A cada seis dias, uma pessoa foi assassinada em Blumenau entre janeiro e abril deste ano. Com 18 homicídios, o número é 80% maior do que em 2015, quando no mesmo período 10 pessoas tiveram morte violenta na cidade. Os crimes contra a vida ocorridos neste ano apontam um caso a mais do que no mesmo período de 2017. O crescimento registrado no município está na contramão de dados divulgados no início de maio pela Secretaria de Segurança Pública. Eles indicam a redução de 13,98% nos assassinatos no período entre 1º de janeiro e 1º de maio de 2017 em comparação com 2018, no Estado de Santa Catarina.

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Segundo o delegado Egídio Ferrari, da Divisão de Investigação Criminal de Blumenau e que assumiu no início deste mês os casos de homicídio, ao menos 10 crimes já têm a autoria definida. Um dos casos mais emblemáticos ocorridos na cidade, completou mais de um mês e ainda não foi solucionado: o duplo homicídio de Inês do Amaral, de 57 anos, e Franciele Will, 30. Mãe e filha foram encontradas mortas em casa no dia 4 de abril, no bairro Tribess. A polícia não divulga detalhes da investigação para não interferir no processo, mas admite que a hipótese mais provável é de que o crime tenha sido cometido por alguém próximo da família.

Outro homicídio que chocou pela brutalidade foi a morte de Edson de Melo Nascimento, esquartejado e enterrado em um matagal no bairro Vorstadt. As partes do corpo do jovem foram encontradas em sacos plásticos na região da Rua Pedro Krauss Sênior no dia 31 de março. De acordo com as investigações, oito pessoas teriam relação com o crime. Destas, quatro estão presas e um adolescente de 16 anos foi apreendido. Outras três pessoas suspeitas estão foragidas, incluindo uma mulher tida pela polícia como a mandante do assassinato.

Conforme o delegado explica, a investigação indica que a vítima de 23 anos seria integrante de uma facção criminosa e teria furtado drogas do próprio grupo, por isso ele teria sido morto.

– Somente investigações quase perfeitas levam um criminoso que não foi capturado em flagrante para a prisão, e, devido a fatores estruturais, a capacidade investigativa da Polícia Civil é ato heroico de seus quadros – afirma Eugênio Moretzsohn, analista de segurança pública.

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Mortes ligadas a facções criminosas

O assassinato de Nascimento está entre os nove homicídios registrados nos primeiros quatro meses do ano que a Polícia Civil acredita haver ligação com organizações criminosas. Segundo o delegado Ferrari, ao menos duas atuam na cidade. Porém, os indícios não sugerem que os crimes tenham relação com disputas entre elas, como acontece em outras cidades do Estado.

– As mortes são dentro dos próprios grupos, por desrespeito a alguma norma dos grupos – explica Ferrari.

Em dezembro do ano passado, foi criada em Blumenau uma divisão com ênfase no combate às organizações criminosas. O foco é compreender a atuação dos grupos e então definir estratégias para prendê-los. O trabalho recente já apresenta resultados. Um exemplo citado foi a prisão em flagrante de 13 pessoas, no dia 19 de abril, por integrarem uma facção que atuaria no tráfico de drogas. Um dos apreendidos na ocasião teria ligação com o assassinato de Nascimento.

O caminho encontrado para frear o avanço dos grupos é a repressão a roubos e ao tráfico de drogas. Estes delitos são os principais crimes cometidos por integrantes desses grupos, diz Ferrari, e quando eles começam a ser presos o crime é sufocado. Ele exemplifica com operações feitas em parceria com a Polícia Militar, onde armas foram tiradas de circulação e traficantes presos. O desafio, entretanto, não passa só pela polícia. É preciso superar problemas sociais, uma legislação falha e um sistema prisional que não reabilita os detentos.

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– O que a gente consegue diminuir é identificando os principais envolvidos e colocando-os na cadeia – pontua o delegado.

Moretzsohn destaca que para reverter o cenário é necessário um trabalho conjunto, em que a sociedade tem papel fundamental. Na avaliação dele, o poder econômico das organizações criminosas cresce pelo consumo de drogas ilícitas, fonte do sustento financeiro delas.

– Enquanto não for reduzido o consumo de drogas ilícitas, não há solução fácil no horizonte – afirma o especialista.

Ele destaca iniciativas como Proerd, programa escolar de combate às drogas liderado pela PM, como aliadas nesse processo.

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– Acredito ser a mais eficiente medida, a médio e longo prazo, pois a única blindagem que protege as famílias, o emprego, as crianças e o futuro é a educação.