Os 76 anos, os nove pinos na coluna – resultado de uma cirurgia realizada no ano passado – e a necessidade de se apresentar sentada em um trono não impediram que em uma hora e vinte minutos de show Elza Soares emocionasse cerca de 5 mil pessoas na noite de segunda-feira, no festival multicultural Psicodália, em Rio Negrinho, no Norte de Santa Catarina. O timbre característico de uma das maiores cantoras brasileiras fez o público sambar ao som de uma seleção especial de músicas do último álbum, A Mulher do Fim do Mundo, o primeiro de inéditas em cinco décadas de carreira, e eleito pela Rolling Stone o melhor de 2015.

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Com a ajuda de dois homens de sua equipe, a artista chegou caminhando devagarinho. Foi posicionada no centro do palco com 15 minutos de atraso – compreendidos com ansiedade pela plateia, cujos gritos alternavam entre “rainha”, “diva”, “musa” e, claro “mulher do fim do mundo”. Devidamente acomodada, maquiada, com os cabelos roxos armados e usando um vestido preto de couro com mais de o dobro de seu tamanho, chamou a banda para rezar ao seu redor.

A música que dá nome ao álbum foi a escolhida para abrir a apresentação em Santa Catarina. Do disco novo, também cantou na sequência O Canal eLuz Vermelha. Intercalou com o clássico A Carne, acrescentando:

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“A carne mais barata do mercado não é mais a negra. Agora ela é mais cara”

Dança foi a última antes do retorno às principais do álbum novo. Com a participação de Rodrigo Campos, os acordes de Firmeza embalaram o público, que dançava sem parar. Os graves também lembraram da diversidade de estilos presente na última produção.

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Música produzida por Guilherme Kastrup especialmente para Elza, Pra Fuder incendiou a apresentação com a letra que descreve cenas de sexo. A cumplicidade entre a cantora e o produtor ficou evidente quando ela perdeu pela primeira e única vez o ritmo em um trecho de Comigo. Antes mesmo de se virar para ele, que também é baterista, Kaká, como ela o chama, já acenava a cabeça como quem diz: segue em frente. Ela seguiu e cantou Sacode a Poeira.

Na metade do show foi a vez de entoar Maria da Vila Matilde, música que incentiva as mulheres a denunciarem a violência doméstica. A performance quase teatral em Benedita, que retrata a realidade das travestis no Brasil, foi um dos pontos altos da noite.

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A repetição de Maria da Vila Matilde veio no final do show, com direito a coro do público: “Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim”. A canção foi eleita a melhor do ano também pela Rolling Stone. A plateia percebeu a qualidade e queria mais. Mas já era o fim de um dos melhores shows do Psicodália, que termina nesta terça-feira.

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