso há mais de trinta anos, só que essa demanda é constante e muito maior. Então, vamos continuar com a missão enquanto estivermos vivos e, desde já, preparando pessoas que sigam com essa responsabilidade que hoje tem a Pró-Rim — afirma José Aluísio.
O mesmo destaca Hercílio, que comandou em 1975 a realização da primeira hemodiálise do Estado, em Joinville, antes mesmo da construção da Pró-Rim, e do primeiro transplante renal de Santa Catarina, no Hospital Municipal São José, três anos depois. Parte desse legado foi guardado na última quarta-feira, em uma cápsula do tempo que será aberta em 2037, no aniversário de 50 anos da fundação.
— A fundação é motivo de orgulho para todos nós de Joinville e de Santa Catarina ao longo de seus 30 anos porque, diferentemente de tantas outras instituições, mantém a credibilidade como seu maior patrimônio. Esse objetivo a fundação alcançou e para os próximos 20, 30 anos, queremos que continue trilhando o seu caminho de salvar vidas, que é a nossa principal missão — completa.
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Epidemia silenciosa
A missão ao qual os nefrologistas se referem é dimensionada pelos números, que demonstram a importância desse serviço para a população. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia, a doença renal é uma epidemia silenciosa que mata tanto quanto o trânsito e os homicídios.
São 10 milhões de brasileiros que sofrem com alguma disfunção renal. Do total, 120 mil fazem hemodiálise, tratamento que realiza a limpeza do sangue quando os rins não funcionam corretamente — 35% deles têm indicação de transplantes e aguardam em uma fila regulamentada pelo Estado para fazer o procedimento.
Segundo o nefrologista Marcos Alexandre Vieira, presidente da Pró-Rim, os pacientes necessitam fazer hemodiálise ou, posteriormente, o transplante, quando os rins param de filtrar o sangue e têm funcionamento abaixo de 10% de sua capacidade. Entre os fatores de risco principais da doença renal crônica estão a pressão alta e o diabetes. Já os sintomas tardios da doença, dentro outros, são o cansaço, inchaço dos membros inferiores, pressão não controlada adequadamente e hálito urêmico.
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— Quando diagnosticado, todo paciente com a doença é apresentado aos métodos que ele pode realizar para substituir a função dos rins. A maioria dos que ingressam não têm condições de realizar o transplante imediatamente, devido a exames de compatibilidade, avaliação multidisciplinar, lista de espera e disponibilidade de um órgão. Nesse período de espera, normalmente, o paciente é submetido a hemodiálise — afirma.
Conforme o médico, a instituição realiza de 80 a 100 transplantes por ano em parceria com o Hospital São José de Joinville e o tempo de espera pelo procedimento varia, mas leva, em média, de seis meses a dois anos. A taxa de sucesso dos transplantes no Estado ‘é semelhante aos melhores serviços do Brasil e do mundo’.
— A taxa de sobrevida é de mais de 97% para os pacientes em que o doador está vivo e superior a 90% nos pacientes em que órgão era de um doador falecido — salienta.
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Segunda Chance
Para a empresária Christina Mohr, moradora do bairro Boa Vista, a chance de começar uma nova história aconteceu no dia 14 de outubro de 2011. Ex-funcionária da Pró-Rim, ela voltou para a fundação como paciente em 2010, diagnosticada com doença renal. Foram 11 meses de hemodiálise até conseguir realizar o transplante que mudaria a sua vida.
Tendo o rim compatível com o do irmão materno, Luiz Diniz de Oliveira Neto, ele, que era obeso na época, só poderia fazer a doação à irmã caso emagrecesse 20kg. Ele cumpriu o objetivo e, de forma saudável, eliminou 26kg em pouco menos de um ano. Conforme ela, uma demonstração de amor que a proporcionou junto com a Pró-Rim uma segunda chance de viver.
— Foi um baque, mas enfrentei com garra. Tive muita ajuda da família e a Pró-Rim me deu uma segunda chance de vida, que agarrei com unhas e dentes, e tenho eles guardados no coração — revela.
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No entanto, com 1,63 de altura e 60kg, Christina conta que, na época, para aproveitar a nova fase de sua vida, ao invés de manter os cuidados com a saúde, decidiu investir nos prazeres como o chocolate e outras guloseimas. Quando se deu conta, a balança apontava 113 kg e a disposição não era a mesma.
— Parei e pensei, ‘eu não tive uma nova chance de vida para desperdiçá-la’. Comecei a estudar e fazer comidas saudáveis, passei a me alimentar de três em três horas e busquei auxílio médico. Decidi que só voltaria a comer chocolates, bolos, quando voltasse para os 60 kg — afirma.
Foram um ano e nove meses e 57 kg deixados para trás e uma nova profissão. Hoje ela vende marmitas de produtos naturais que ela mesmo faz para ajudar outras pessoas a levarem uma vida mais saudável. ‘Cada refeição dessas que eu preparo eu penso que estou salvando uma vida assim como salvei a minha’, idealiza à empresária, que ainda mantém acompanhamento a cada três meses na fundação.
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Ainda à espera
Com sangue raro, tipo AB, o tocantinense Rogério Oliveira Marinho, de 30 anos, espera há mais de um ano e meio na fila por um doador compatível. Em tratamento na unidade da Pró-Rim, em Joinville, ele realiza três sessões semanais de hemodiálise. A doença renal crônica foi descoberta quando ele tinha 26 anos, ainda no Tocantins e, desde então, ele se submete ao tratamento.
— Foi um baque de imediato porque a minha esposa estava grávida do Kallev (filho do casal) e eu tinha muitos planos, mas agora eu e minha família superamos e enfrento bem o tratamento. Até porque a hemodiálise é uma maneira de me manter vivo e, por isso, sou grato à Pró-Rim, por me ajudar, orientar e salvar vidas — agradece ele.
Segundo ele, que preside a Associação Catarinense de Pacientes Renais Crônicos, as esperanças por conseguir o transplante são grandes porque apesar de seu tipo sanguíneo ser raro, a fila de espera também é baixa.
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— Coloquei nas mãos de Deus e aceitei que tinha que fazer a hemodiálise, busquei esse tratamento sem pensar em quando vou conseguir fazer o transplante porque o amanhã não nos pertence — finaliza.