Desde sua primeira Copa, em 1966, quando uma Seleção caótica perdeu na Inglaterra, até a mais recente, em 2010, quando um Brasil superorganizado levou um coice da Holanda, o Professor viu vitórias e derrotas de todos os tipos. Na última edição da série de reportagens Ruy de Todas as Copas em Zero Hora, ele transforma a memória em projeção: o que será do Brasil no ano de Copa que chega?
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Estamos sempre prontos para vencer
Em junho deste ano, durante a Copa das Confederações, o grupo de Luiz Felipe foi submetido a um teste. A Seleção teve de se reorganizar, ela que parecia incompleta, insegura, indefinida. Scolari definiu com muita clareza primeiro os jogadores que queria, segundo, o modo como queria jogar. E estabeleceu um acordo com seus jogadores, algo que Felipão sabe fazer muitíssimo bem, de modo que a Seleção, hoje, encontra-se no nível máximo que podemos obter dos jogadores brasileiros.
O importante é o modelo de futebol que Felipão propôs – de marcação enérgica, de eliminação dos espaços e de velocidade constante -, que garante ao Brasil condições de cogitar uma posição destacada, quem sabe primeira nesta Copa do Mundo. Agora não mais com base no que se poderia imaginar, como foi em 1950, mas em cima de fatos concretos. Provavelmente o torcedor vai se identificar com esse ou com aquele jogador, vai exaltar um ou outro jogador, mas o que o torcedor certamente vai – já, agora – assegurar-se como um dado de sua experiência visual como espectador, é que contamos com uma Seleção compactada, uma Seleção que é um time, que tem objetivos, que tem força. Uma Seleção que deixou de lado coisas mais simples para realmente se dedicar ao essencial.
Temos defensores que sabem jogar, estamos buscando meio-campistas que armem e desarmem, atacantes capazes de atacar e defender. É uma Seleção que quebra com as velhas noções de coisas separadas, de funções estanques, ela tende a uma unidade. A qualidade coletiva da Seleção Brasileira foi a grande herança desse período sob o comando de Felipão – e tomara que seja a nossa grande arma.
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Nunca estamos prontos para a derrota
E se houver um tropeço antes da final? O brasileiro lida muito mal com o fracasso. Ele não faz do fracasso um acontecimento favorável, a desclassificação vai colocar tudo pelo chão, será uma terra arrasada. Vai se dizer que se fez de tudo, que se deu carta branca para Felipão e que nem assim a vitória veio. Vai se afirmar que o problema é outro, embora ninguém saiba muito bem qual seja este problema.
Uma Seleção Brasileira, em uma Copa do Mundo, não está em campo apenas representando o Brasil – ela é o Brasil. Por isso, o impacto de uma derrota, de uma desclassificação é muito grande. A devolução do fracasso sobre os fatos anteriores é muito pesada, e raramente se consegue tirar daquilo uma boa lição. Geralmente, se recomeça de novo, outra vez, do zero, e perdem-se passagens de tempo muito significativas. A atitude apropriada seria simples, bastaria perguntar-se: “Por que perdemos?” Mas essa é uma questão muito difícil. Se você indagar isso a um técnico multicampeão e experiente que tenha perdido uma competição, mesmo ele terá dificuldade em responder. O treinador vai atribuir a uma série de coisas que fugiram a seu controle, vai dizer que foi azar… E, se você contabilizar bem, na verdade ele está achando que estava tudo certo, que a vitória era garantida.
Temo que o infortúnio de um jogo possa determinar a queda completa de uma Seleção. A Seleção do Dunga, na Copa de 2010, estava indo bem e talvez chegasse mais longe, mas veio o segundo tempo do jogo com a Holanda… Por mais forte que seja o técnico, por mais decidido que seja, por mais comando que tenha, isso pode acontecer. Isso é próprio do futebol. O futebol é lindo por isso. Nunca se pode ter certezas.